O Brasil não registra terremotos no sentido que os cientistas dão para este termo. Registram-se tremores de terra. Terremotos teve foi Lisboa em 1755 espatifando a parte velha dessa cidade, e países da Ásia, como o Japão. Da mesma forma, não conhecemos – graças a Deus – tsunamis – desses que devastaram impiedosamente regiões inteiras asiáticas.
                   Há qualquer coisa no tempo atmosférico que não anda direito, e vejo como causa maior o efeito estufa, provocando o aquecimento de nosso planeta e o conseqüente derretimento das regiões polares. As geleiras estão já dando o sinal de alarme. Alguns blocos gigantescos estão se separando de suas origens, oferecendo sérios perigos à navegação. Os oceanos, pouco a pouco, se avolumam e se inquietam. A evaporação das águas oceânicas, com o calor excessivo da Terra, concentram maior quantidade d’água. O clima se modifica, perde a antiga configuração das estações estáveis,  que obedeciam  aos ciclos normais da passagem de uma estação a outra. Num país como o nosso, situado a zona tropical, é cada vez mais difícil precisar-se meteorologicamente em que estação estamos. E falo isso como leigo no assunto.
                 Lembro-me de que, quando vim para o Rio de Janeiro, a cidade era mais fria nos meses de maio, junho, julho e até agosto. Entretanto, houve sempre muita chuva, ou como se dizia antigamente, chovia a cântaros. Por exemplo, noto que hoje, neste ano, pelo menos, tem havido mais dias frios ao longo do ano. O clima, na realidade, tem mudado mesmo.

              Também no país sempre houve inundações, mas francamente as de agora são mais potentes e causam mais estragos. As águas se me parecem mais bravas, mais violentas e rebeldes, fazendo estragos mais danosos, sobretudo para as populações mais pobres, que vivem à beira de rios ou riachos e junto de ribanceiras. Ora, o solo encharcado de água da chuvas pesadas cede e o resultado são os deslizamentos de terra, ceifando vítimas inocentes, como criancinhas indefesas, velhos e novos Aquela massa de terra molhada vai se espraiando morro abaixo derrubando tudo, casas, prédios, plantas, animais e gente, encobrindo todos e tudo, como se fosse lavas de vulcão, deixando, para trás terror e flagelo.
           Á água é vida, mas, fora de medidas, vira tragédia como essa que inundou o Vale do Itajaí e cidades de Santa Catarina, em especial Blumenau, com um saldo de mortos que se contam à dezenas. É uma tragédia brasileira. com perdas em vidas e em bemns  que se equiparam a desastres causados por terremotos.
          As enchentes são tão destruidoras que desmantelam as estruturas físicas, econômicas, sócias e familiares das regiões atingidas. Parecem cidades atingidas por bombas em guerras. Todos perdem tudo, principalmente os menos favorecidos. Ora, ninguém quer perder o que plantou, o que colheu em anos de trabalho e esforço. Bens materiais são dizimados, negócios acabam, empregos se perdem, no campo, na cidade. O sentimento dos sobreviventes é de orfandade. Tudo é açoitado pelas águas assassinas que não têm clemência com nós mortais. 
           Os rios são bons e benfazejos, sempre, pois nos dão a vida. A chuva, idem. Mas, tudo na medida do justo e do normal. O mal é o excesso. Quando chuvas torrenciais que seriam distribuídas sobre a terra durante um mês acontecem num só dia ou dois, o resultado é a tragédia. São casos típicos dessa tragédia o que ocorreu em New Orleans, nos Estados Unidos. O exemplo em Santa Catarina também de certa forma chega quase a se aproximar daquele desastre d’água catarinense.
          Os seres humanos somos como o mito de Sísifo, quer dizer, somos seres destinados a recomeçar tudo do nada se quisermos ser sobreviventes da frágil condição humana. Estamos fadados às intempéries, aos chamados acts of Gods, fenômenos naturais inescapáveis ao fatum humano. Todavia, o que nos consola é a possibilidade inalterável de levarmos adiante e superar os humores da Mãe Natureza.