NUMA MANHÃ EM CASA  AGUARDANDO   COM   ALEGRIA O JOGO DO BRASIL E SÉRVIA

CUNHA E SILVA FILHO

         Foi  um pensador convertido ao   catolicismo, Tristão de Athayde (pseudônimo de Alceu  Amoroso Lima,1893-1983 ),   ensaísta erudito,  polígrafo e prolífero (dominava e escrevia sobre várias   áreas  do conhecimento) e um dos mais   completos   estudiosos e  críticos do  Modernismo   de 22,  o da Semana de Arte Moderna, em São Paulo, que  se referia ao futebol  chamando-o de o “grande  catalizador.” Já  alhures  me  referi   a essa definição daquele auto.,

          É sabido que o grande e  polêmico    Lima  Barreto (1881-1922)  nunca gostou de futebol. Nem mesmo   já li alguma coisa dele explicando   por que não   estimava   um esporte  tão   cheio de “multidão,”  embora   com  um  defeito    grave: o de  tornar  alguns  torcedores,  diria até  grande parte da população,    fanáticos, vândalos  em certas partidas. O melhor torcedor  é aquele que aceita as regras do  jogo, não os baderneiros   e delinquentes que deveriam ser  punidos   com  leis   duras   e cumpridas   à risca se não fosse  pelo relativismo  de nossas Justiça  lenta e leniente  diante   penas  condenatórias, o que  evidencia   um  entrave   retroalimentador    da  alta criminalidade atuante    e, amiúde, triunfante em todos   os níveis   socais.    

        Já é um truísmo   segundo o qual  a “polícia  prende  e a justiça   liberta.” Urge  passar al impo   as nossas instituições de segurança:  desde  as  polícias  estaduais     passando  pela  polícia  federal  até às  próprias  Forças Armadas, cujo  papel  mais    proeminente   é  a boa formação  de nossos  soldados  e de todas   as patentes do oficialato  num sentido que     tudo convirja  para  serem   a defensora, sem   intromissão   político-partidária, e sem  esprit de corps,   intransigente  de nossas  Carta Magna   e  da sociedade   civil. Seu  papel    central, sua função  máxima   é defender  o  nosso  país  contra  inimigos   invasores  e ao mesmo tempo  defender   a nossa  pátria contra    quem    inflija   a manutenção  da  Ordem de  Direito   Democrática.  As Forças Armadas só serão   estimadas  pela sociedade  se  permanecerem estritamente   obedientes   aos   ditames   constitucionais. Sem essas  premissas   nucleares,.   não  há  país   que  se sustente sob a  égide  da paz,  da concórdia, da liberdade de expressão   e do  respeito  à segurança    de seus compatriotas.    Em resumo, sem   democracia autêntica não  existe sentido   pleno de  Nação   independente  e  livre.    

         Estamos, por  conseguinte,  diante de uma atmosfera asfixiante e assustadora, sem  um base  de  proteção  legal  e protetora  das vítimas das ilicitudes    que nos leva  à ficção  kafkiana às avessas. A sociedade civil clama   por justiça contra a vilania   de alta frequência   contra vítimas    inocentes  e  despossuídas. Estamos cansados  de   invocar   a  proteção  do cidadão   brasileiro nos bairros,  nas cidades,   nos estados ,  nos campos.  Se m atacar   frontalmente  a criminalidade   nos seus vários  graus  e   dimensões  e sem  a valorização  urgente da educação    nacional   o país   estará comprometendo   o seu futuro  e a sua  tão decantada  democracia   real. Não vivemos de   realidades   virtuais. Desejamos   sobrepujar   os  grandes males  sociais   e  avassaladores   com os quais  nos defrontamos  na  cotidianidade    brasileira.  A falta  de    apreço aos  políticas  brasileiros se deve   primordialmente  a essa ausência  de leis   constitucionais  que  nos    livrem  da impunidade   sem trégua.       

         Ora,   o fanatismo   é um dos  sentimentos   mais  odientos   que  conheço  porque  pode,  quase sempre,  desembocar    em  violência  extrema, em terrorismo, cujas ações são sempre  pusilânimes e atingem    os que nada têm  com  a  história e as implicações   provindas  da  ignorância   bárbara   e banalizadoras    de vidas  humanas.  Aqui  no Brasil, chega a   ponto de   provocar   covardias   hediondas,  com   vítimas fatais. As torcidas  precisam  modificar-se,  civilizar-se  e  aceitar  o conceito  valioso do  fairplay Essa é a atitude mais   grandiosa de um  bom torcedor: saber  ganhar e saber  perder.

         E por fanatismo   aludo  também  a religiões  partidos   políticos,  etnias,  opções  de gênero,  racismo   aviltante  a esta altura  do século   21, entre  outros    aspectos  cruciais  e bárbaros,  primitivos e desumanos   da  estrutura  da sociedade civil.    

       Quanto a mim,  pobre  mortal,   não desgosto  desse esporte,   cuja  origem    se deu  na Inglaterra  e  era  esporte  de grã-finos. Coisas da vida:  com o  tempo  o futebol,   aqui no Brasil e mesmo fora  do país,  se tornava  cada vez mais  popular  e  atingia em cheio todas as classes  da  pirâmide social. Foi  muito   bom  que assim  se transformasse. Excetuando    as barbaridades   que  ainda  se entranham  na cultivo do  futebol   brasileiro sobretudo,  é um esporte saudável,   convergindo para  gerar  um comportamento    de altíssimo  alcance  de   união  entre as nações  de confraternização   de  povos  com  diferentes   costumes  de vida   e  modos  de ver   o mundo. O futebol  desse modo, caso típico  da invasão   covarde  da Rússia contra a Ucrânia   torna-se  um   componente   relevantíssimo    para  unir  nações   em  inúteis  guerras    destruidoras    da  humanidade e sobretudo do  patrimônio   cultural  das nações  independentes.

       Na verdade,  algum tempo  atrás,   me  definia  como flamenguista., mas observando  mais detidamente   isso  ocorreu   no tempo  em que lecionei  no  ensino  fundamental e médio.  Meus alunos   m um vez  ou  outram  me  perguntavam   por qual  time   torcia. Eu  sabendo que o  flamengo era um dos  times  mais  populares entre os cariocas,   pra não  parecer   indelicado aos meus  alunos,   dizia que era  flamenguista.   Observava  naquele tempo que  o  flamengo tinha um  rival  que, geralmente  era    preferência  da elite: o fluminense.   E mais,    os professores   sabiam que,   pertencendo a algum time,   tinha  um  ótimo  ponto de partida de  estimular   melhor   os seus alunos    em suas disciplinas.

      Havia  mestres  que gastavam  alguns   minutos   trocando  ideias   com  os alunos sobre os resultados  dos  jogos   recentes  entre times  rivais. Com  isso,  os   professores  amantes do futebol   ganhavam  pontos   positivos   e conquistavam  mais a simpatia  do alunado. Um desses   mestres lecionava   língua  portuguesa e literatura.   Tinha   vocação  para ser  um    professor  querido  e  respeitado   por todos. Tinha  inclinação para  a arte de Calíope  e adorava  ser  convidado  para  ser  paraninfo das turmas  de  formação  de professores,   as  conhecidas e antigamente  chamadas  normalistas. 

      Seus  discursos de paraninfo despertavam  a atenção  e o entusiasmo  dos presentes na  formaturas  e dos formandos  realizadas  ao anoitecer   visto que eram recheados de citações  e de alusões  poéticas, principalmente de  teor  romântico. Em dia  de  paraninfo  vestia-se    com esmero   e  exibia um semblante sério, Nem parecia ser aquele   professor  contador  de piadas como  bom  carioca  que era e fumante  inveterado.  Uma vez,  após o seu  falecimento   precoce,  eu lhe  dediquei um arremedo de  poema, cujo   valor,  a meu  ver,   somente  poderia   situar    na minha sinceridade  de amigo  e de admirador   desse  mestre tão  amado    pelos alunos e alunas.

       Diante   deste  meu computador   ficarei   torcendo  pela seleção  brasileira  no  Catar.O  me entusiasmo  hoje  mais sereno.  Aceito,    de bom grado   o resultado  que tiver    a partida de  hoje, mas  como  o futebol   é  um  esporte    universal,   na hora  do “vamos ver” a gente  como que se transforma  num  torcedor   de Copas   Mundiais  e aí entra  o lado  bom de brasileiro,   álacre . festivo, pândego,  carnavalesco e sobretudo   patriota, cujo símbolo maior se tornam as cores de nossa   bandeira com a  legenda de “Ordem e  Progresso”,  de  expressão  positivista comtiana.  Ninguém que seja parte  ou cidadão  de uma nação competidora  na Copa 2022  consegue ser   indiferente a esta festa   mundial. Brasil  e Sérvia se enfrentarão.

      A Sérvia sabe,  é claro,   que  somos  o “país do futebol,”  um  país  campeão, onde  aqui nasceram  grandes  atletas  do que os americanos  chamam  de soccer. Aqui  temos  Pelé,   tivemos   Garrincha,  temos  Zico, Romário,   Ronaldinho, o fenômeno,  e, agora   Neymar, entre outros  notáveis  craques      que honraram   e dignificaram a nossa   Seleção. Que o Brasil,  sob a direção do técnico Tite, nos traga mais uma vitória com todas as  homenagens de  todos  os brasileiros  que anseiam  por  mais  um título,  hexa.  Aqui, em casa, nesta manhã   com aparência chuvosa,   fico   aguardando com ansiedade,  a conquista brasileira desse grande  esporte  “catalizador”, mesmo dos que  pouco  entendem de futebol  como  este cronista. Que essa vitória  pela qual torcemos  nos venha amenizar  e unir  mais  um  povo  sofrido social e politicamente   como  o nosso.

      O  país  continental  não merece  clivagens  ideológicas    sem   diálogos   e   convivência   mais   amistosa e  civilizada  entre  os partidos   políticos,  a engrenagem   do Estado  Brasileiro  e o  povo em vários ângulos da sua estrutura   social,  na qual,  um  povo em desassossego é refém ,tanto  nas metrópoles quanto  no  interior   de males   crônicos   ameaçadores    da  paz  da sociedade brasileira,   na qual,  ao  arrepio das leis,  em   guetos  de criminalidades   sem  limites   a bandidagem   impera,  manda  e  demanda  ainda  conta  com  cumplicidade   asquerosa   da  impunidade  - esse cancro     que  parece  não  ser  nunca extirpado de nossa sociedade    sob ameaça  constante  dos  perigos   letais  que nos cercam impiedosamente.

     Onde estão os meios  de segurança  nacional? A quem  podemos    recorrer? Quem manda  no   país   entre  um governo que sai e  outro que vai entrar. Que entre para   o bem  de toda a nação  e seja   firme  para debelar  os mais prementes  e devastadores    males  da vida social   brasileira atual.  Que a Copa  2022, durante o jogo de  hoje,  seja, em  nosso  país, livre    dos perigos  dos assaltos  e da covardia   de bandidos. Que se  torne,   pelo menos,  um   oásis durante   ao peleja entre  a  Sérvia e  o Brasil  querido  dos homens de bem.   .