Cunha e Silva Filho


                 O Vaticano está em festa. Milhares de fiéis de várias partes do mundo permaneceram pacientemente até que da chaminé saíssem as tão aguardadas nuvens brancas, anunciadoras de um novo papado. O catolicismo realmente reúne milhões de pessoas, ainda que nem todas   identificadas como católicas sejam mesmo praticantes deste credo cristão. Católicos há que o são sem irem constantemente assistir às missas dominicais pessoalmente. Preferem ficar em suas casas, fazer suas orações costumeiras, o Pai-Nosso, a Ave-Maria, entre outras orações, aliás, muito belas e abrangentes quanto aos ideais católicos.
               Saiu Bento XVI, que se recolheu à sua condição de Papa de pijama. Isso, dizem alguns informes da mídia, voluntariamente, sem constrangimentos nem pressões. No entanto, a saída de um Papa, ainda em pleno gozo de suas faculdades mentais, com muita lucidez pela frente, nunca é um mero acontecimento na história da Igreja Católica. Já houve precedente. Fica, porém, alguma dúvida por parte dos que refletem mais maduramente sobre as questões mundiais nos seus diversos aspectos e complexidades de temas e de soluções.
              Não desejo me meter em discussões mais fundas acerca da saída de um Pontífice e da entrada triunfal de outro. Antes aceitemos a realidade circundante, que, por si mesma, já é tão vasta e tão cheia de surpresas.
            Ao novo Papa, o primeiro da América do Sul, de nossa vizinha Argentina, que não estava no rol dos mais cotados para a eleição do recente conclave, só auguro um período de pontificado de paz e conciliação, de paciência e humildade para enfrentar os grandes e graves desafios que o Catolicismo está atravessando em nossa época, com um saldo pouco positivo para a imagem que se tem do catolicismo, e sobretudo da estrutura da Igreja. 
            Papa Francisco, assim chamado simplesmente sem nenhum algarismo romano agregado ao prenome, não deixa de ser um indicativo promissor de uma missão a ser por ele cumprida tendo como fundamento as associações com os santos que  tiveram por nome Francisco, como São Francisco de Assis, São Francisco de Pádua, São Francisco Xavier. Essas figuras queridas e estimadas pelos cristãos católicos, e até não católicos, são pontos de referência a um pontificado que promete ser palmilhado por mudanças e renovações sem peso de retórica, mas com ênfase na concretização de alterações que façam mudar a boa imagem e o respeito que o catolicismo precisa recuperar junto à sociedade religiosa e laica.
           Essa mudança deve se estribar sobretudo no combate  sem trégua  a fim de  debelar os estigmas que têm origem no próprio seio do conjunto de membros da Igreja Católica. A começar da cobrança irrestrita de mau comportamento moral de sacerdotes e de membros do alto escalão da Igreja que, em diversos lugares do planeta, mancharam em parte a reputação do catolicismo. Esta é uma das difíceis tarefas a que o Papa Francisco deve dar toda a atenção. Reconhecer os erros de alguns de seus membros é dever da Igreja Católica. Eliminar sacerdotes que pecaram contra as normas morais do corpo religioso se me afigura uma questão de honra para o novo Sucessor de Pedro.
           Uma outra tarefa importante das lideranças católicas é o enfrentamento dos problemas relacionados à preocupante diminuição, em grande escala, de fiéis católicos que, nos últimos anos, têm migrado para outras denominações religiosas, algumas delas também eivadas de ações profanas e desvios de comportamento ético-religioso. Recuperar esses fiéis deve ser outra prioridade de S.S. Papa Francisco.

           Uma terceira tarefa seria a moralização administrativa da burocracia católica sediada no Vaticano, tendo como nicho mais crucial a vida financeira representada pelo Banco do Vaticano, alvo de acerbas críticas da imprensa internacional. Afastar e mesmo eliminar religiosos que tenham cometido ações ilegais e indecorosas, no que tange às finanças do Banco do Vaticano, com ramificações até, segundo informa a mídia, de natureza criminosa e com ligações mafiosas, torna-se uma das prioridades do novo papado.
       Sei que todos esses problemas a serem enfrentados pelo Papa Francisco exigirá dele muito tino político e larga visão de conjunto. Torço para que esses desvios diversos de conduta moral-religiosa serão contornados de tal sorte que a Igreja possa conquistar o apoio e a solidariedade dos fiéis e de todos que, mesmo sem religião, desejam que o novo pontificado readquira os melhores anos de uma Igreja sólida e respeitada por toda a sociedade mundial.
      A declaração de que o Papa Francisco tenha como um dos seus objetivos dirigir todo o prestígio do Vaticano para um apostolado voltado aos mais humildes é um bom prenúncio de sua missão material e espiritual.. Que este objetivo seja alcançado é o que todo cidadão de bem espera do Papa Francisco. Será um grande passo para a efetivação da melhoria das condições de vida no planeta. Mudanças nessa direção feitas com a humildade de ações de caridade pura e com os pés no chão já indicam um percurso a ser atingido  no  rumo da paz entre os povos.