Malhados e corcundas
Por Maria do Rosário Pedreira Em: 27/10/2011, às 15H40
[Maria do Rosário Pedreira]
Nas guerras liberais, os malhados eram os liberais e os corcundas os absolutistas. Estes faziam demasiadas vénias, andando sempre curvados ao seu rei, daí o epíteto; e, porque uma mula malhada se empinara e deixara cair D. Miguel ao chão, passaram a dizer-se malhados os partidários do seu irmão D. Pedro. Ora, é no contexto desta guerra que se desenrola o último romance de Paulo Moreiras, O Ouro dos Corcundas – a deliciosa história de Vicente Maria Sarmento, regressado a Chão de Couce depois de uns anos na cadeia do Limoeiro, em Lisboa, pronto a regenerar-se e a viver em paz e decência o resto dos seus dias com a puta Tomásia, que não conseguiu esquecer desde que rumou à capital. Mas, se os dois irmãos estão em guerra pelo trono de Portugal, a Vicente Maria também não são poupados adversários e rivais, e as suas boas intenções ver-se-ão sistematicamente goradas. Valer-lhe-á um último golpe de má conduta, mas o acaso pregar-lhe-á uma partida das grandes, mostrando que um pequeníssimo imprevisto pode, realmente, mudar a história de um país inteiro. Cheio de humor e recorrendo a uma linguagem rica e poderosa, eis o novo romance de um escritor que se tem destacado na literatura picaresca em Portugal.