"Nacionalizando-o", Aragão discute o fazer poético em Filgueiras
Demonstrando domínio pleno do know-how crítico-literário, Adrino Aragão, inventor isolado do miniconto no Amazonas, demonstra ser hoje um dos mais requintados críticos da arte e da literatura brasileiras.
MAIO DE 2006: NACIONALIZAÇÃO BOLIVIANA DE EMPREEDIMENTO BRASILEIRO...
JÁ ESTATAL!
(SEM A LEGENDA ACIMA ENGENDRADA, A FOTO BOLIVIANA ESTÁ, NA WEB, EM:
http://noticias.r7.com/internacional/noticias/nacionalizacao-do-gas-pos-bolivia-em-choque-com-brasil-20091206.html
Foto: 2.5.2006 / AP)
RELÍQUIA DO GRANDE MUSEU DO FUTEBOL MUNDIAL:
IMAGEM EM QUE APARECEM, EM CONFRONTO MÍTICO-FENOMENAL,
GARRINCHA E BOBBY CHARLTON, na fotográfica comprovação de que
ISSO ACONTECEU, MESMO!
(Só a foto, sem a legenda da Coluna "Recontando...":
http://reliquiasdofutebol.blogspot.com/2010/03/blog-post.html)
BUDDY HOLLY, herói mundial-musical dos anos 50, que
lastimavelmente faleceu, no auge da juventude e do talento,
em desastre aéreo há mais de 51 anos, nos EUA, ídolo
estadunidense desta Coluna "Recontando...": influenciador
da revolução dos "rapazes de Liverpool", The Beatles
(de resto, como eles próprios penhorados reconheceram),
ESTES QUE FORAM "NACIONALIZADOS INGLESES" (a expressão é
meramente simbólica e refere-se à repercussão de sua arte, e
algo na esfera da sofisticação dos arranjos, não significando
mudança essencial na produção musical) NA CIDADE DE LONDRES,
CAPITAL DA INGLATERRA
(http://david-yonki.blogspot.com/2009_02_01_archive.html)
NÃO PECAM! HOJE HAVERÁ APRESENTAÇÃO
DO (AINDA) DESCONHECIDO CONJUNTO
THE BEATLES NA cave THE CAVERN,
EM LIVERPOOL
(Só a foto, sem a legenda acima ensaiada:
http://gene-vincent.iquebec.com/ENG1962.htm)
"Adrino Aragão (Adrino Aragão de Freitas), born in Manaus, State of Amazon, Brazil, 1936, is a Brazilian short-story writer. In the 70's And 80's, he was a prominent Desed magazine (Brasília) and BIP - Boletim de Informação ao Pessoal, do Banco do Brasil S.A. (Bank of Brazil) reporter. BIP had a circulation of over 100.000 every week[1]. Adrino Aragão wrote several reviews of new Brazilian books. After his retirement, he wrote essays on Comparative Literature and Literary Theory for Jornal do Brasil/Rio de Janeiro and academicals publications[2].
He is recognized by his focus on the fables and traditional stories. He wrote on the short stories of Jorge Luis Borges. His book O Champanhe (Champagne) focus on the study of the theatre of Anton Chekhov.
He lives in Brasília D.F. and he participated as Member of Committees for granting Literary Prizes in Manaus and in Brasília D.F., Brazil. He is a member of the União Brasileira de Escritores (The Writers's Union of Brazil)[3] and wrote several essays on Clube da Madrugada, an amazonian avant-garde movement formed in 1954 by Jorge Tufic, Farias de Carvalho, Luiz Bacellar, and other Brazilian poets and artists.
He is a regular articulist of O Pioneiro magazine (Brasília D.F.)[4], edited by the poet and journalist Heitor Humberto de Andrade[5]. (...)"
(http://en.wikipedia.org/wiki/Adrino_Arag%C3%A3o, VERSÃO EM INGLÊS DO VERBETE 'ADRINO ARAGÃO', DA WIKIPÉDIA, com menção a resenhas literárias desse escritor amazonense que foram publicadas no Caderno B, do JB (Jornal do Brasil, Rio, Brasil) - sempre geograficamente bem acompanhadas, na diagramação do jornal, uma vez que, a seu lado, podiam ser lidos poemas de Reynaldo Jardim -; nessas resenhas, autores que só eram conhecidos em âmbito regional passaram a ser conhecidos nacionalmente, TENDO A EXPRESSÃO 'NACIONALIZANDO-O', CONTIDA NO TÍTULO DESTA MATÉRIA DO ENTRE-TEXTOS, UM SIGNIFICADO MUITO DISTANTE DE 'ESTATIZANDO-O', o que não se consegue fazer com um poeta, como aqui fica bem registrado!)
08.03.09
Acabei de escrever no meu Twitter, que o hino não-oficial de Manaus é a música Porto de Lenha, do Torrinho.
A linda letra é meio obscura, sendo apenas um trecho de um longo poema do Aldísio Filgueiras, e quem não é de Manaus tem certa dificuldade de compreender o que está sendo dito. Transcrevo aqui.
Porto de Lenha (melodia de Torrinho sobre poema de Aldísio Filgueiras)
Porto de Lenha, tu nunca serás Liverpool
Com uma cara sardenta e olhos azuis
Um quarto de flauta do Alto Rio Negro
Pra cada sambista paraquedista
Que sonha o sucesso,sucesso sulista
Em cada navio em cada cruzeiro
Em cada cruzeiro das quadrilhas de turistas!
Pois bem. Toda vez que nós, manauaras, queremos criticar a nossa cidade inculta e bela, a gente solta: "Ah, Porto de Lenha, tu nunca serás Liverpool..."
Quando acontece algo bom na cidade: "Porto de Lenha, um dia serás Liverpool!"
E eu, deitada no hostel em Liverpool,em 20 de setembro do ano passado, uma da manhã, apavorada e me sentindo completamente sozinha, cantava pra mim mesma, como acalanto de ninar gente com banzo: "Porto de Lenha, tu hoje já és Liverpool..."
Essa foto é da manhã seguinte, eu no portão de Strawberry Fields. There's nothing to hung about...Strawberry Fields Forever.
(http://www.interney.net/blogs/cintaliga/2009/03/08/liverpool_manaus/)
LIVERPOOL, INGLATERRA, EM 2004
(http://www.webbaviation.co.uk/liverpool/mf44.htm)
MANAUS, que, de acordo com poema de Filgueiras, "nunca será Liverpool", em
recente foto de divulgação (MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES / BRASIL)
(http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from_info_index=1701&infoid=693&sid=9&tpl=printerview)
(http://zzvhdidsarquivobrasil.blogspot.com/2009_01_01_archive.html,
onde se pode ler:
[NA MINISSÉRIE MAD MARIA, A MOÇA INTERPRETADA PELA A ATRIZ] ANA PAULA [ARÓSIO] É CAPTURADA , AMARRADA E AMORDAÇADA. DEPOIS É COLOCADA NUM BARRIL E TRANSPORTADA PELA FLORESTA,
http://zzvhdidsarquivobrasil.blogspot.com/2009_01_01_archive.html)
ATORES DE MAD MARIA, aqui venerados como quase-deuses -
sendo muito humanos e humanistas, porém - da contemporaneidade,
FORA DE CENA, MAS DENTRO DO QUADRO FOTOGRÁFICO
(SÓ A FOTO, SEM A LEGENDA DE ADMIRAÇÃO ACIMA CONFERIDA:
http://www.network54.com/Forum/392899/thread/1110047697/1110047697/PERDIDOS+NA+SELVA+-ENTREVISTA+ANA+PAULA+AROSIO+E+F%C1BIO+ASSUN%C7%C3O+SOBRE+MAD+MARIA)
JUCA DE OLIVEIRA: MELHOR DO QUE OS MELHORES QUE JÁ CONQUISTARAM
A ESTATUETA DA ACADEMIA DE HOLLYWOOD: MINISSÉRIE MAD MARIA,
DA TV GLOBO, A PARTIR DO ROMANCE DE MÁRCIO SOUZA
RUBEM FONSECA: DO BRASIL AO MUNDO,
TAMBÉM PRODUZINDO ROTEIROS CINEMATOGRÁFICOS
(Só a foto, sem a legenda acima apresentada:
http://impostor.wordpress.com/2009/12/, onde se lê:
"Rubem Fonseca feliz da vida durante leitura na
Feira Internacional do Livro de Guadalajara, em 2007")
ALDÍSIO FILGUEIRAS, DEVIDAMENTE nacionalizado (A EXPRESSÃO
["O Adrino me nacionalizou"] É DO POETA AMAZONENSE JORGE TUFIC,
depois de merecer artigo altamente elogioso, publicado por
Adrino Aragão no Caderno B do Jornal do Brasil, quando esse
matutino ainda era distribuído em meio impresso) POR ARAGÃO,
tendo ao fundo uma fotografia em branco-e-preto, na qual
focalizado está, no Centro de Manaus, o Edifício Zulmira Bittencourt; a propósito,
esse é o prédio onde, no passado, existia o Cinema Odeon [EM FESTIVAL DE 1969,
SILVINO SANTOS (precursor do cine-documentário no Amazonas) FOI RECONHECIDO,
AINDA VIVO E RECEBENDO TROFÉU, COMO GRANDE NOME DA HISTÓRIA DO
CINEMA MUNDIAL, DEPOIS DE DÉCADAS DE ABSURDO ESQUECIMENTO]; anos
depois, em 1982, o responsável por esta Coluna "Recontando...", que infelizmente,
por morar no Rio, não presenciou, no final da década de 1960, I FESTIVAL NORTE
DO CINEMA BRASILEIRO, assistiu, já na nova sala de exibição, muito menor, aliás,
do que o velho Odeon, o importante e hoje cult "filme de terror" de George A. Romero
(Zumbi, o despertar dos mortos) que fez com que, subitamente, o interesse pelos
cultos africanos migrados para a América Central, especialmente para ilhas caribenhas,
o conduzisse a estudos - meramente introdutórios, mas muitíssimo interessantes -
antropológicos, ou seja, por assim, dizer extra-midiáticos (científicos); a propósito, sendo
Aldísio Filgueiras amigo de Márcio Souza (como se depreende do acompanhamento
da carreira de escritor de Souza), cabe lembrar que, no romance Mad Maria, a menção
às crenças barbadianas de muitos operários afrodescendentes da época da construção
da Ferrovia Madeira-Mamoré, nos fez ler com atenção redobrada todos os momentos
em que, no romance, a religião caribenha é citada; na minissérie da TV Globo
Mad Maria, gravada a partir do romance de Márcio Souza, o respeito dos representantes
do empreendedor, Sr. Percival Farquhar, para com a religião afrocaribenha não deixou de
ser registrada, para alívio de quem temia uma possível lacuna, mas foi surpreendido
com a excelente adaptação televisiva!
(http://www.call.org.br/materia_audisiofilgueiras.asp,
onde se pode ler a legenda original da montagem fotográfica apresentada:
"Em nosso mundo contemporâneo, renovar a linguagem poética é tarefa para poucos. Mas para o poeta Aldisio Filgueiras isso não parece tão complicado. Em seu livro Nova Subúrbios, Editora Valer, ele evidencia o seu talento e rigor com a palavra. Sua forma peculiar em denunciar “feridas” do nosso tempo e do mundo suburbano está explícita na sua opção em construir versos crus, que fogem de metáforas, num estilo objetivo.
Por Tony Santos
da Redação da Call")
ADRINO ARAGÃO, do Amazonas,
um dos inventores do gênero MINICONTO,
em foto antiga
(Só a foto: http://oargueirolisergico.blogspot.com/)
"O Adrino me nacionalizou"
(JORGE TUFIC, entrevista pessoal)
"Teatro Amazonas, tu nunca serás a cave The Cavern, de Liverpool! "
(COLUNA "Recontando estórias do domínio público")
Em afetiva homenagem a
JORGE TUFIC, poeta,
HELENA FELICIDADE, pintora,
DÍLSON LAGES MONTEIRO, escritor,
JUCA DE OLIVEIRA, ator, dramaturgo e diretor de teatro, e
ANA PAULA ARÓSIO, atriz,
e à memoria de
JOÃO CASTELO (médico, que filmava em 16 mm),
CARLOS DE ARAUJO LIMA (advogado, cuja casa de campo
se chamava SÍTIO DO PICAPAU AMARELO), e
GARIBALDI CRUZ (pintor, que visitou o Lago do Ayapuá)
e ao imortal BUDDY HOLLY, que não nasceu, nem foi criado
em Liverpool, Inglaterra
25.7.2010 - A cave The Cavern foi A cave! - Pensava eu, antes de ter lido o primeiro ensaio de crítica literária que me chegou às mãos, que Adrino Aragão, o inventor isolado (há mais de 30 anos) do miniconto no Amazonas era "apenas" um inventor de estórias maravilhosas, mas ele é, também, teórico e crítico literário, dos melhores do Brasil e do mundo, hoje. O ensaio aqui reproduzido, com sua autorização, sobre a poesia de Aldísio Filgueiras, é simplesmente soberbo. A importância de Adrino Aragão no âmbito da Coluna "Recontando estórias do domínio público" deve-se, principalmente, ao fato de ele ter declarado, um dia, que O MINICONTO É UMA FÁBULA SEM MORAL. Como sempre leio fábulas de Rubem Fonseca absolutamente sem moral ["sem final" (convencional), mas com parágrafo derradeiro, é claro...] - que não são imorais, nem amorais, como querem algumas pessoas que não se caracterizam por ser detentoras de excessiva argúcia - passei a consumir avidamente os minicontos adrianos. E, a partir de agora, passarei a ler os poemas de Aldísio Filgueiras [não sendo erudito, não tinha lido um texto literário sequer de Filgueiras... além do famosíssimo trecho de poema longo, musicado pelo compositor Torrinho, canção que ficou famosa na interpretação do grupo musical manauara Raízes Caboclas e de sua co-autoria em peça teatral cujo parceiro foi Márcio Souza], uma vez que quem mos indica é... Adrino Aragão! Bom Domingo! F. A. L. Bittencourt ([email protected])
Ritos da Paixão
Adrino Aragão
Ousadia e criatividade talvez sejam as marcas mais fortes do poeta Aldísio Filgueiras. Escritor de incontestável talento, desenvolve com brilho intensa atividade literária como jornalista, compositor e homem de teatro. Sua estréia em livro aconteceu com Estado de sitio, editado em 1968 e proibido de circulação pela censura do governo militar em agitados e sombrios anos de repressão política.
Desde jovem acostumado aos embates da vida e dos movimentos estudantis, Aldísio não deixou que lhe matassem o sonho nem enfraquecessem os ânimos de resistência como cidadão e poeta. Ele já proclamara em versos aqui retirados do livro: “sou um poeta político:/ a geração da morte/ não floriu sobre/ o meu peito”.
E assim, anos mais tarde, brindava o público com as obras, também de poesia, Malária e outras canções malignas (1976) e A República muda (1989). Em ambas, os poemas de forte tensão crítica aos dilemas relacionados com a história, o drama da miséria, a exclusão social, a incompetência dos governos, o esmagamento da memória indígena... “Todos estão a postos/ nas suas esquinas/ nas suas cadeiras/ De balanço/ La Coste” – clamava o poeta contra a pacificidade do cotidiano da sociedade.
Assim como os grandes poetas, Aldísio não faz versos para agradar ou mesmo desagradar o público. Faz poesia por uma necessidade interior. Seus poemas são escritos com forte emoção – não se confunda emoção com sentimentalismo, pieguice. Daí é possível que nos primeiros livros incorpore no discurso poético “uma certa agressividade” que pode lembrar o poeta russo Maiakovski, ou que às vezes utilize palavrões capazes de assustar “a moral e os bons costumes” da sociedade preconceituosa. Mas também é vero, a partir de Manaus – as muitas cidades (1984), o teor crítico de seus poemas se torna menos feroz, a linguagem mais contida, mais bem trabalhada poeticamente. “Eu que fui tribo,/ família, me reduzo/ a indivíduo de rua/ sem fonte de referência/ - uma estatística a mais/ ou menos não vai/ mudar o destino”.
O relacionamento do poeta amazonense com a sua cidade é de amor e de conflito, uma espécie de céu e inferno; mas talvez não haja – como diz o poeta Sérgio Luiz Pereira – “filho mais agarrado umbilicalmente à cidade-zona franca”. Nem mesmo quando Aldísio desabafa: “Porto de lenha/ tu nunca serás/ Liverpool/ com uma cara sardenta/ e olhos azuis” (os versos são de um poema musicado no canto inconfundível de David Assayag e no arranjo musical pela Filarmônica do Amazonas, faz parte de um CD comemorativo aos 330 anos da cidade de Manaus).
O mais recente livro de Aldísio, Nova subúrbios (o título é escrito assim mesmo, trata-se de uma licença poética), é imperdível. Não porque tem como tema a cidade de Manaus, a nova Manaus, capital da Zona Franca. Mas, sobretudo, porque revela uma outra face, não tão bela e atraente, de Manaus, raramente visível aos olhos de quem a visita.
Como um autêntico arauto das tragédias gregas, Aldísio com a força de sua poesia nos leva a um universo dramático, quase inconcebível: “Tudo começa na água./ Gente, cidade, cobiça,/ as vértebras do vento,/ por exemplo, e o medo”. São “levas de gente”, “nômades do rio” que chegam em embarcações ribeirinhas, vêm em busca da cidade que nem mesmo se lembram ter conhecido de perto, vêm carregando a esperança e o sonho de conseguir um lugar no vazio da capital para morar.
Depois da entrada pelo portal da “Cidade Alta de Manaus”, dá-se então o martírio da busca cansativa, interminável para encontrar a cidade que traziam no sonho mas que teima em permanecer invisível. Perdidas as esperanças, passam a ensaiar uma nova linguagem que aprenderam com outros “nômades da rua”. E nos espaços vazios do horizonte da cidade onde os olhos não mais alcançam, constroem novas “cidades”, “bairros”, invasões, não lhes importa que nome dêem as autoridades ou a sociedade. Têm como moradia barracos, palafitas ou casas pernaltas fincadas na beira dos rios, sem endereços e “quintais” sem fronteiras. Agora, só uma certeza: “Sim: os portos mentem”; “O amor, ai que ódio, tem estômago e rim”. E proclama o poeta/arauto da floresta e dos rios: “Então que sejas, cidade...”
Aldísio é um poeta urbano. Ou, se me permitem, um poeta liberto de qualquer rótulo. Pela sua obra perpassa não apenas o sentimento urbano, mas também se revela certa preocupação com as raízes, sem ignorar, no entanto, com as transformações do mundo. Vejam: “Nenhum norte/ corteja este dia/ e o outro/ e o outro/ tão pouco solenes/ do verão que fica/ sem destino (coisa/ alguma que seja)/ o ritmo do tempo” (Celebração do verão).
Eis o nosso poeta Aldísio, lúcido e solitário navegador contra a corrente de águas perigosas da mediocridade. Ele não se deixa iludir pelo canto de sereia dos que preferem “consagrar” o óbvio ululante da mesmice. E paga caro pela irreverência: negam-lhe o justo direito ao reconhecimento na literatura contemporânea brasileira. Mas o tempo, que nada perdoa, se encarregará de fazer justiça.
===
Galeria de fotos:
Bastidores das filmagens de Mad Maria
"Conheça o dia-a-dia de ANA PAULA ARÓSIO, FÁBIO ASSUNÇÃO e toda a equipe da minissérie Mad Maria em plena Floresta Amazônica. E confira cenas das gravações desta que é uma das empreitadas mais difíceis já armadas pela TV Globo
Boléia Os atores Juca de Oliveira e Genézio de Barros pegam carona na litorina, pequeno vagão que leva o elenco e equipamento para o set de gravação.
Registro Na porta da base de produção, em Abunã,
Fábio Assunção registra o assédio das fãs.
Foco Quando não está gravando, Ana Paula passa o tempo fotografando cenas locais. "Sempre gostei de fotografar e aqui tenho conseguido imagens bem interessantes. Tenho por hábito registrar meus trabalhos desde o
filme O Coronel e o Lobisomem."
Remédio Fábio Assunção, como o médico Joe Finnegan,
contracena com André Frateschi.
Triângulo Ricardo Waddington dirige a namorada Ana Paula e o ator Gabriel Tacco. Eles serão o casal Consuelo e Alonso, que vão sofrer um acidente no Rio Madeira ao tentar transportar um piano.
Madeira Uma das cenas da construção da Ferrovia Madeira-Marmoré, apelidada de Mad Maria pelos americanos que vieram ao Brasil para a obra.
Ação Ana Paula Arósio é maquiada antes de entrar em cena
TECLADO Antes de começar a gravar, Ana Paula se familiariza com o piano que irá usar em cena. Como sua personagem, Consuelo, é uma pianista, a atriz teve aulas de piano para gravar as cenas em que aparece tocando o instrumento".
(http://www.network54.com/Forum/392899/thread/1110047697/1110047697/PERDIDOS+NA+SELVA+-ENTREVISTA+ANA+PAULA+AROSIO+E+F%C1BIO+ASSUN%C7%C3O+SOBRE+MAD+MARIA)
===
JOSÉ EDSON DOS SANTOS,
SOBRE A VIDA E A LITERATURA
DE ADRINO ARAGÃO,
EDITOU
Anton Tchekhov
Adrino Aragão entre os escritores Donaldo Melo e Paulo José Cunha,
na comemoração dos dez anos das Noites Culturais T-Bone, em 13/03/08.
Adrino Aragão de Freitas nasceu em Manaus, no dia 6 de outubro de 1936. Formado em Direito, trabalhou no Banco do Brasil, instituição pela qual se aposentou. Já ganhou prêmios literários e tem trabalhos incluídos em diversas antologias. Reside, atualmente, em Brasília. Obra de ficção: Roteiro dos vivos (Manaus, 1972), Inquietação de um feto (Manaus, 1976), As Três faces da esfinge (Natal, 1985). A Verdadeira festa no céu: ficção infanto-juvenil (Brasília, 1991). Tigre no espelho. Da anta Casa Editora, Brasília,1993. Os Filhos da Esfinge. Da Anta Casa Editora, Brasília, 1998. A Cabeça do Peregrino Cortada pelos Filhos do Cão. Valer Editora, Manaus, 2005. Conto, Não-Conto & Outras Inquietações, Da Anta Casa Editora, Brasília, 2006. O Champanhe. LGE Editora, Brasília, 2007.
[email protected]
Escritório de Escritor
Prateleiras abarrotadas de livros. Num pequeno espaço da parede, reproduções de Guernica (Picasso) e Comedores de Batatas (Van Gogh), e algumas molduras com fotos do escritor em lançamentos e palestras em escolas. Sobre a mesa, computador, impressora, resma de papel, caderno e o telefone dividem o mesmo espaço. Mais livros, revistas, cadernos e jornais se amontoam no chão, formam labirintos de difícil acesso. A janela, aberta para o antigo terreno baldio ao lado, agora ocupado por enormes edifícios de apartamentos, não permite mais que ele veja o céu límpido e as andorinhas em revoadas festejando o verão.
Mas nada disso preocupa nem atrapalha o escritor. Escrever é ato solitário, exige concentração e solidão. A vida toda, ele escreveu à máquina. Mas agora foi obrigado a trocar a maquina de escrever pelo computador, porque as editoras exigem que o texto lhes seja remetido em disquete, Aí começou o problema, agravado mais ainda quando , entre uma pausa e outra mais demorada, surge na tela o homenzinho agitado, consulta o relógio de algibeira, bate nervoso o pé, uma, duas, três vezes, pergunta em seguida: "Deseja ajuda?".
O escritor põe levemente os dedos sobre o teclado, olha a tela do computador. O homenzinho continua lá, anda de um lado para o outro, mãos e braços vltados para trás. O escritor sorri e diz: "Vamos, companheiro. Mas, desta vez, acalme-se, deixe-me escrever sossegado".
A sala é ampla. Na parede, o quadro com o rosto de Anton Tchekhov. Próximos à janela, o sofá e duas poltronas e uma penteadeira. Sobre a mesa de jantar coberta com toalha de linho branco, os pratos de porcelana, talheres de prata e taças de cristal, todos arrumados para três pessoas; no centro, duas novas edições de A gaivota e O jardim das cerejeiras. Na banqueta, o balde de gelo e a garrafa de champanhe sobre a bandeja de prata.
Boris, alto, forte, cabelo grisalhos, parece ser o mais velho, levanta-se e, com a taça do champanhe na mão, propõe o brinde.
Andrei, estatura mediana, cabelos castanhos, barba e bigode bem cuidados, oferece a taça do champanhe à exuberante Maria, cabelos prateados, olhos cinza-esverdeados, vestida com elegância.
- À memória de Anton Tchekhov, o maior escritor do mundo!
Boris, o pensamento mergulhado no passado, lembra o famoso escritor, as peças de teatro que ele escreveu e nas quais atuou Boris; já se passaram dez anos do falecimento, mas Anton Tchekhov permanece vivo não apenas na memória de cada um dos que ali se encontram reunidos, mas nos livros e nas peças que deixou. Olhando agora os livros no centro da mesa, a emoção é tão forte que Boris parece vê-lo presente, em carne e osso, como se vivo estivesse.
Mãos apoiando o queixo, Andrei sussurava o que dissera Anton Tchekhov: "Odiamos o passado, odiamos o presente e tememos o futuro. Esquecemos, no entanto, que o futuro que tememos se transforma no presente que detestamos e no passado que adoramos." Anton Tchekhov sabia das coisas, mais do que qualquer outro; mostrou isso sutilmente em cada obra que escreveu. Como no conto em que relata a história do esquisito professor de grego que, mesmo com o céu claro, o tempo bom, saia de galocha, guarda-chuva e sobretudo forrado de algodão. Se não bastasse, ele vivia prisioneiro numa redoma, para defender o culto à língua de Homero e ao passado que amava, de qualquer interferência da realidade que o mantinha em sobressalto permanente.
Maria encaracolava com os dedos a mecha de cabelos, perdia-se em devaneios. Ah, meu queridoAnton, não há um dia que eu não me pergunte por que você escolheu Olga e a não a mim, a sua "linda princesa dos contos de fada", às vezes me ponho a dizer alto, na tentativa de convencer a mim mesma, como Daniacha, a personagem em O cerejal: "Ele me ama, ele me ama tanto!". Chego a sentir arrepios.
Boris rompe o silêncio: estamos os três reunidos para homenagear Anton Tchekhov. Sem discursos, sem formalismos. Anton tinha horror a essas coisas. Gostava de simplicidade; aliás, simplicidade e concisão eis os dois pontos fundamentais da estética de vida e de literatura de Anton Tchekhov. Preciso ser conciso, explico-me. Cada um de nós tem boas lembranças dele. Sugiro que cada um conte alguma coisa sobre ele, mesmo que seja trivial, alguma confidência, por que não? Quem começa? Você? Ou você?
Eu? Por que eu? (Fragmento da novela O Champanhe, de Adrino Aragão. LGE Editora, Brasília, 2007)