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Um papagaio nacionalista quebra o silêncio do espaço e esvoaça em direção à outra margem. Papagueia esganiçado, com alarde de si, alarido e escândalo. Aparece, na curva do rio, um remador silencioso que cumprimenta o Palácio e lambe com o remo a lâmina líquida da superfície das águas. Na sucessão de novas ocorrências, aparece um belíssimo macaco-leão. Muito pequeno. No mamoeiro, peno do terraço. Começa a descer. Pula para o parapeito. Olha para os homens sentados, imóveis. Volta para o caule. Pára. Olha para cima, teme o céu. Olha para baixo, teme os patos. Olha para mim. Aquele macaquinho olha com toda a porção da cabeça, não apenas com os olhos. Depois desce, muito rápido, num risco do ar, desaparecendo no pátio dos patos. Agora há um cheiro de matrinchão, odor de pimenta e tucupi. O ar é tão oxigenado que fico tonto. Cai a calma. Penetra os poros. Vaporosa, gosto tranqüilizante. A estática, a impassibilidade. Um obscuro deus dorme, no inominável, no universal, imerso, incompleto, pré-histórico há um milhão de anos, desde que aquilo era mar.