Que dizer de um mestre que tacha jovens pupilos de estúpidos, ignorantes, burros, simplesmente, porque, em vez de ouvirem as músicas de que ele gosta e que, obviamente, só por esse motivo, são as melhores, ouvem as que mais lhes agradam, independentemente da qualidade estético-musical ou poética que se lhes atribua tal mentor? Ou que quase entra em colapso coronariano, em decorrência do estado de exasperação que se lhe abate, apenas porque, em vez de verem filmes clássicos, jornais menos sensacionalistas, ou de lerem os livros e as revistas que ele julga sérios porque podem influenciá-los, positivamente, aqueles jovens metem-se a ver cinema, não pelo pretenso valor qualitativo da obra cinematográfica, mas pela quantidade de efeitos especiais que os filmes apresentam; pelo surrealismo dos roteiros e dos enredos, por sua beleza plástica; e a folhearem jornais visando neles encontrar mais amenidades, entretenimento, lazer, do que informações capazes de lhes fornecer o conhecimento ou a atualização educacional desejada pelo professor, no campo da boa literatura, da aclamada e valorosa música; enfim, de tudo aquilo que os induza a obterem a cultura que o guia pensa ou acha que tem?


Que dizer, então, daqueles indivíduos que, gratuita ou, intempestivamente, sugerem aos telespectadores das novelas ou de diversos programas de televisão a, por mais que lhes deem prazer ou os façam felizes assistirem a baboseiras, a largarem mão delas e se voltarem para a leitura de um clássico carimbado, um romance medieval, um bom livro de história antiga que os leve a se deleitarem com as peripécias bélicas de romanos e cartagineses nas cruentas batalhas contra os fenícios, ocorridas três séculos antes da era cristã, quando esses dominavam o comércio na região do Mediterrâneo? Será que alguém precisa ir tão longe para ver idiotices assim ou tomar conhecimento de violência semelhante às expostas nas criticadas novelas ou nos sensacionalistas e espalhafatosos programas televisivos? Claro que não: basta sair às ruas, conversar com as pessoas; quase todo mundo tem um exemplo de violência ou de desrespeito para compartilhar com os outros. 


Devemos, todos, tentar entender que ninguém é dono da verdade. Afinal, o que é a verdade? Parece leviano qualquer um que se arvore criticar jovens ou velhos pelo pouco caso ou pela não sujeição a certas regras de conduta, morais, educacionais ou existenciais, que lhes queiram impor indivíduos ranzinzas ou hipócritas que, talvez por não terem sabido ou podido bem aproveitar sua juventude ou os melhores anos, tentam, a partir de critérios subjetivos ou de mensuração especial ou esdrúxula, pois sem base científica comprovada, descaracterizar ou desvalorizar as situações, os fatos ou experiências que, agora, hoje, jovens, adultos e velhos, consideram importantes, interessantes ou relevantes vivenciar. Tantas vezes a baboseira de que falam os que se julgam iluminados, seja intelectualmente, seja devido à larga experiência existencial que imaginam ter, nada mais é do que a válvula de escape de que se servem homens inteligentes para suportarem as pressões impostas pela incomensurável oferta de informações, para as quais, nem sempre há tempo de efetuarem triagens eficazes, no sentido de separar o que merece aprofundamento do que não passa de desinformação.


As pessoas interessadas em munir os menos experientes ou os mais incultos de conhecimentos práticos eficientes, têm que lhes oferecer mais que experiências individuais; precisam mostrar-lhes que o mundo gira, independentemente de sua vontade, e que, por conseguinte, aceitar o novo, a novidade, o diferente, sem prévio juízo de valor, é ato dos mais inteligentes, mesmo porque, a despeito do que pensem ou entendam, pouco ou nada poderão fazer para impedir que apareçam ou aconteçam. Portanto, dada sua condição de imutáveis, peremptórios, melhor aceitá-los como fatos definitivos, considerando-os, se isso lhes parecer menos traumático ou mais digerível, tão somente fruto de uma realidade pujante e mutante.
                                                                                Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal
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