Rubem Fonseca
Rubem Fonseca

[João Luiz Rocha Nascimento]

E eis que, em plena pandemia, tomo conhecimento de mais uma notícia triste. A morte de Rubem Fonseca, seguramente, um dos maiores escritores do mundo e um dos maiores autores do moderno conto brasileiro. Meu primeiro contato foi com o livro "Feliz ano novo", ainda publicado pela extinta editora Arte Nova, RJ, do editor e poeta piauiense Álvaro Pacheco, edicão que ainda guardo comigo. Comprei-o de forma clandestina, visto que imediatamente censurado pela ditadura militar nos anos 70. Seu primeiro livro, "Os prisioneiros", só obteve visibilidade quando já era um escritor conhecido, quando então foi publicado novamente pela também extinta editora Codecri, do pessoal do Pasquim. Mas, os livros que mais me impactaram foram, pela ordem, "Lúcia Mccartney", "O caso Morel", "O cobrador" e "A grande arte". Mestre do conto, perdeu força nos últimos livros, o que é natural. Dono de um estilo inconfundivel, foi responsável por colocar, de forma definitiva, a cena urbana das grandes cidades no conto brasileiro. E o fez sempre se utilizando de uma linguagem igualmente urbana, ágil, direta, entrecortada, sarcástica , irônica, bruta, crua, violenta e cinematográfica, não necessariamente nessa ordem, dentre outras características. E cosmopolita e universal, sem deixar de ser brasileiro. Algo parecido com Borges, embora sem a mesma erudição, invenções, simulações e sem o caráter duplo do portenho. Bebi muito na sua fonte. No meu livro "Um clarão dentro da noite", há dois contos que dialogam entre si e com os quais eu presto/ rendo-lhe homenagens. Chego até a colocar um dos seus principais personagens (O seminarista) na cena do conto. Quem quiser conferir é só ler "O anjo vingador" e "Folha seca". Impossível não lembrar do Rubem Fonseca. Fique em paz, maestro!