O humor bizarro de Roger Corman: "O corvo"
Por Miguel Carqueija Em: 25/10/2013, às 16H11
Uma obra-prima do filme de "terrir" completa 50 anos
O HUMOR BIZARRO DE ROGER CORMAN: O CORVO (THE RAVEN)
Miguel Carqueija
Este admirável filme do cineasta norte-americano Roger Corman (que assina a produção e a direção) está completando 50 anos e é um exemplo típico de “terrir”, ou seja, terror cômico. Beneficia-se de um grande elenco de astros do horror: Boris Karloff, Peter Lorre, Vincent Price, Hazel Court e, no início de carreira, quase irreconhecível de tão jovem, Jack Nicholson, que 17 anos depois iria estrelar o clássico sinistro de Stanley Kubrick, “O iluminado” (The shining).
“O corvo” foi o primeiro filme de Corman que eu assisti e, de tão bom, despertou meu interesse por este cineasta que ficou conhecido como o “Rei do cinema B”, ou seja, de baixo orçamento.
Na década de 1960 Corman notabilizou-se por um ciclo de fitas baseadas na obra de Edgar Allan Poe (1898-1849), que já foi chamado “o gênio isolado da literatura norte-americana”. “The raven” foi o quinto de oito títulos, produzidos pela American International de James H. Nicholson e Samuel Z. Arkoff, que respondiam pela produção executiva.
O poema clássico de Poe, na verdade, responde apenas por alguns detalhes do filme, cujo roteiro do escritor Richard Matheson (autor de “Eu sou a lenda”) desenvolve uma trama deliciosa envolvendo bruxos na Inglaterra medieval. O Dr. Erasmus Craven (Vincent Price), que vive amargurado pela morte da esposa, Lenora (Hazel Court), é visitado à noite pelo bizarro Dr. Bedlo (Peter Lorre), porém em forma de corvo. Bedlo pede a Erasmus que o ajude a voltar à forma humana e a se desforrar de Scarabus (Boris Karloff), terrível bruxo que o enfeitiçou. Cravem não quer se meter no assunto mas termina se decidindo a ir até o sinistro castelo de Scarabus ao suspeitar que Lenora, supostamente morta, na verdade lá se encontra.
A trama segue com um humor delicioso e sequências muito bem montadas, além de um enredo que prende a atenção do princípio ao fim. As cenas em que Erasmus Craven esbarra no telescópio, ou se assusta com a chegada da filha, ou é interpelado pelo cadáver do pai, são muito engraçadas e bem servidas pela mascara histriônica de Vincent Price. Peter Lorre também está impagável na pele de um bruxo beberrão, desleixado, ambíguo e fanfarrão. Boris Karloff, no papel do vilão presumido, adéqua-se bem. Jack Nicholson, como Rexford, o filho de Bedlo, tem o seu bom momento quando é possuído pela magia negra de Scarabus.
No papel de Estelle, a filha do Dr. Craven, atua Olive Sturgess, com interpretação discreta e eficiente.
Na direção de arte está Daniel Haller, auxiliar habitual de Roger Corman e que chegou a dirigir alguns filmes. A musica, excelente, é do conhecido Les Baxter, e a fotografia, também muito boa, de Floyd Crosby.
“O corvo” é um filme perfeito, que flui como uma comedia excêntrica e divertidíssima, que bem demonstra o talento genial do cineasta Corman, que assina outras obras-primas baseadas em Poe, como “The haunted palace” (O castelo assombrado) e “Tomb of Ligeia” (O túmulo de Ligéia).
Rio de Janeiro, 21 de setembro a 20 de outubro de 2013.