Cunha e Silva Filho


                     Li, num Portal de escritores conhecidos e desconhecidos ou pouco conhecidos, mais desconhecidos do que conhecidos, um texto de um deles que tem um título inusitado ”Odeio o povo brasileiro”. Achei estranho um brasileiro, radicado na Suíça, afirmar isso. Estranho porque me parece impatriótico, ou que o autor esteja delirando como um personagem alienado de Machado de Assis (1839-1908). Lendo, todavia, o conteúdo da matéria, passo a ter outra visão do autor. Por quê? - me indagará um leitor. Porque o que ele afirma no artigo, descontando certas generalizações, são verdades de um auto-exilado ou de um emigrante que para aquele país viajou ainda adolescente e de lá tem o distanciamento necessáro de ver diferente o que na verdade era/é seu país.Qualquer pessoa, isenta de parti-pris, ou de miopia natural daqueles que foram anestesiados com o veneno cego de uma dada ideologia, há de concordar com ele, guardados, segundo atrás acentuei, os excessos de generalizações. 
                 O articulista em questão não odeia o país fisicamente considerado, mas as mazelas morais que estão aí para qualquer indivíduo medianamente informado e que tenha algum bom senso verificar, constatar e tirar suas conclusões da vida político-social-cultural-brasileira pejada, com se sabe, de mistificações, de maquiavelismos de toda a sorte.
                O objetivo de todo partido político de feição autoritária é provocar ambivalências de ideias, causar dúvidas e incertezas de fatos e ideias entre a população. E isso ocorre mais com os regimes de força de vários tamanhos e colorações, nacionais e internacionais. A China é um exemplo disso. Cuba, Venezuela, Coreia do Norte, Rússia, parte do mundo árabe onde domina ainda a autocracia e as ditaduras, como a Síria e outros países, incluindo alguns da África.
              Ou seja, o Brasil, nas duas últimas décadas, tem se comportado politicamente assim, na base de gerar formas de informações ambíguas, contrapostas, contraditórias. Seu objetivo é confundir as mentes ingênuas ou facilmente impressionáveis, onde a falácia passa a ter uma axiologia de conteúdo verdadeiro.  Para isso, com a ajuda de parte da mídia vendida e sem personalidade, algumas verdades são artificialmente construídas, fabricadas para darem a ilusão de uma realidade postiça, camaleônica adrede montada pelos meios de comunicação que se vendem ao poder de plantão e instilam subliminarmente na população ignorante ou mesmo não ignorante, mas sem caráter, e cúmplice das maquinações do poder travestido de democracia e de um propalado desenvolvimento conseguido - sabe Deus como - e em que laboratórios de engenharia a serviço da manipulação das consciências fracas e facilmente moldáveis, sobretudo se aproveitando da secular ignorância do povo brasileiro.       

           Para conhecer a natureza política e social do brasileiro, leiam Lima Barreto (1881-1922), em vez de alguns cientistas políticos de leitura cifrada ou escrita para os privilegiados intelectualmente.
         Estou sentindo falta agora mesmo dos artigos destemidos e admiráveis de Fausto Wolff (1940-2008) quando revirava de ponta cabeça os arraiais do governo Lula e de todas as falcatruas que, pelo menos nos últimos vinte anos (inclusive parte do governo de FHC) e sobretudo da era Lula que ainda se arrasta pelos costados doloridos do país.
          Não me entra na cabeça por que homens inteligentes ainda se lançam em defesa de quem cometeu crimes financeiros já sobejamente conhecidos de toda as pessoas que pensam no bem do país e num país livre de tantas mentiras camufladas de “verdades.” Agora, entendo por que Nero, Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, Idi Amin, Stálin, Pinochet, entre outros, tinham seguidores, assim como todos os malfeitores que se alçaram pela força ao poder em nosso devastado planeta. Onde se encontra o verdadeiro mentor e responsável pelos crimes do Mensalão? Há muitos fatos ainda por serem descobertos. Indicações há, pistas há, indícios indiretos, idem. Ninguém fica rico à toa. 
          Respeito as divergências doutrinárias, mas o que me repugna é saber que homens de bem e de cultura sejam prosélitos e defensores gratuitos de todos os descalabros ocorridos na era Lula. Reconhecer valores morais de políticos como os do “grupo político” que foi julgado pelo Supremo Tribunal Federal como praticantes de vários crimes é inadmissível, sobretudo quando, além de defendidos, são guindados à condição de heróis democráticos da Pátria (!). Que parâmetros de valores morais e éticos são esses mentados por seguidores tidos como indivíduos esclarecidos?
         O Brasil não vai bem em vários aspectos pelos quais possamos considerá-lo. O custo de vida aqui é altíssimo em itens vitais para o cotidiano da população: alimentação, medicamentos, planos de saúde, segurança, corrupção ainda elevada, desigualdades salariais em âmito municipal, estadual e federal gritantes, sistema de leis excessivamente leniente contra perigosos delinquentes, até de menor idade, violência (esta, se não for controlada, tende a se alastrar pelo país afora), arrocho salarial de alguns setores do governo federal, pobreza, tráfico de drogas, tráfico de armas, entre outras mazelas crônicas nacionais. Como, então dizer, que vamos bem, obrigado? O fato e a mentira ainda se mostram nublados como a personalidade de alguns personagens malandros bifrontes da ficção de João Antônio (1937-1996). O autor sabe mais do que nós. Infelizmente, está morto.