[Maria do Rosário Pdreira]

Os livros são um problema para quem gosta muito deles e não lhes resiste. Numa crónica publicada no dia 17 de Junho no jornal Público, Miguel Esteves Cardoso contava que estava a mudar de casa e falava do trabalho que representava transportar os livros de um sítio para outro e arrumá-los, um por um, na casa nova. Pareceu-me que, ao olhar as pilhas no chão, pensava que, afinal, talvez tivessem razão aqueles que se renderam aos livros electrónicos e não se importam com o cheirinho do papel, os sublinhados ou o cantinho dobrado para marcar a página onde ficámos. Porém, ao mesmo tempo, percebia-se que não deixará nunca de comprar livros, apesar de ter muitos que certamente ainda não leu. No dia em que se comemorou o aniversário de Eduardo Prado Coelho, li na Casa Fernando Pessoa, numa sessão de homenagem, um texto seu que falava exactamente da sua ideia de biblioteca; e dizia o professor, entre outras coisas, que só se sentia realmente sossegado quando tinha tantos livros por ler quantos os que tinha lido – o que, no seu caso, queria dizer mesmo muitos. Em minha casa, embora haja muitos livros que ainda não lemos, não resistimos a comprar uma parte significativa dos que saem. Guardamos, ainda, livros que sabemos que nunca vamos reler. Serão livros a mais?