Existem aqueles que, debruçados sobre tratados e estudos empíricos, artísticos ou científicos de sábios do passado, passando por bibliografia de cientistas contemporâneos e bebendo do saber de professores e mestres com quem convivem durante longos anos, às vezes, diuturnamente, em salas de aula, nos laboratórios, nos plantões hospitalares ou por meio de palestras, dedicam o melhor de seus dias e o maior de seus esforços tentando aprender a arte de curar. Muitos, graças ao sucesso que alcançam, ganham o direito de serem chamados médicos, habilitados em Medicina.
     Aos verdadeiramente bons, entretanto, essa habilitação não basta: eles sabem que muito ainda há por fazer. Têm consciência de que todo o aprendizado não lhes dá discernimento ou capacidade, sequer, de curar males conhecidos ou sobre os quais já existam diagnósticos ou tratamentos específicos. Desde que o homem surgiu sobre a terra vem procurando remédios ou linimentos contra ferimentos e doenças do corpo e do espírito. Conseguiu para alguns, mas não para todos; mesmo porque o tempo que lhe possibilitou descobrir a cura para certas enfermidades, foi o mesmo que ensejou o surgimento de muitas outras. É a dinâmica da vida. É a natureza escolhendo e selecionando os que deverão sobreviver.
     Pode-se dizer que a medicina é uma valiosa aliada nessa empreitada da natureza, talvez seja sua grande medianeira, uma vez que tem ela como objetivo a responsabilidade de nos fazer mais fortes e saudáveis e, portanto, prontos para darmos continuidade aos projetos que a Criação tem reservado para cada um de nós. Logo, nobre é a missão dos que cuidam para que moléstias conhecidas ou não, que vitimam o ser humano, sejam identificadas, diagnosticadas, tratadas e curadas. Não obstante isso, precisam estar vigilantes, pois diversas doenças e enfermidades, além de oportunistas, se metamorfoseiam, mimetizam-se, camuflam-se, disfarçam-se e, por conseguinte, não perdoam qualquer desatenção.
     Mas não se encerram nessa condição de aliada ou discípula da natureza as finalidades ou responsabilidades da medicina e, por extensão, de todos que a praticam. O fazer médico consiste, também e, muitas vezes, em ouvir, dar conselhos, em prescrever tratamentos lúdicos, medicamentos menos alopáticos para os males que nos afligem. A experiência fá-los-á compreender que nem sempre os fármacos são a panaceia da ciência médica; casos haverá em que outras práticas ou alternativas podem ser tão ou mais importantes que aqueles na busca pela melhor qualidade de vida.
     Reflitamos um pouco mais sobre o ofício médico. A sociedade espera de todos que abraçam a medicina uma prática médica atualizada e condizente com as maiores exigências do indivíduo, o que já deixa antever quão vasto é o leque de possibilidades. Precisam, porém, esses estudiosos, enquanto profissionais, estar conscientes de que não são deuses, que têm limites e estes não podem extrapolar o alcance de suas mãos ou o dos equipamentos e tecnologias que elas possam criar, aperfeiçoar ou utilizar no exercício artístico-científico de curar. Podem dar por cumprido seu mister quando, olhando para trás, virem como não feito o que não foi possível fazer.
     A respeito de esse fazer humano, Antonio Murri, artista italiano do século XX, disse: se puderes curar, cura; se não puderes curar, alivia; se não puderes aliviar, consola. E Marco Túlio Cícero, filósofo romano: a medicina não deixa de existir pelo fato de alguns doentes não recobrarem a saúde.
     De fato, não são deuses os que praticam a medicina com a finalidade de curar ou mitigar nossos males, mas não resta duvida de que o trabalho que exercem, senão sublime, é admirável.
     Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal e escritor piauiense ([email protected])