Todos os vícios, quando estão na moda,
passam por virtudes.
Molière
A moda é um tema surpreendente. Vamos dormir acreditando que o uso de ombreiras é o suprassumo da elegância e quando acordamos descobrimos apavorados serem elas na verdade, a peça mais cafona no nosso guarda-roupa. A velocidade dessas mudanças é tão grande que demoramos a nos adaptar.
No entanto, essas regras – não escritas – determinantes do nosso modo de vestir ou de se comportar, não são uma exclusividade da indústria da moda. Elas também podem ser observadas no uso de algumas expressões que, de vez em quando, surgem no nosso vocabulário. Em muitos aspectos, elas também pautam a nossa conduta, pelo menos durante o tempo que permanecem sendo utilizadas.
Há alguns anos, a palavra paradigma passou a ser mencionada com tamanha frequência que era difícil não participar de uma roda de amigos sem ouvir frases do tipo: “Precisamos mudar os nossos paradigmas”, “Estamos vivendo uma mudança de paradigmas” ou, ainda, “O teu paradigma está ultrapassado”. E se alguém resolvesse perguntar, “afinal, qual o significado de paradigma?” corria o risco de ser tachado de ignorante ou alienado. Contudo, fico me perguntando: essas pessoas realmente sabiam o que estavam dizendo? Não sei. Tenho minhas dúvidas.
Entretanto, passado um tempo – cuja duração é bastante relativa –, o problema de mudar ou não mudar o paradigma acabou indo para um segundo plano. Motivo? Surgia no horizonte uma nova moda, algo que, segundo os pregadores de plantão, iria revolucionar a sociedade: agora o importante era refletir sobre estratégias. “Você não pode se prender a planos muito elaborados, o importante é pensar em estratégias que facilitem a sua vida”. “Qual a sua estratégia para resolver esse problema?”. Não ter uma resposta para essas ou outras perguntas do mesmo tipo era um sinal claro de que não se estava em sintonia com os novos tempos. E, se o substantivo estratégia viesse acompanhado do adjetivo empreendedor tudo ficava ainda pior.
E assim poderia citar outros exemplos de expressões que entraram e saíram de moda sem que as pessoas conseguissem realmente compreendê-las. Entretanto, para mim, o problema não está apenas em falar sem entender, mas em impor esses conceitos aos outros, como se eles fossem a panacéia para todos os conflitos vividos pela humanidade. Se as pessoas compreendessem, por exemplo, ser a palavra paradigma apenas um sinônimo para modelo, saberiam que não há um, mas vários paradigmas e todos, analisando o contexto no qual foram criados, podem e devem ser considerados corretos.
Do mesmo modo, querer aplicar indiscriminadamente a linguagem empresarial a todos os setores da sociedade só fará com que conceitos como o de estratégia ou o de empreendedorismo sejam mal interpretados e, consequentemente, mal utilizados. Afinal, nem sempre as pessoas estão em busca de estratégias, talvez elas queiram apenas viver sem se preocupar com metas ou objetivos a serem atingidos.
Assim, quando você for apresentado a uma nova expressão, pense que ela pode ser como uma daquelas ombreiras usadas antigamente nos casacos. Você dorme acreditando ser o mais sábio dos mortais e quando acorda, descobre que tudo não passou de mais uma moda, criada, muitas vezes, por “intelectuais” distantes da nossa realidade. Afinal, por trás de toda a moda há sempre uma ideia e descobrir o que ela pode estar ocultando será o grande desafio para quem não deseja ficar repetindo palavras vazias. Esse pode ser um bom motivo para redobrarmos os cuidados quando nos deparamos com conceitos que surgem do nada oferecendo saídas milagrosas para os nossos problemas.