Elmar Carvalho

 
 

Numa de nossas reuniões semanais, o professor Paulo Nunes disse aos confrades da APL que a comemoração do centenário da escritora Nasi Castro, ocorrida em Amarante, fora coroada de pleno sucesso. Foi ela, por várias décadas, exemplar servidora pública do município, em cargo burocrático, bem como exercera a função de parteira, ajudando a trazer ao mundo vários amarantinos ilustres, com suas firmes, delicadas e competentes mãos, numa época em que muitas mulheres da hinterlândia piauiense morriam de parto, por falta de médicos e de acompanhamento à natalidade. Essa ilustre amarantina escreveu textos que tratam do rico folclore de sua cidade, assim como também de sua história, sem ninguém que lhe suplante.

 

 
Após o mestre Paulo Nunes, falou sobre Nasi Castro o eminente historiador Fonseca Neto, inicialmente se justificando por não ter podido comparecer ao evento, em virtude de suas funções magisteriais na Universidade Federal e por causa de seus deslocamentos e tarefas, uma vez que está fazendo doutorado em São Luís. Falou que sua mãe, Itelvina Fonseca, nascera no lugar Buritizinho, zona rural de São Francisco do Maranhão, cidade situada à margem do Parnaíba, ao lado de Amarante. As duas cidades são ligadas pelas velhas chalanas e canoas, em constante vaivém, movidas pelos tardos motores toc-toc, assim designados onomatopeicamente por causa de seu característico e intermitente barulho. Fonseca, que é um mestre da palavra e do improviso, estava “impossível” nesse dia, excedendo-se a si mesmo na eloquência. Na qualidade de 1º secretário, sou o encarregado de lavrar as atas, e por isso anotei o que entendi suficiente para esse mister, já que o cabeçalho do termo diz que elas são sumárias.
 
 
Todavia o professor Paulo, por causa da importância do que o Fonseca falou no seu arrazoado ao sabor do improviso, perguntou-me se eu anotara tudo, e me pediu para caprichar nas nuanças do que o confrade falara. Surpreendido com o pedido, por sinal pertinente, respondi que, embevecido com as belas, profusas e profundas palavras do orador, como se fosse um passarinho qualquer diante do mágico gorjeio do hipnótico Uirapuru, parara de fazer as anotações, para melhor escutar o mestre. Pedi, então, ao Fonseca Neto que me enviasse, por e-mail, o resumo de suas palavras, que incluiria na ata. Assim foi feito. Transcrevo, aqui e agora, parte das palavras insertas na ata, que o amigo e confrade me enviou, como uma homenagem a ele, ao professor Paulo Nunes e à saudosa escritora Nasi Castro, cujo centenário foi tão justamente festejado:
 
Fonseca realçou que a leitura dos livros de Nasi significa para ele uma segunda recepção das memórias de sua mãe, quando menina-moça rural, deslumbrada com a cidade de Amarante cheia de luz, orquestras, festas e lojas, lá pelos anos 20 e 30 do século passado, e que viveu ela até finar com essa Amarante vibrante habitando sua memória, transmitindo tantas e tão marcantes impressões aos seus filhos. Disse da forte ligação de Amarante e da sua irmã cidade de São Francisco com a Passagem Franca maranhense onde nasceu, e também onde amarantinos ilustres serviram em funções públicas, tais como o padre Eurípedes da Costa e Silva e seu irmão Rodolfo da Costa e Silva, conhecido como “Nica”, ou “Coronel Nica” da Costa e Silva, irmãos do famoso poeta, além da professora Naninha do Vale e de Álvaro Prestes, entre outros.
 
Nica foi adjunto de promotor no termo passagense pelos anos 1920, com um protagonismo político envolvente e polêmico, sendo pivô de uma virada colossal na vida pública local, quando perdem força política os Vasco de Sousa Coelho e assomam ao poder os irmãos Cardoso da Silva, tendo lá, na fazenda Matos Novos, falecido esse amarantino, lembrado ainda por lá, pela virtude de grande leitor e rábula. Exaltou a obra da escritora por colher e organizar o labor cotidiano dos amarantinos, por décadas, despreocupada de anotar apenas a vida dos chefes e administradores municipais, fazendo, por conseguinte, uma espécie de história achada nas ruas da bela Amarante, e de sua gente, que outros tantos escritores da gleba, em regra, não o tinham feito, ainda.”