Livros proibidos II
Por Bráulio Tavares Em: 29/09/2011, às 13H21
(Capa de Harry Potter, recriada por M. S. Corley)
A Semana dos Livros Proibidos (última semana de setembro), chama a atenção para o que os organizadores, nos EUA, chamam de “Banned and Challenged Books”. “Banned” é o livro banido, proibido oficialmente por um governo, com todas as consequências (apreensão policial dos exemplares à venda, com prejuízo para o livreiro, etc.). Muitas vezes isto envolve a ameaça à liberdade ou à integridade física do autor ou do editor. “Challenged” significa que o livro é impugnado, questionado, denunciado por grupos ou entidades, sob a alegação de que infringe algum princípio. O número de livros denunciados, claro, é muito maior do que o de livros de fato proibidos, já que nem toda denúncia é aceita. Ainda assim, o estrago é grande, porque a denúncia produz efeitos locais, principalmente no que diz respeito à eliminação de livros das bibliotecas e do currículo escolar de colégios e universidades.
Todo mundo entende que o Minha Luta (“Mein Kampf”) de Hitler seja proibido. O furibundo alemão é o saco-de-pancadas preferencial do Ocidente. A tal ponto, aliás, que por todo lado brotam jovens carrancudos, insatisfeitos, irritados com a hipocrisia da época, e começando a murmurar uns com os outros: “Por que será que proibiram o livro do cara? Vai ver que ele denunciava isso-tudo-que-está-aí... Era um idealista...”. E pronto, a proibição tem um resultado inverso: projeta uma aura de contestação e de martírio sobre a obra de um desorientado.
Já os livros de Harry Potter têm sido largamente denunciados nos EUA porque grupos evangélicos de variadas colorações os consideram uma apologia ao satanismo, à magia negra, etc. Se você acha isso absurdo, e que Harry Potter é inofensivo, o que dizer então da denúncia contra a série Capitão Cueca de Dav Pilkey? Sucesso aqui no Brasil, os livrinhos ficaram em sexto lugar na lista de obras mais denunciadas nos EUA em 2002, por “falta de sensibilidade”, por serem “inadequados à faixa etária” e por “encorajarem as crianças a desobedecer as autoridades”. Pois é. Começa com Capitão Cueca, daqui a pouco os meninos vão estar lendo Che Guevara.
A denúncia contra Harry Potter, é claro, é proporcional ao seu sucesso. Há incontáveis livros sobre meninos bruxos que entram e saem dos lares e das escolas sem que ninguém lhes dê importância ou os considere Os Evangelhos de Belfegor. Mas os professores não são bobos. Harry Potter foi um movimento social em torno de um livro, um movimento que arrebatou dezenas de milhões de garotos. Ninguém faz sucesso impunemente. Ninguém atinge milhões de pessoas sem que alguma autoridade se debruce sobre o caso, luneta em punho, para saber por quê.