[Maria do Rosário Pedreira]

No início do próximo ano vou publicar excepcionalmente na Teorema dois livros traduzidos, entre os quais o de um autor da Coreia do Sul que dizem ser o melhor da sua geração (nasceu em 1968). Chama-se Kim Young-ha (os nomes dos coreanos escrevem-se com o apelido no princípio) e darei oportunamente conta da sua novela original e algo kafkiana chamada Tenho o Direito de Me Destruir. Mas foi por causa dela que li algumas coisas sobre o mercado coreano na Internet e me apercebi de que, enfim, não estamos sós nas nossas amarguras. A crise no meio editorial é tão grande por aqueles lados que 94% dos editores não lançaram um único livro em 2012. As pessoas, sem um tostão no bolso, deixaram de ler jornais, de ir ao cinema e de comprar livros (onde é que eu já vi isto?) – excepto quando o preço é suficientemente competitivo e, quanto a isto, parece que uma cadeia de livrarias em segunda mão, a Aladino (com dezasseis lojas, incluindo uma em Los Angeles e uma forte presença online) faz um inesperado sucesso em tempos difíceis e «rouba» todas as hipóteses de negócio às editoras, fazendo um desconto médio de 50% aos seus clientes. A Coreia do Sul não tem lei do preço fixo, pelo que é ainda mais difícil combater a política de preços da Aladino, que os editores coreanos consideram míope e precipitada e em nada contribuir para que os leitores do país contactem com novas obras e autores contemporâneos. Parece que, apesar de tudo o que tem acontecido em Portugal no mercado dos livros, ainda há quem esteja pior do que nós.