{Maria do Rosário Pedreira]

 Vivemos num tempo em que as técnicas para fazer vender seja o que for são essenciais ao sucesso de qualquer marca ou produto. E não minto se disser que às vezes me ponho a pensar que, com capacidade inventiva e dinheiro, podemos realmente vender tudo o que quisermos e a toda a gente. Em relação aos livros, há, de resto, o exemplo de uma campanha exemplar, que deu frutos claros e pôs o autor nos píncaros (ou, melhor, nos Top). Falo de Bolaño e do êxito de vendas dos seus romances em Portugal, mesmo tendo em conta que o facto de o escritor ter morrido prematuramente constituiu um escândalo a que o público um pouco mórbido não foi completamente imune. No entanto, quando li Os Detectives Selvagens, não podia adivinhar que a obra deste autor se tornaria uma autêntica marca de sucesso. Achei que se tratava de um livro para leitores já rodados, com uma cultura literária respeitável e experiência suficiente para acompanhar uma obra requintada mas densa, na qual até o humor é incomum e encontrei (perdoem-me a sinceridade) algumas páginas bem aborrecidas. E, pelos vistos, a campanha foi tão bem pensada e posta em prática à saída do monumental 2666 que atraiu um número de leitores impensável, leitores que fizeram de Bolaño um verdadeiro autor de culto também em Portugal. Às vezes, há que tirar o chapéu aos marketeers...