ELMAR CARVALHO

 

 

Na reunião deste sábado da Academia Piauiense de Letras, inscrevi-me para falar, e tratei de dois assuntos da mais alta relevância para a nossa literatura. Inicialmente, disse que quando fui presidente da União Brasileira de Escritores do Piauí, no biênio 1988/1990, sucedendo o poeta Francisco Miguel de Moura, meu confrade na APL, fiz uma campanha para inserir a obrigatoriedade do ensino de Literatura Piauiense no texto da Constituição Piauiense de 1989. Tive o respaldo e o estímulo de meus companheiros de diretoria nesse desiderato.

 

Contando com o apoio decisivo do deputado Humberto Reis da Silveira, relator-geral de nossa Carta Magna, a obrigação de essa disciplina ser ensinada nos colégios do Piauí foi insculpida no artigo 226 do texto constitucional. Lamentavelmente, passadas mais de duas décadas, esse dispositivo continua a ser quase uma letra morta, porquanto nem mesmo os colégios públicos municipais e estaduais o cumprem, o que é um verdadeiro absurdo, uma vez que os órgãos públicos, cuja existência é instituída por lei, deveriam dar o bom exemplo no cumprimento da legislação, sobretudo a constitucional.

 

Devo dizer que não sei quais os reais motivos para que o estudo de Literatura Piauiense, previsto em nossa Constituição Estadual, não seja implementado. E principalmente desconheço qual o real motivo para que a Secretaria Estadual de Educação não execute o dispositivo constitucional a que me referi, nem mesmo nas escolas da rede estadual. O ensino dessa matéria seria de capital importância para que os nossos poetas e escritores se tornassem conhecidos em nosso estado, mormente seus textos, que deveriam constar de antologias e compêndios escolares.

 

Em seguida, disse a meus confrades que em minha gestão na UBE-PI iniciei um movimento para que os restos mortais do excelso poeta Antônio Francisco da Costa e Silva, o poeta maior do Piauí, fosse sepultado na sua Amarante. Fiz alguns contatos, inclusive com a Academia Piauiense de Letras. Quando tinha oportunidade, tratava desse assunto, fosse em eventos literários, fosse através da imprensa. Usava como principal argumento haver ele feito esse pedido. Recitava, então, o terceto final de seu soneto Amarante, no qual o poeta externara de forma sublime e magistral esse desejo.

 

No meu discurso de posse na Academia Piauiense, voltei a esse assunto, quando disse: “(...) talvez seja o momento de se trasladar para Amarante os despojos de Da Costa e Silva, já que ele, quando cantou sua terra, implorou em versos de incomparável maestria: “Terra para se amar com o grande amor que eu tenho!/ Terra onde tive o berço e de onde espero ainda/ Sete palmos de gleba e os dois braços de um lenho!” Em Amarante, o seu mausoléu-memorial seria visitado e reverenciado, em verdadeira peregrinação turístico-cultural”.

 

Por fim, informei aos ilustres acadêmicos que estivera na quarta-feira da semana passada em Amarante, à tarde, a convite do poeta e escritor Virgílio Queiroz, para participar de uma reunião em que seria discutida a criação de um memorial ou panteão simbólico a Da Costa e Silva, já que a sua família não permite o traslado dos restos mortais do grande poeta brasileiro, segundo me foi informado. Consta que a sua viúva, mãe do poeta e embaixador Alberto da Costa e Silva, não era favorável a essa ideia, porquanto costumava rezar no túmulo do marido, localizado em cemitério carioca. Mesmo com a morte de dona Creusa Fontenele, o Virgílio Queiroz me disse que Alberto ainda é contra essa remoção, por motivos que ele desconhece.

 

Quando terminei minha peroração, alguns confrades, para honra minha, me apartearam, dando-me o seu apoio e solidariedade, entre os quais Herculano Moraes, que acrescentou algumas informações sobre os entraves referentes ao não cumprimento do artigo 226 da Constituição Estadual, ao tempo em que prometeu convidar a deputada Margareth Coelho, que foi minha colega e do presidente Reginaldo Miranda no curso de Direito da UFPI, para debatermos esse assunto de capital importância para a difusão e conhecimento de nossa cultura literária.

 

Também fui aparteado pelo desembargador Manfredi Mendes de Cerqueira, que apoiou as duas ideias sobre as quais me pronunciei. Sugeriu que o presidente da APL enviasse ofício ao secretário da Educação, deputado federal Átila Lira, solicitando que ele dê cabal cumprimento ao artigo 226 de nossa Carta Magna, implantando o ensino de Literatura Piauiense na grade curricular, como disciplina obrigatória, e não de forma optativa ou como matéria transversal ou afim, e ao prefeito de Amarante, Luís Neto, pela sua determinação em construir o memorial e panteão em honra do poeta Da Costa e Silva, parabenizando-o por esse projeto.

 

Virgílio Queiroz, retomando a minha antiga luta, me convidou, algumas semanas atrás, para trocarmos ideia sobre a criação desse memorial, que seria uma espécie de mausoléu simbólico. Dei-lhe vários palpites, na oportunidade, que se somaram ao que ele idealizara. Portanto, o poeta me convidou para esse encontro na Terra Azul do Poeta, a fim de que transmitíssemos nossas sugestões ao prefeito Luís Neto e ao vice-prefeito Clemilton Queiroz. Não irei entrar em detalhes. Apenas direi que Luís Neto ficou deveras empolgado com essa iniciativa.

 

Ficou tão entusiasmado, que acrescentou ideias suas a esse projeto, engrandecendo-o e valorizando-o. Convidou-nos a conhecer dois locais onde o monumento simbólico do último desejo do poeta e o memorial poderiam ser erguidos. De imediato, recomendou que Virgílio e Clemilton Queiroz contratassem um escritório para elaborar o projeto. Falou que as placas com os poemas e ilustrações seriam feitas em duplicata, para também serem afixadas no imenso alpendre interno da sede da prefeitura.

 

Sobre esse alvissareiro encontro, colhi a seguinte informação no portal Amarantenet, que muito me desvaneceu: “Elmar Carvalho, que lançou essa ideia de trazer os restos mortais de Da Costa e Silva há mais de trinta anos, quando a convite de Virgílio Queiroz, participou de um debate literário em Amarante, publicou em seu blog artigos diversos sobre esse desejo do grande vate piauiense, sempre se embalando nos versos do soneto “Amarante”. Vamos em frente, poeta Elmar”. Acrescento: vamos em frente prefeito Luís Neto, Clemilton Queiroz, poeta Virgílio e demais amarantinos, amantes dos versos do Príncipe dos Poetas Piauienses.

 

Várias pessoas acorreram ao local, onde provavelmente serão erigidos o memorial e o monumento simbólico do último desejo de Da Costa e Silva, como uma antecipação da importância que essa obra terá no culto ao grande poeta, que permanece vivo no coração e no amor de todos os amarantinos. Certamente o monumento e o memorial acolherão os restos mortais do poeta, como uma relíquia preciosa, quando sua família permitir que eles venham repousar no solo sagrado de sua terra mater.