O adeus de Matilde Rosa

Foi um dos maiores nomes da literatura infantil portuguesa, autora de títulos clássicos como O Livro da Tila (1957), O Palhaço Verde (1960) ou O Sol e o Menino dos Pés Frios (1970), bem como de livros de contos e poesia para adultos, ou ainda de obras sobre o papel da literatura para crianças e jovens na formação dos mais novos. Professora na Escola do Magistério Primário de Lisboa e do Ensino Técnico Profissional e formadora de professores, e defensora dos direitos das crianças através dos seus livros e da intervenção em organismos como a UNICEF em Portugal, a escritora Matilde Rosa Araújo morreu ontem, na sua casa de Lisboa. Tinha 89 anos.

Entre os prémios que recebeu, contam-se o Grande Prémio de Literatura para Criança da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1980 (ex aequo com Ricardo Alberty ); o Prémio para o Melhor Livro Estrangeiro da Associação Paulista de Críticos de Arte de São Paulo, por O Palhaço Verde, em 1991; ou o Prémio Gulbenkian para o Melhor Livro para a Infância publicado no biénio 1994-1995, pelo livro de poemas Fadas Verdes, em 1996.

Em 1994, Matilde Rosa Araújo havia sido nomeada pela secção portuguesa do International Board on Books for Young People para o Prémio Andersen, o chamado "Nobel da Literatura para a Infância". Em 2003, a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), de que foi uma das directoras, deu-lhe o Prémio Carreira, pela sua "obra de particular relevância no domínio da literatura infanto-juvenil".

Ao receber esta distinção, em Maio de 2004, a autora e docente declarou: "É uma generosidade muito grande por uma carreira que me deu mais a mim do que eu dei a ela."

Nascida a 21 de Junho de 1921, em Lisboa, Matilde Rosa Araújo licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade da Letras da Universidade de Lisboa em 1945, tendo sido aluna de Jacinto do Prado Coelho e Vitorino Nemésio, e colega de Sebastião da Gama, David-Mourão Ferreira ou Urbano Tavares Rodrigues. Leccionou em cidades como Lisboa, Barreiro, Portalegre ou Porto, onde ficou efectiva. Estreou-se na literatura com A Garrana (1943), que ganhou o concurso 'Procura-se um Novelista', lançado por O Século.

Colaborou na imprensa nacional e regional, desde o DN, A Capital ou O Comércio do Porto, até ao Jornal do Fundão, e em revistas como Távola Redonda, Seara Nova ou Colóquio/Letras. Foi sócia fundadora do Comité Português da UNICEF e do Instituto de Apoio à Criança. Nos seus livros colaboraram várias gerações de ilustradores portugueses.

Em 2009, foi publicada uma biografia romanceada da autora, Matilde Rosa Araújo-Um Olhar de Menina, de Adélia Carvalho e Marta Madureira (ilustrações). Em Outubro, será editado a título póstumo o inédito Florinda e o Pai Natal (Calendário), ilustrado por Maria Keil.

O corpo de Matilde Rosa Araújo foi velado na SPA, de onde o funeral saiu hoje, às 15.00, para o Cemitério dos Prazeres. A escritora foi sepultada no talhão dos escritores.

(Com  informações do Diário de Notícias)