[Maria do Rosário Pedreira]

O Manel nasceu no Porto (em Gaia, para ser mais precisa) e, terminado o liceu, fez o que era natural para uma pessoa do Norte: iniciou a sua vida universitária em Coimbra. Porém, com o pretexto de que era em Lisboa que viviam os escritores e tudo acontecia, mudou-se de armas e bagagens para a capital pouco tempo depois, acabando aqui o curso de Direito. Muitos dos autores do Porto queixam-se de que são muito menos dignos de atenção por estarem longe do centro cultural do País – e talvez até tenham uma certa razão, se pensarmos que as revistas, os jornais e as televisões têm o grosso das suas redacções instalado em Lisboa e, quando precisam de um escritor para comentar qualquer coisa, é sempre na capital que o desencantam. É também em Lisboa que se vendem mais de 60% dos livros de Portugal inteiro, incluindo os vendidos no Porto, e que se apresentam mais livros em lançamentos públicos (porque até os autores do Porto quase sempre «reclamam» um segundo lançamento na capital, aproveitando a oportunidade para umas entrevistas). O Porto não tem obviamente a mesma dimensão que uma cidade como Barcelona tem para o país vizinho (e cuja concorrência com Madrid é fortíssima), mas tenho pena de que a geografia possa ser responsável pelas carreiras um pouco mornas de alguns escritores do Norte, que em nada ficam a dever a muitos dos seus colegas alfacinhas. Não me parece sequer que o asfalto das milhentas auto-estradas que se construíram os tenha ajudado.