Hideraldo Luiz Bellini, zagueiro-central, jogou na equipe do Vasco de 1952 até 1961. Zagueiro de pouca técnica e muita disposição, disputava cada lance com muita raça e lealdade. Bellini foi o capitão da seleção brasileira campeã mundial em 1958. Seu famoso gesto, levantando a Taça Jules Rimet, mereceu uma estátua em frente ao Estádio do Maracanã, a conhecida “Estátua do Bellini”. Consagrou-se no Vasco como um exemplo de liderança, dedicação e amor à camisa."
"Parfitt Balsanelli, baixista que tocava com Celso nas turnês no Sul.
"Tocamos pouco mais de dois anos com ele. Além da contribuição na música, ele era uma figura. As viagens pareciam sala de aula e ele gostava disso: para o Celso, parecia obrigação passar o que ele tinha aprendido durante a carreira. É uma lacuna que não tem como substituir, ficou um buraco na música nacional."
Rafael Vieira, baterista que tocava com Celso nas turnês no Sul.
"Foi uma baita experiência tocar com ele. O Celso era muito regrado e objetivo, com ele não tinha enrolação. A gente sentia, naquela época, que ele já estava meio debilitado, mas na hora de tocar ele levantava a galera. Ele nos tratava como iguais e nunca ficava nervoso, a não ser quando algo dava errado — como na vez em que estávamos viajando, a janela do carro quebrou e todas as guitarras dele caíram na rua."
Roger Robleño, cineasta, era amigo e começou a gravar um documentário sobre a história do rock nacional com Celso.
"Conheci o Celso há quase 20 anos, antes de ele vir morar em Joinville. Ele escolheu a cidade porque queria um lugar tranquilo, mas que tinha aeroporto. Às vezes, ele me falava 'vamos lá buscar um amigo no aeroporto', nós chegávamos e era o Luiz Melodia. Esses caras vinham visitar ele aqui, passavam o dia na casa dele. O Celso adorava o Piraí e uma cervejinha. Ele brincava dizendo: a cerveja me salvou do alcoolismo."
Cleiton Profeta, músico e dono da loja de instrumentos Circus Musicalis, que Celso freqüentava.
"Ele sempre vinha comprar instrumentos na minha loja e era um cara muito legal, virou meu amigo. O Celso foi um divisor de águas na música do Brasil, ele era contemporâneo do pessoal dos anos 1980, como Legião, Cazuza, mas enquanto esse pessoal foi pro new wave, ele quis buscar a raiz do rock, com o blues. Com isso, trouxe uma sonoridade diferente pra nossa música."
Gustavo Steingraber, amigo e dono do Taberna Music Hall, onde Celso se apresentou algumas vezes em Joinville.
'Ele vai fazer muita falta, o nome dele vai ficar gravado na história da música. Era um cara que abria o jogo e quando estava num lugar era sempre o centro das atenções. Onde estivesse, todo mundo prestava atenção nas histórias dele.' "
"Exatamente um ano atrás, "Orelhada" [VEÍCULO DE COMUNICAÇÃO CUJA FORMA IMPRESSA É PUBLICADA SIMULTANEAMENTE À ELETRÔNICA (http://wp.clicrbs.com.br/orelhada/)] entrevistou Celso Blues Boy pela última vez. O pretexto era o lançamento de Por um Monte de Cerveja, seu primeiro disco de faixas inéditas em mais de uma década e viria a ser seu derradeiro trabalho de estúdio. Pra minha surpresa, ele ainda não considerava a aposentadoria, apesar da desilusão com as gravadoras, o público, a mídia e a música atual. "Vou lançar mais um (disco) inédito, um da Legião Estrangeira (banda que integrou nos anos 70) e outro de compositores brasileiros", projetava. "Nem me importo com o resultado dessas coisas. É mais um projeto meu, que, se for abraçado por gravadoras, muito bem, se não, será lançado da mesma forma". Até onde se sabe, tais ideias ficaram pelo caminho, interrompidos pela morte do músico, segunda-feira (6).
Mas o fim da jornada terrena de Celso não significa, necessariamente, o desfecho da saga. Passado o tranco da má notícia, começaram a surgir notícias sobre material relegado a segundo plano pelo guitarrista e que um dia, quem sabe, virá à tona. (...)"
(RUBENS HERBST, em seu artigo que pode ser lido, na íntegra, em:
"(...) Em 1986 a banda [BANDA BLINDAGEM, surgida em 1970 em Curibiba] divide o palco com vários expoentes do rock nacional, como: Celso Blues Boy, Cazuza, Titãs, Kid Abelha, entre outros.
Uma parceria entre Roberto Menescal e a PolyGram, a Blindagem lança alguns sucessos, como: "Além do Silêncio" que culmina no trabalho "Cara & Coroa", LP lançado em 1987. (...)"
(...) A morte de Celso Blues Boy cala um artista que erroneamente era tido, pela maioria, apenas como um guitarrista esplêndido. Disso, é até ridículo falar - era mais do que perceptível que ele empregava cada gota de suor e sangue em solos que arrepiariam até uma pedra. Seu talento, porém, ia muito além de acordes emocionantes. Na verdade, essa habilidade divina nas seis cordas era empregada em composições que, nas entrelinhas, exalavam um entendimento da condição humana raro entre seus contemporâneos: a compreensão, imensurável pra maioria, de que, afinal, estamos por nossa conta e terminaremos sós. O que pode ser mais blues do que isso?
Celso foi reconhecido como o responsável pela popularização do estilo americano no Brasil, isso nos anos 80, quando explodiu nos quatro cantos do País com Aumenta que Isso Aí é Rock'n'roll. Parece irônico, mas o hit serviu pra trazer à tona a história "pregressa" do músico, que uma década antes já colocava sua guitarrista a serviço de astros como Raul Seixas e Sá & Guarabira e fazia sucesso no Rio com formações blueseiras hoje lendárias, como a Legião Estrangeira. Se o rock serviu pra finalmente mostrar Celso ao resto da nação, foi o blues que amparou o restante de sua obra o responsável por dar-lhe a solidez (além do nome artístico, emprestado do ídolo BB King) pra que não fosse apenas uma onda passageira.
E não foi. Celso viu ídolos da época afundarem e outros atingirem os píncaros da fama, enquanto ele optou pela integridade artística. Se lhe causou problemas com empresários e gravadoras, lhe garantiu o respeito dos fãs, a longevidade na carreira e, acima de tudo, a paz de espírito. Celso nunca vendeu sua arte. Ter trocado seu Rio de Janeiro por Joinville, há mais de 15 anos, foi parte dessa busca pelo sossego que julgava essencial pra criar fiel a seus princípios. Apesar dos pesares, conseguiu: Por um Monte de Cerveja, lançado no ano passado (...), é um disco que lhe deu orgulho por explanar pensamentos e opiniões que cultivava. Segundo ele, quem quisesse conhecê-lo, que ouvisse o trabalho.
Hoje, o disco é uma despedida por vias tortas. Celso sabia que morreria cedo. Até torcia por isso, visto os percalços que sua saúde enfrentou ao longo dos anos. Mas havia nele também uma profunda desilusão com o ser humano, responsável por muitas de suas feridas espirituais e que o faziam ansiar pelo fim. A discrição com que partiu (por um pedido próprio) é a prova de que viveu sua verdade até o último suspiro.
Celso Blues Boy se foi na solidão, tal qual os blues que entoava. E, desse modo, finalmente encontrou a paz.
PS: Tive a imensa honra de compartilhar com Celso muitas horas de conversa em mesas de bar e na sala de sua casa. Momentos esses que me foram valiosíssimos tanto pelas saborosas histórias quanto pelas lições ingeridas entre uma cerveja e outra. Acreditem, Celso Ricardo Furtado de Carvalho era um ser iluminado que deixava transparecer a sombra de um batalhão de inquietações em suas músicas. Elas afloravam em nossos debates e, não raro, me deixavam desnorteado. Obrigado, Celso, por compartilhá-las comigo. E obrigado por me chamar de amigo. É um título que levarei dentro do coração pro resto da vida."
onde se pode ler: "Ídolo maior do Vasco e atual presidente do clube, Roberto Dinamite completa hoje 58 anos de idade. Nascido em Duque de Caxias, como jogador, Roberto defendeu a camisa vascaína por 21 anos, se tornando o maior artilheiro e atleta que mais vezes atuou pelo Gigante da Colina. Dinamite está à frente da direção do clube desde 2008.
Parabéns presidente!")
9.8.2012 - O jornalista, produtor musical e escritor Luiz Antonio Mello, amigo de Celso Blues Boy que é verbete do DICIONÁRIO CRAVO ALBIN DA MPB e produziu o disco Som na guitarra, pronunciou-se sobre a perda do herói da guitarra brasileiro recentemente falecido - Luiz Antonio Mello escreve sobre Celso Blues Boy. (ALÉM DA HOMENAGEM DE LUIZ ANTONIO MELLO, EXCELENTES TAMBÉM SÃO ARTIGO E FOTOGRAFIA QUE RUBENS HERBST DIVULGOU, NO DIA 8 DE AGOSTO ÚLTIMO, NO ORELHADA.) F. A. L. Bittencourt ([email protected])
"Luiz Antonio Mello
São 14h55m do dia 6 de agosto e acabei de saber pela mídia on line que morreu o amigo Celso Blues Boy. Tinha 56 anos e sofria de câncer na garganta.
Eu não sabia que ele estava doente. Não o via há tempos. Não convivíamos desde que ele se mudou para o sul, com suas guitarras, amigos, canções e a magia do blues. Tive o privilégio de produzir o primeiro álbum do Celso, “Som na Guitarra” que, entre outros sucessos, trazia “Aumenta que isso aí é Rock and Roll”, “Brilho da Noite”, enfim, um robusto disco de rock e blues.
Ainda com o nome artístico de Celso Carvalho, ele foi um dos primeiros a levar fitas K7 para a Rádio Fluminense FM, logo no início de 1982. Virou frequentador assíduo da rádio. Gravando “Som na Guitarra” convivemos várias semanas nos estúdios da Polygram, ele, eu, o seu empresário na época (1984) Lourival, enfim, foi um trabalho duro mas que valeu a pena. A capa (ilustração do blog hoje) traz um fotaço clicado por Maurício Valladares e design de Ricardo Leite.
Conheci bem o Celso, um sujeito de um talento extraordinário (impressionante, mas todos os solos daquele disco foram improvisados, feitos na hora), gente muito boa, enfim, um ser humano e músico raros.
Esse primeiro álbum nasceu de um acordo da Polygram e com a minha (e de Zeca Mocarzel) produtora Provence que durou até 1989. Celso foi nosso primeiro artista e, tenho certeza, Roberto Menescal também deve estar muito triste porque na época era diretor artístico da Polygram.
Não tenho mais nada a dizer. Muito triste. Um abraço, Blues Boy. Descanse em paz."
Começou sua carreira em 1971 no Jornal de Icaraí, de Niterói e, no ano seguinte, passou a trabalhar na Rádio Federal AM (a primeira emissora no Brasil dedicada a jazz, blues, rock e MPB alternativa) nas funções de programador, produtor e redator musical. A seguir foi para o departamento jornalístico da Rádio Tupi, trabalhando ainda na Rádio Jornal do Brasil e no jornal Última Hora.[1]
Montou em 1981, juntamente com Samuel Wainer Filho , o projeto "Maldita", da Rádio Fluminense FM.[2] Em 1985 deixou a Fluminense para participar da implantação da Rádio Globo FM. Trabalhou ainda como crítico musical em vários programas de televisão.
Em 1986 foi para a Rede Manchete, onde atuou como diretor do Domingo Especial e redator-chefe do programa Shock, dirigindo aproximadamente 200 musicais internacionais para a emissora.[1]
Como produtor musical, trabalhou nos discos de Celso Blues Boy (Som Na Guitarra) e de Antônio Quintella (Araribóia Blues, Os Intocáveis), coletâneas do The Who, Jimi Hendrix e na série On The Road, entre outros.
Assumiu em 1989 a presidência da Funiarte (Fundação Niteroiense de Arte). Nos anos 90, coordenou um projeto chamado "Música dos Anos 90", pela gravadora Warner Music.[1]
É diretor de criação da Tech & Midia Comunicação Integrada, cronista dominical de O Fluminense, editor de cultura da revista Caffè Magazine e cronista do jornal International Magazine.
Já viajei bastante por esse mundaréu chamado Brasil e sempre fui bem acolhido.
Nos cantos soturnos do mato fechado, pitei fumo de corda e bebi das fontes mais sábias, ouvindo da memória do povo as bonitas histórias de nossa gente.
Entre umas e outras, proseei com figuras altivas das reentrâncias maranhenses, dos pampas sulinos, dos igapós isolados do Rio Araguaia e das terras secas e árduas do Raso da Catarina - e as ouvi, em alto e bom tom, narrar jogadas tão belas e verossímeis quanto o famoso gol de Pelé na Rua Javari.
Mas de todas as estreitas arestas e roçados que minhas pernas alcançaram, foi apenas na Vila de Uauaçu que eu vi o povo se reunir às centenas só para bater pênalti.
Sim, pênalti.
Às margens do longínquo lago Uauaçu, no caminho pros confins da Amazônia, faça chuva ou faça sol, duas vezes por ano esse povoado, que sobrevive da pesca e da coleta de castanha, assiste ao evento mais aguardado da região: o Torneio dos Pênaltis de Uauaçu, uma pérola do folclore futebolístico brasileiro que reúne mais de 60 duplas num empolgante mata-mata, para decidir, em um dia inteiro, quem são os reis do pênalti no Baixo Purus.
Bom, mas antes que considere este relato uma simples história de pescador, deixe-me esclarecê-lo de que estive em Uauaçu em minha viagem pelo Rio Purus, tortuoso afluente do Amazonas, descrito com maestria pelo nosso grande cientista-escritor Euclides da Cunha. E como de habitual, uma vez lá resolvi me inteirar sobre a tradicional pelada de fim de semana, que acontece domingo, invariavelmente pelo Brasil inteiro, no campinho local - não há cidade ou vila que não tenha o seu -, reunindo os craques das redondezas.
Cervejinha, dominó (o verdadeiro, que dá pontos nos múltiplos de cinco), algumas doses de cachaça com jambo e logo fui convidado para participar de um torneio, justamente naquele final de semana. Papo vai, papo vem e, já ligeiramente alto, descobri, porém, que não haveria nenhum jogo daqueles de transpirar sangue (já tão cobiçado pelos morcegos vampiros do Uauaçu), mas sim uma gigantesca eliminatória em que duplas formadas por goleiro e batedor se enfrentavam com três pênaltis para cada lado, até a grande final.
Seria uma simples diversão não fosse realmente uma competição séria, com gente de todos os lados disputando um único e cobiçado troféu: a maior tartaruga que fosse encontrada entre os retorcidos igarapés da mata nos dias que antecediam a festa.
Incrível. No domingo todos os caboclos, índios, mulheres, crianças, velhos, bêbados e sóbrios da região vagavam pelas proximidades do campo, enquanto as duplas discutiam suas estratégias e as apostas eram recolhidas.
Foi quando apareceu diante de mim um índio forte, carregando mais de cinco quilos de ouriços de castanha, falando alto, sem que eu entendesse sequer uma palavra. No entanto, logo soube que não era nenhum rival me intimidando, mas sim Marivaldo, meu parceiro de equipe.
Combinamos que ele seria o goleiro e eu cobraria os pênaltis, formação que logo nos deu a primeira vitória. Foram emocionantes e acirradas disputas entre verdadeiras lendas do pênalti amador, cheias de chutões, macacos velhos daqueles que sabem desde pequeno aonde a onça bebe água, paradinhas e catimbas das mais diversas. E entre mortos e feridos, sobrevivemos até a semifinal. Talvez a sorte tenha me abandonado, talvez os deuses da floresta tivessem outros planos, mas caímos de pé, sob aplausos do público.
Aos vencedores, a tartaruga.
De noite, desfrutando da paz que nos leva e guarda e ao som da irritante banda Calipso, saboreei um gordo pedaço da taça, elegantemente dividida.
Soube também que nenhuma das tentativas do Ibama e Funai (entre outros órgãos governamentais, ong’s e institutos), para discutir o que quer que fosse, recebia representantes de tantos povoados e tribos como o Torneio dos Pênaltis de Uauaçu.
Mais algumas doses de cachaça com jambo e logo estávamos falando até de política; e de que sábio é aquele que, experimentado nos calejos e ternuras da vida, reconhece não haver melhor momento para se discuti-la do que após uma partida de futebol.
Aprender a chutar uma bola é incorporar uma das formas de expressão mais autênticas de nosso povo. Pois nesse humilde gesto, que coloca lado a lado o rico e o pobre, o culto e o bruto, o forte e o fraco, sem que nenhum deles, jamais, se sinta no lugar errado, apreende-se mais do que em cem discursos.
“Eu conto histórias. Histórias que eu vi com esses olhos que a terra há de comer um dia, ou histórias que eu ouvi, no buxixo das curriolas. E juro por essa luz que me ilumina, que conto as histórias sem aumentar um ponto. Se algum talento eu tenho, por desventura, é de ver e ouvir a gente minha” *
* Em memória do saudoso Plínio Marcos, poeta, escritor e amante das pequenas belezas mundanas, tão presentes no dia a dia do povo brasileiro