(Miguel Carqueija)

Vamos tentar colocar os pingos nos is:

O FILME É "DA DISNEY" OU "DO DISNEY"/

Nas última décadas uma estranha convenção da mídia forçou caminho e se impôs silenciosamente, diante do pouco discernimento das pessoas. É a expressão “a Disney” usada indiscriminadamente. Clássicos antigos, como “Bambi”, “Dumbo”, “Vinte mil léguas submarinas”, “Branca de neve e os sete anões”, “A lenda do cavaleiro sem cabeça”, “Cinderela” etc. passaram a ser “produções da Disney”, “animações da Disney”.
     Ora, esses filmes foram feitos por Walt Disney, falecido em 15 de dezembro de 1966, um ser humano como nós, de carne e osso, aliás, sua figura é familiar até os dias de hoje. Ele era frequentemente visto em centenas de episódios do seriado de tv “Disneylandia”, uma coqueluche da televisão.
     Até onde eu lembro, antes da década de 90 não se usava falar “a Disney”. Os filmes eram ou de Walt Disney, ou dos sucessores de Walt Disney, ou dos Estúdios Disney, ou dos Estúdios de Walt Disney.
     Essa mania resulta em fazer olvidar que Walt Disney era o autor de tantas produções – mais de 700, no mínimo – realizadas desde os anos 20 até os anos 60. São de Walt Disney todas as produções disneyanas até 1966, e algumas até 1970, tratando-se de fitas em produção completadas e editadas postumamente (“Aristogatas” é de 1970).
     Posteriormente foram efetuados alguns planos deixados por WD, mas aí a sua influência pessoal já é bem mais diluída. Exemplos: “A pequena sereia” (1989) e “A bela e a fera” (1991), sob a supervisão de Jeffrey Katzemberg. Além disso, produziram-se coletãneas e documentários em torno de sua vida e obra. Como exemplos, “The Mickey Mouse aniversary show”, de 1968, “O jubileu de aniversário de Mickey”, de 1978, e o extraordinário documeno “Walt: o homem por trás do mito”, de 2001. Este último, na verdade, foi produzido pela família de WD e apresenta imagens raras de Walt Disney em várias fases de sua vida – desde bem jovem até pouco antes da morte, já bem abatido – de sua esposa Lilian, do irmão Roy, do genro Ron Miller (também produtor dos Estúdios Disney). De Ray Bradbury etc. além de imagens raras de filmes como a série “Alice”, da década de 20.
     Ainda não acabou o baú de Walt. Entre os projetos que ele deixou e que ainda dependem do futuro, podemos mencionar “A canção de Hiawhata”, que seria uma animação de longa-metragem adaptando o poema de Longfellow. Disney apenas produziu um filme curto, e o indiozinho estrelou muitas HQ’s das décadas de 50 e 60. Outro projeto deixado foi “Don Quixote”, de Cervantes. E parece que, se o cineasta não houvesse morrido, teria sido filmada a continuação do mega-sucesso “Mary Poppins”, já que P.L. Travers escreveu sete livros sobre a fada-governanta.
     Apesar desse cacoete da mídia, que hoje tranquilamente denuncio, o nome de Walt Disney, um dos homens mais amados do século XX e um dos benfeitores da humanidade, será sempre lembrado.