Madrugada

Madrugada

Rogel Samuel


Escrevo na madrugada. O calor está quase insuportável. O silêncio da cidade é sufocado pelo som grave dos dois ventiladores funcionando. Nenhum automóvel passa nesta rua, de natural tão deserta. Como estarão os astros? De minha janela não tenho a visão do céu, como gostaria, moro no térreo, há plantas e árvores... Em Dênia, Espanha, eu tinha a visão ampla do mar, do céu e da pequena cidade lá embaixo. Era no município de Alicante, e aquela montanha se chama Pedreguer. Fiquei cerca de um mês. Foi uma bela experiência. Nossos momentos de vida mais ricos vivemos em recordá-los. Desenvolvi uma técnica de defesa que só me recordo das ocorrências mais belas e felizes. Isto é o meu lado indígena, herança de minha avó peruana filha de uma índia quechua. Dos andes. Tive pouco contato com minha avó quechua. Ela dizia que era nobre, da família Cellis, ou Celis, nobres espanhóis, família antiquíssima atestada desde a Roma antiga. Mas meu pai certa vez relatou que ela deveria ser filha natural de um espanhol com uma índia. Escrevo de madrugada, no calor carioca. Minhas lembranças me levaram a sonhar com Andes, Pedreguer e a figura de minha avó Antonia Samuel.