[Maria do Rosário Pedreira]

Um dia destes, fui a uma escola secundária falar com adolescentes sobre poesia e criação literária em geral. Fizeram-me perguntas bem interessantes, deram opiniões muito curiosas e, no seu todo, a sessão foi mais produtiva do que muitas em que participei para leitores adultos. Nem sempre corre assim tão bem, mas, em regra, as crianças e os adolescentes ainda não perderam uma certa vergonha de se expor e costumam ser mais sinceros. Um dia destes, divertimo-nos bastante com uma colega que trabalha na área infantil da Oficina do Livro e que recebe vários e-mails de miúdos. Uma menina de 11 anos andava a ler As Mulherzinhas e, ao terminar o primeiro capítulo, escreveu a dizer que tinha encontrado uma gralha, que a seguir identificava, indicando a página e a linha respectivas, e corrigia. Um rapazinho ainda mais novo, de 8 anos, mandou uma longa mensagem a explicar que se tinha posto a ler um livro de Miguel Sousa Tavares (já não me lembro qual) e, porque estava a gostar muito, queria agradecer à «iditora» que o tinha publicado, avisando que, quando se encontrasse mais adiantado na leitura, daria uma opinião detalhada. Fantástico. Quando eu escrevia livros juvenis, recebia muitas cartas de leitores – algumas com críticas completamente justificadas e o elenco das gralhas que depois se corrigiam nas edições seguintes. Valham-nos estes pequenos intelectuais, que serão provavelmente os leitores de amanhã, se tivermos a sorte de não se perderem pelo caminho com outros objectos lúdicos ou, claro, vícios piores.

Maria do Rosário Pedreira é escritora e editora de Leya em Portugal.