Montanhas de Ouro Preto

[Murilo Mendes]

A Lourival Gomes Machado

 
Desdobram-se as montanhas de Ouro Preto 
Na perfurada luz, em plano austero. 
Montes contempladores, circunscritos, 
Entre cinza e castanho, o olhar domado 
 
Recolhe vosso espectro permanente. 
Por igual pascentais a luz difusa 
Que se reajusta ao corpo das igrejas, 
E volve o pensamento à descoberta 
 
De uma luta antiquíssima com o caos, 
De uma reinvenção dos elementos 
Pela força de um culto ora perdido, 
 
Relíquias de dureza e de doutrina, 
Rude apetite dessa cousa eterna 
Retida na estrutura de Ouro Preto.