(capa do JB no dia da promulgação do AI-5 em dezembro de 68)

 
Entre 1983 e 1986 trabalhei no "Jornal do Brasil". Foi o lugar onde mais aprendi em minha carreira. Naquela época ainda era o melhor jornal do país fosse pela credibilidade que exalava fosse pelos bons textos que publicava. Éramos praticamente obrigados a escrever direito. Havia um cuidado especial com isso. Zelo pelo texto claro, ordenado, bem direcionado. Fiz reportagens sobre todos os assuntos até que passei a me dedicar exclusivamenteàs reportagens do Caderno B em  São Paulo na época em que os editores foram Zózimo, Flávio Pinheiro e Zuenir Ventura. Pelo "Jornal do Brasil" me orgulho de ter tomado parte da equipe que cobriu com rara competência e agonia e morte do ex-presidente Tancredo Neves e se aqui fosse narrar cada boa memória que tenho desse período incomodaria meus amados leiotores.
 
Tudo isso me vem a mente quando hoje ,ao abrir o computador, dou de cara com a notícia de que circula no país a última edição impressa do "Jornal do Brasil". Apesar dele continuar na versão exclusivamente  digital  todo a simbologia que acompanha seu fim físico é carregada de significados pra mim e muita gente que passou pelo finado JB. Os controladores do jornal garant eque ele será bacana,eficiente e que a versão digital
 
 
nada ficará a dever ao que já foi a edição fisica. Também dizem que acabam com a versão tradicional para seguir a onda ecologicamente correta de economizar papel. Tá bom. Me engana que eu gosto. Fato é que mesmo na versão digital como na agonizante versão fisica o JB há muito tempo não era nem sombra do que foi. E é só dar uma espiada na tal versão on line pra ver que  deixa muitissimo a desejar.
 
Mesmo assim ainda é provável que eu venha a ter ainda um sonho recorrente. De que ainda adentro àquela redação da sucursal do JB paulista ( que ficava na avenida Paulista) em meio a máquinas de escrever, laudas, folhas de carbono e garrafas térmicas com café doce e num ambiente de total coleguismo e quase nenhuma competição aprenda, todos os dias, o que é ser jornalista de fato.Um profissional que narra e mostra a notícia e não a protagoniza . Mas essa é outra discussão.Não estou mesmo em busca do tempo perdido.Apenas lamentando o tempo que passou onde o sonho do bom jornalismo não havia naufragado.

Ricardo Soares  é diretor de programas e documentários. Jornalista, escritor e roteirista. Escreveu e apresentou para TV CULTURA, SESCTV, GNT, Bandeirantes, CNT/GAZETA, TVBRASIL, MANCHETE. Foi um dos criadores do programa METRÓPOLIS da Tv Cultura do qual foi o primeiro apresentador e repórter do Caderno B do JB.