O BRASILEIRO ESTÁ ARROCHADO FINANCEIRAMENTE

CUNHA E SILVA FILHO

A história do alto custo de vida brasileiro é um item que sempre esteve no seio da sociedade brasileira. Quantas vezes, em carta, meu pai se queixava dos aumentos anuais dos aluguéis!

É algo inerente a uma país injusto que sempre se mostrou dividido, desde os tempos coloniais, em classes, pelo menos em três classes mais distintas : a dos ricos, da classe média e a dos pobres ou, para usarmos um termo atual, dos excluídos, dos “merdunchos” e que fala a narrativa de João Antônio (1937-1996) Nem me lembro de que houvesse uma classe média alta, tal como aparece no romance de Scott Fitgerald (1896-1940) . Estou falando de The great Gatsby, retratando, com rara habilidade narrativa, a vida desregrada e hedonística dos tycoons americanos sedentos de badalações, festanças e bebedeiras, dos ricos americanos dos anos do jazz, década de 20, após a experiência triste da Primeira Guerra Mundial (1914-.1917)

Cogitar-se, nos anos de 1960, só para delimitar uma fase que se prolonga das precedentes e se perpetua no poder até à atualidade, com raras exceções de mudanças na pirâmide social, da vida brasileira, no que tange à mobilidade social, era uma utopia. As classes sociais lembravam igualmente as formas de castas dos indianos. Só que estes, quando nas castas mais humildes se sentem bem da maneira que vivem ou sobrevivem socialmente e atribuem a isso a uma espécie de fatalidade ou destino. Provavelmente julgam que, no além-túmulo, irão desfrutar das delícias espirituais...

Ora, enquanto esse segmento social assim procedia, tanto melhor era para os ricos e os potentados do país. Quer dizer, o fosse social era e é imenso. No Brasil, igualmente ainda persiste, essas assimetrias. Quem nascia pobre, pobre morreria. Não havia outra saída.

Costumo afirmar que nas relações humanas e sociais , no que tange aos donos do poder, ainda que nas chamadas democracias ocidentais, o que somente muda de forma é a língua falada nas nações, visto que, em outros aspectos da vida de uma nação, os potentados desfrutam das mesmas régias regalias e altos privilégios dignos de uma rei da Inglaterra.

Só nos falta a coroa britânica e o dito God save the queen e, agora retificado para God save the king, em razão da ascensão, por morte da rainha Elisabeth II, do príncipe Charles ao mais alto título de nobreza da monarquia inglesa, o de Rei Charles III. Em nosso país, malgrado socialmente ainda separado por polarizações à direita e à esquerda, os privilégios e excentricidades pantagruélicas, vão de vento em popa, haja vista quem nosso Chefe-Mor completa a sua, se não incorro em erro, oitava viagem (haja gastos e mordomias em hotéis de luxo europeus a fim de debater questões relacionadas entre países do Mercosul e com países europeus ou de outros continentes no plano econômico e nas questões vinculadas às mudanças climáticas, tendo como principal eixo temático a área da Amazônia.

No isolamento da Ilha da Fantasia brasílica, na prática parlamentar, as leis para serem aprovadas, têm que se alinhar a uma chusma de partidos ou partidões que dominam a cena política nacional.

As chamadas coligações, os conchavos de última hora, entre Câmara Federal e Senado, dentro de suas respectivas retóricas de velhos políticos já por demais conhecidos e desprestigiados pelas suas virtudes ancestrais, seu amor ao bem-estar do brasileiro e seus projetos que, a cada passo, dificultam a vida do cidadão brasileiro e vai diminuindo o poder de compra dos assalariados, sobretudo se este são funcionários públicos.

Me parece que, em linhas gerais, o país, sob o domínio do petismo, está ainda formando seus quadros de direção de cargos, assim como dá mostras de que o passado de falhas imperdoáveis girando em torno da corrupção e dos diversos escândalos, entre o público e o privado, sob o domínio das propinas, esteja tomando um novo rumo, o do amadurecimento e da vontade de mostrar serviços de governança efetiva..

Entretanto, a continuar fazendo a classe média enfrentar aumentos de toda sorte, sobretudo os mais vitais à vida da população, que são os alimentos hoje em altos patamares, os aumentos de planos de saúde que levam mais da metade dos vencimentos de um funcionário público, assim como o alto preço dos remédios dos quais os aposentados necessitam mensalmente pelo fato de estarem sujeitos a maior frequência de doenças próprias da idade avançada, o petismo sofrerá as consequências de não se voltar para essa s questões de alta relevância à tranquilidade de uma sociedade, que são as ligadas ao alto custo de vida.

A voracidade dos comerciantes não tem limites. Quando falo de comerciantes, me reporto aos diversos tipos desserviços de que necessitamos no dia-a-dia, cujos três pilares que estão jugulando o nosso bolso já quase vazios são: a alimentação, o preço dos remédios e os planos de saúde.

É preciso dar uma freada no chamado “laissez-faire” de aumentos constantes, já praticados pelos governos anteriores na vida dos brasileiros. Daqui a pouco, não é exagero afirmar que a classe média e média baixa estarão necessitando de um bolsa-família... O real, moeda criada no governo do FHC, hoje se esfarela diante da subida dos preços e as estatísticas. No entanto, apontam um queda de preços, o que não é verdade, pois os economistas, em seus comentários, são muitas vezes, parciais e não apontam as verdadeiras causas da inflação, não problematizam os motivos de ordem polítco-ideológica da questão social, sempre quase atribuindo a aumentos de juros, à taxa da Selic, a intocável, do todo-poderoso Banco Central, e a problemas externos... Mas quem sabe do que é a vida dos brasileiros são as donas de casa que, nos supermercados, estão vendo diminuídas drasticamente o seu poder de compra a cada mês. Elas, sim, sabem do que seja o cotidiano da vida dos preços doa país. Prefiro a palavra de uma dona de casa imparcial à frieza das estatísticas dos economistas.