“Sinite parvulos venire ad me”.

CUNHA ESILVA FILHO

        De um só vez, num só dia, as notícias nos pegam de supetão. Uma significando o protesto universal de crianças e adolescentes clamando, com gritos, palavras de ordem, cartais em vários idiomas, semblantes amargurados ou mesmo carrancudos contra adultos responsáveis, em cada país dito civilizado (que contrassenso!) por maldades que elas, as crianças, eles, os adolescentes, não provocaram: os incêndios nas florestas, ou as queimadas assassinas, as quais, ameaçadoras, parecer crestar a Natureza-Mãe na Amazônia, a Hileia Brasileira, ou outras regiões brasileiras onde se queima para produzir riqueza para poucos e mil desgraças para milhões.

        Em outras partes, países que continuam poluindo os céus de suas pátrias e o planeta que é de todos, este sim patrimônio da Humanidade.Os níveis de poluição por CO2 aumentando o efeito estufa, embora já considerado por alguns países como o vilão maior, não tem recebido o tratamento eficaz, em escala mundial, porque os países consignatários de acordos mundiais enfrentam outros países, as chamadas grandes potências que, para não perderem profits, shares, investments na base do Time is money, não abrem mão dos seus objetivos insanos da produção que não pode diminuir, mas só crescer, crescer. Crescer, como se a felicidade mundial se resumisse na multiplicidade dos miliardários americanos, chineses etc.
        Cientistas há até que são contra a ideia de que o efeito estufa não tem origem no aumento gigantesco, descomunal dos poluentes lançados diariamente na atmosfera terrestre, de que o crescente degelo das regiões polares é algo que sempre existiu há milhões de anos e de que a Natureza tudo pode reequilibrar com o tempo. Ora, se cientistas discordam nessa questão crucial, o problema torna-se mais complexo e tende a provocar mais desastres na Terra: aumento perigoso do nível dos mares e dos oceanos, inundações   em toda parte, temperaturas altíssimas nunca  registradas antes,    tsunamis, maremotos etc. Da mesma forma, que as escavações sem termo em terrenos antes florestados, que vão ser utilizados para exploração de riquezas minerais de toda espécie.
        Ora, essa escavação ou cavouco sem limites só vai prejudicar tragédias humanas com o exemplo emblemático de Brumadinho no estado de Minas Gerais, poluindo e matando nossos rios, riachos, córregos, com rejeitos letais à água potável e à vida animal dos rios e, o que é mais gravem destruindo cidades, acabando como comércio local e levando à falência e ao desespero as famílias dos locais afetados pelo tsunamis de lama mortífera.
       Se os homens adultos, líderes responsáveis pelo integridade física e ambiental dos territórios que formam as nações não pensam como adulto, essa crianças, com seu poliglotismo de gritos, palavras de ordem em manifestações pacíficas se comportam assim, é um sinal evidente. um aviso premonitório de que estão sendo mais sensíveis e humanas. mais civilizadas, mais amadurecidas, mais líderes do que nós adultos poluídos em nossas mentes e dando atestado a nós mesmos de quanto irresponsáveis estamos sendo diante dos sinais da Natureza enraivecida contra governos, em escala planetária, que não se deram conta de que, na mente e na ética essas crianças revoltadas contra adultos insensatos e destruidores do equilíbrio do Planeta.
       Outro massacre contra a Natureza é o ato de insensatez, incompetência, estupidez de que foi vítima essa menina linda chamada Ágatha, uma criança a mais nessa trágica estatística de mortes de inocentes, vítima dessa guerra intestina entre policiais e traficantes. Isso na versão da Polícia Militar. Todavia, há versões e versões e um das versões que me parece a verdadeira, insofismavelmente verdadeira, é a do grito de protesto, de indignação, de desespero, de tristeza, de impotência, do choro interno e abissal que entrecortava o coração desse avó sem voz que o defenda da sua dor inominável, desse desabafo de um avô diante da morte de Ágatha por bala perdida.
      Ora, bala perdida já se tornou uma segunda natureza de abates de policiais contra alvos que nada indicavam ali dentro do veículo estar uma linda menina de oito anos a caminho, numa Kombi, para a sua aulinha de ballet. No semblante triste doloroso de tristeza profunda da professora de ballet daquela criança morta – mais um símbolo da insânia dos homens e da injustiça do poder contra a pobreza. Um tiro bastou par ceifar a esperança malograda e a alegria de um avô que, sem medo de nada, nem de supostas autoridades armadas ou coisa que o valha gritou, aos quatro ventos, através de telas de TV, que a sua netinha inocente foi assassinada. Que não havia nem confronto no momento em que a pequenina Ágatha passava na Kombi.
        Mais uma vez - e são tantas essas mortes covardes semelhantes - se comprova a incompetência de nossas forças públicas estaduais (Betinho, o grande sociólogo, já há muito tempo avisava que, no país, precisava haver uma nova Polícia com mentalidade diferente, alto preparo, seleção excelente, boa remuneração e sobretudo ser amada pela população) diante do despreparo de ausência de comportamento disciplinar e cauteloso exigidos dos policiais em defesa de possíveis alvos inocentes. Mais uma vez, escrevo, entre tantos artigos que escrevi, alguns em inglês versando o mesmo assunto – a violência no Brasil - problema nº 1 nosso país.
      Para finalizar, há muitos anos eu esbocei escrever uma história em que crianças do mundo inteiro fizessem um acordo com os adultos por um tempo determinado. Esse acordo seria um troca de lugares nas lideranças dos governos das nações.
     Durante o novo governo mundial só constituído por crianças as principais causas dos problemas gravíssimos, à frente dos quais os bélicos, a corrida armamentista, os problemas das injustiças e desigualdades sociais, a violência entre os homens, os conflitos religiosos o meio ambiente, a divisão da riqueza de forma mais equilibrada, o desenvolvimento do progresso científico e tecnológico, a fome das nações paupérrimas, a descoberta da cura das doenças mais insidiosas (como o câncer, por exemplo), a educação integral (naquele sentido formulado pelo velho educador português Mário Gonçalves Viana) e de alta qualidade para toda a comunidade mundial, professores bem remunerados, os três Poderes de Montesquieu (1689-1755) funcionado com isenção e ética. Ou seja, um governo mundial sob a égide da Justiça. Como veem, uma nova Utopia-mirim inspirada em Thomas Morus.(1478-1535)
       Uma vez que nós adultos nos comportamos tão mal e imprevistamente (de onde menos se espera lá vem mais um homem aparentemente acima de qualquer suspeita cometendo um ato venal gravíssimo contra a própria Justiça da qual é membro) para o lado da maldade, da estupidez e da desídia, por que não se pensar em adaptar essa visão infantil em troca da visão secularmente fracassada dos adultos?