O gato

O gato

Clarisse de Oliveira

Havia um gato preto e branco sobre o muro.

O gato havia escapado de um ou mais cubos espirituais
que formam o Universo Imediato, cubos mais materiais
e às vezes mais espirituais e que se transformam
sem cessar na existencia da vida e que escapam à
nossa percepção;
isso havia acontecido com o gato, pois, por uma dis-
tração, os Genios Fazedores do Universo, deixaram
escapar alguns complementos que se perfizeram
no Complemento-Gato.

Uma mulher de olhar penetrante - com a visão apoia-
da nas mutações felinas, se refez na contemplação do
gato.

O animal miou, sentindo o olhar humano endereçado
a ele - depois, estirou seu corpo numa graciosa curva
e começou a esfolar o muro com as garras abertas.
Em seguida, pulou no chão.

A mulher se agachou e começou a acariciar o gato,
percorrendo com sua mão pequena e macia o lombo
de pelos quase imateriais.

Não sentindo agressividade, tomou o felino nos
braços e com ele, entrou em sua casa - bela,
arrumada, fria e sem alma.

Sentou-se no sofá com o gato ao lado, ronronando
junto à sua coxa - única vida para seu olhar
penetrante, que nem assim se deu conta de que
ainda não existia amor.