O título brasileiro deste filme é “Sob o domínio do mal”, um desses títulos banais que a gente ou esquece ou confunde com o “Sob o domínio do medo” atribuído a “Straw Dogs” de Sam Peckinpah  No presente caso, é um thriller político feito em 1962 por John Frankenheimer e refilmado há poucos anos com Denzel Washington no papel principal.  Não vi a refilmagem; é do notável filme de 1962 que falarei aqui.  Durante a Guerra de Coréia, soldados americanos são presos e submetidos a lavagem cerebral que os transforma em futuros assassinos robotizados.  O objetivo é, no momento certo, assassinar um candidato à presidência dos EUA e substituí-lo por um pseudo-direitista que tem a função de abrir caminho para um complô russo-chinês.


O filme não é uma análise política, é um exercício em paranóia.  Laurence Harvey é o militar em quem basta um jogo de paciência no baralho para desencadear o condicionamento hipnótico.  Os crimes que comete são encenados de forma seca e brilhante por Frankenheimer.  A crítica fala na influência de Orson Welles na estética do filme: o uso da profundidade de campo, dos ângulos invulgares de câmera, da iluminação em claro-escuro.  Há também uma porção de elementos hitchcockianos.  A cena em que Harvey entra à noite no quarto de dormir do patrão, para matá-lo, parece tirada diretamente de “Pacto Sinistro”. O atentado programado para quando o candidato disser uma frase específica do discurso lembra o famoso momento dos címbalos em “O homem que sabia demais”, para não falar na presença do caveiroso Reggie Nalder no elenco de ambos os filmes, e da “psicosiana” Janet Leigh.


“Pacto Sinistro” também está presente na semelhança entre o personagem de Harvey e o de Farley Granger nesse filme, um homem que se vê impelido a cometer um crime contra a própria vontade.  Frankenheimer, que nunca foi um diretor de grandes ousadias, dedica-se aqui a compor uma narrativa visual cheia de lances espetaculares.  A cena em que os cientistas chineses fazem Harvey matar dois soldados diante de uma platéia, imaginando que assiste uma reunião de um Clube de Jardinagem, é uma das mais desnorteantes que já vi no cinema, mesclando ilusão e realidade de uma maneira brilhante como linguagem, e aterrorizante como recurso dramatúrgico.


Frank Sinatra faz o oficial encarregado de vigiar Harvey e, ele também, vítima do mesmo condicionamento hipnótico. Em seu comentário do filme, Roger Ebert chama a atenção para um possível sub-enredo, em que ele também seria um criminoso e Janet Leight a sua “supervisora” – um pouco como Harrison Ford, em “Blade Runner” seria ele também um andróide igual aos que caçava.  “The Manchurian Candidate” foi feito dois anos antes de Lee Oswald assassinar John Kennedy.  Revê-lo agora, depois de ver Barack Obama em campanha para a presidência sob gritos de “Kill him!” nos dá o que pensar como “plus ça change, plus c’ est la même chose