NATAL DO BICHO HOMEM

 (poema de Rosidelma Fraga)

 

Sonhei com um poema de Natal

hipnotizando o velho Noel

e  acordando às crianças.

 

Tal como a cigana da sorte,

profetizei Maria Santa

a tocar meu piano negro

na Lagoa Rodrigo de Freitas

e depois me ungi de humor

ao verso lírico de Bandeira.

 

Acordei nua e descalça

feito prostituta Madalena

a confessar na Missa do Galo

e beijar o corpo nu do Sacristão.

Senhor Deus,

absolva-me dos pecados capitais

recheie a minha alma de poesia

e contempla-me nas cinzas da ausência.

 

 

Juro eu, leitor,

que assaltei a taça de vinho santo

e embriaguei-me de palavras

para não beber a imagem

do bicho homem a colher

os detritos de sua dor no asfalto

e urrando pelas migalhas de pão.