Márcia Evelin: “Que bela história, Dílson!”
Em: 30/05/2021, às 22H55
{Márcia Evelin]
Que bela história, Dilson! Sua história faz a gente pensar em muita coisa, por isso acho que, acima de tudo, ela é uma narrativa filosófica que fala da amizade entre um prédio e um pássaro.
Há muitas metáforas nas interlocuções do prédio, principalmente, o que possibilita ao leitor querer descobrir o indizível, o que há por trás do dito. Por isso a vejo como uma história para um público adolescente e adulto, embora possa se lida e admirada pelas crianças também.
Esta não é uma história de fácil entendimento, precisei ler uma segunda vez para entender que a conversa acontecia entre um prédio e um pássaro. Por essa razão não é uma história para leitores desatentos ou que gostem de narrativas diretas, objetivas e com uso de uma linguagem coloquial, embora você tenha usado as adivinhas no início, para apresentar os personagens, o que considero que caiu muito bem, por trazer um ar de brincadeira a narrativa.
Penso em como seu texto pode ser explorado por um mediador da leitura, como por exemplo: solicitando que os ouvintes relatem como é a vida num prédio, de que “movimento” ele fala, etc. Por colocar em evidência a existência de um relacionamento de amizade entre uma coisa (objeto inanimado) e um ser vivo, o que é permissível no campo da literatura, o texto pode ser ponto de partida para uma discussão sobre a possiblidade de “diferentes” se relacionarem (diversidade).
A narrativa também permite que o ouvinte/leitor se questione sobre a vida nas cidades grandes, a ausência/presença de pássaros, sobre a existência de prédios, que muitas vezes são construídos com a derrubada de árvores, trazendo à baila o tema do desmatamento desordenado ou mesmo dos prédios tomarem o lugar das árvores que abrigam os pássaros.
Longe de querer fazer uma análise gramatical ou semântica (o que não me cabe aqui), me delicio com seu texto sentindo o efeito e as percepções que suas palavras bem ditas me causam e já imaginando o objeto livro (prestes a nascer) nas mãos dos leitores. Desejo que O pássaro amarelo de sol e o agasalho do vento ganhe os ares e sua leitura seja uma experiência de leveza e desejo de descoberta.
* Márcia Evelin é professora, contadora de histórias e escritora de obras juvenis.