O mundo pode ter solução

Cunha e Silva Filho


                            Se olho para o panorama internacional, mais realidades vejo  que desafiam a nossa perplexidade muito além dos limites dos absurdos:
1) Revoltas justas no mundo árabe, onde povos, que vêm sofrendo há décadas opressões de todos os tipos - falta de liberdade de pensamento, de dirigir suas vidas, matanças de civis rebelados contra déspotas sanguinários e genocidas,  se arvoram em donos eternos do poder, do destino de seus povos e das regalias faraônicas de suas funções de mando;
2) Povos africanos, alguns vivendo como animais ferozes, se trucidando em revoluções fratricidas;
3) Na Somália – piedade para a Somália! – outra região africana, vejo criancinhas, só pele e osso, morrendo de fome e praticamente entregues à própria sorte;
4) Em outros países, no continente europeu, os ditos mais civilizados, os mais ricos, se defrontam com graves problemas econômicos provocados por más administrações, gastos galopantes dos governos com a máquina do Estado e ganâncias de minorias milionárias sedentas de mais lucros em investimentos nas Bolsas de Valores. Mesmo vendo tantos erros de natureza econômica cometidos no passado, sobretudo a partir da do período angustiante da Gande Depressão americana do final dos anos de 1920, com a queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque, não aprenderam os governos e os homens de negócios quase nada no tocante a prevenções de crises financeiras agudas. Com tantas teorias econômicas e algumas sendo contempladas com o Prêmio Nobel concedido a seus teóricos, o mundo parece ter perdido o juízo, o senso do equilíbrio, e dado as costas para um enfrentamento árduo e apropriado às mudanças dos tempos modernos e pós-modernos com o surgimento da globalização e formação do Mercado Comum Europeu e sua implantação de uma moeda igual, o euro.
4) A expansão de atos terroristas que, agora, alcançaram até um país que tem sido reputado uma nação tranqüila e bem organizada – a Noruega - -, onde um só terrorista, possivelmente um desequilibrado e com ideias extremistas sobre etnias, imigração e credos religiosos, consegue assassinar perto de uma centena de pessoas inocentes e desprotegidas, além de dirigir sua insânia e barbárie contra órgãos públicos.
                        Mencionei, para não me alongar, uma pequena parte de um mundo contemporâneo que parece ter perdido o rumo em vários aspectos da vida.
                       Não se pode negar que estamos atravessando uma série de crises que poderiam bem reduzir-se a um denominador comum: a humanidade falece de uma das mais profundas crises já vistas: a moral.
                      Não é preciso ser sociólogo, antropólogo, filósofo ou pensador para entender que a raiz de todas as crises se localiza na carência da moralidade das sociedades tanto desenvolvidas quanto em desenvolvimento ou mesmo atrasadas. Porém, paradoxalmente, nessas três situações, todas elas, em graus diferentes, convivem com os males da permissividade, da dissolução dos costumes e de hábitos primitivos, injustos e lesivos à integridade física e moral das pessoas, num laissez-faire de práticas de vida que não têm o mínimo escrúpulo de ampliar seu raio de comportamento social deletério mesmo em países mais estruturados e cercados de interditos, controles e vigilância em formas de leis, portarias, códigos civis e penais vigentes.
                    Isso porque, em geral, há um agravante escandaloso: grassa na sociedade, como é exemplo típico a brasileira, e em todos os seus segmentos sociais, um descaso pela possibilidade de haver punição a infratores. Ou seja, o homem de bem, a pessoa digna e responsável pelos seus atos se vão tornando raridade no seio da vida social. Quem tenha tido no passado a imaginação de prever que, com o desenvolvimento das ciências e da tecnologia, haveríamos de conhecer, em tempos atuais, uma comunidade mundial a salvo de tantos comportamentos perniciosos, sobretudo representados por um dos piores, a violência, deve, agora, em vida ou no além-túmulo, ter-se sentido desapontado com as suas projeções falhadas.
                  Custa-me crer que tão espantoso progresso material não tenha tido correspondente progresso moral.
                 Costuma-se afirmar ser o Brasil o país que detém o recorde de ter as mais altas taxas de juros do Planeta e, por extensão dessa assertiva, posso, sem medo de errar, dizer que talvez a nossa pátria seja – em tempos atuais – a que detenha um dos mais elevados índices de criminalidade e de comportamento indecoroso na política e no exercício das funções públicas em diversos setores do Estado brasileiro.
                 Alguém poderá argumentar: “Mas, isso não é de hoje.” Até concordo em parte. Entretanto, as circunstâncias de agora me levam a inferir que não estou faltando com a verdade.
Veja-se, neste ainda começo do mandato da Presidente Dilma Rousseff. No Ministério dos Transportes já houve mais de uma dezena de funcionários do alto escalão que pediram demissão ou foram exonerados dos seus cargos, a começar do próprio Ministro. Todos envolvidos ate à medula em práticas delituosas contra as finanças públicas.
                Esta realidade melancólica e constrangedora por que está passando o país e, por extensão, o mundo afundado que está em outras formas de imoralidade, tem que ser mudada para melhor, do contrário, resvalará para o caos . E isso ninguém desejapara o nosso país nem para o mundo.
              De braços cruzados , é que não se pode ficar. Há que vislumbrar, conquanto seja em médio prazo, saídas para os impasses dolorosos que nos impuseram governos e grupos inescrupulosos. Vejo que uma das saídas para contornar o conturbado mundo contemporâneo seja pela via mais correta e e sólida que devemos recorrer: levar educação e formação ética ao nosso país e ao mundo. 
              Quando falo “levar” e “mundo,” me refiro a ações humanas efetivas e organizadas em escala global através dos já conhecidos organismos internacionais de que dispomos, de sorte que eles, esquecendo diferenças políticas, econômicas, ideológicas e religiosas, se voltem para dotar as novas gerações de instrumentos educacionais e de conscientização para a importância capital de didaticamente instilar nas mentes das crianças e adolescentes os princípios saudáveis da dignidade humana e do espírito de abertura para as alteridades e respeito à pessoa humana. 
             Ao realizar estas metas educativas, é bem possível que teremos adultos que, inoculados, desde cedo, contra comportamentos moralmente reprováveis, serão seguramente indivíduos íntegros e úteis à sociedade ainda, até hoje, infelizmente, não de todo civilizada. Este seria o primeiro passo em direção a um Brasil respeitado e a um mundo mais justo e harmonioso.