Quem leu ou folheou a última revista Veja, a primeira de 2012, deve ter visto e ficado surpreso, perplexo, talvez estarrecido com a fotografia do filho do poderoso senador da república, Jader Barbalho.
     Maior do que a explícita, juvenil e precoce falta de educação, de respeito e civilidade do garoto é a língua dele – língua mesmo, músculo que fica, ou pelo menos deveria ficar no interior da boca. Com o rosto formando um ângulo de quase noventa graus com o tampo da mesa em que pai e filho estavam, a língua do guri ultrapassa o maxilar inferior, o popular queixo. Nem a famosa e enorme língua de Gene Simmons, do grupo de rock Kiss, proporcionalmente, parece tão avantajada quanto à do pequeno paraense.
     Quiçá a mãe do garoto haja percebido que seu filho poderia ter uma espécie de deformidade lingual - se é que a danada não foi deformada apenas na fotografia -, e esteja tomando providências para, em sendo o caso de tratar-se de uma macroglossia, fazer o competente tratamento enquanto ele é uma criança, a fim de que, no futuro, o hoje dilatado músculo do pimentinha, possa ocupar seu lugar, que é, seja no senado, em casa, na rua, na escola, na igreja, entre amiguinhos ou onde estiver fazendo traquinagens e estripulias, dentro, no interior de sua cavidade bucal.
     E eis que surgem outros linguarudos, dessa vez não estamos nos referindo ao tamanho da língua, mas ao uso intrometido descabido, falacioso e despropositado de norte-americanos, alemães, franceses, japoneses e até sul-africanos, que, também segundo a citada edição daquela revista semanal, em recente pesquisa internacional feita pelo CNT/Sensus, por meio da qual se quis saber o que o mundo anda pensando sobre o Brasil, no que tange à floresta amazônica, afirmaram, cinicamente, que ela deveria ser preservada, não conforme regras brasileiras, mas internacionais.
     Interessante, quando o assunto são assinaturas de protocolos ou de decisões internacionais visando à diminuição na quantidade de bagulhos prejudiciais ao meio ambiente, ao disciplinamento no tocante ao uso ou produção de armas e artefatos nucleares, a fim de evitar-se sua proliferação; ou seja, se o assunto envolve o controle de atividades que, na percepção dos mesmos, causar-lhe-iam perdas econômicas ou financeiras, eles sempre botam sua banquinha, refugam, pedem um tempo para decidir e, não raro, saltam fora; não querem nem saber de se comprometerem em uma luta que deveria ser de todos; e, assim, os acordos vão sendo preteridos.
     Depois que essas mui preocupadas nações, praticamente, dizimaram as áreas de seus territórios, antes ocupadas por florestas, selvas, campos; aterraram mares e cursos d’água, urbanizando-os, preparando-os para a ocupação humana, seja por meio de moradias, centros comerciais, industriais ou de lazer, sem consultar, nem pedir opinião, sugestão ou aconselhamento a ninguém, virem agora querendo ensinar-nos a cuidar de nossa maior floresta, tutelá-la ou submeter sua preservação a normas que elas não respeitaram nem respeitam, soa leviana e, hipocritamente. Temos que tratar bem a Amazônia, zelar por ela com denodo porque isso é bom, principalmente, para nós e devemos fazê-lo seguindo normas legais brasileiras; afinal de contas, se a natureza nos concedeu a primazia de tê-la em nossas terras, nós é que somos responsáveis por seu futuro.
     Alemanha, Estados Unidos, França, Japão, deixem de ser linguarudos. Cuidem de seus quintais, sótãos e porões, recheados de ervas daninhas, ácaros e poeira; todavia, se quiserem colaborar com a preservação de nossas riquezas naturais, das quais a Amazônia é apenas um grande exemplo, desde que não venham com exigências estapafúrdias ou descabidas, tampouco tentando interferir naquilo que não lhes diz respeito, como é o caso de nossa soberania, serão bem vindos; quanto a nós, com ou sem seus préstimos, vamos continuar trabalhando, diuturnamente, no sentido de tentar melhorar a vida na parte que nos cabe neste latifúndio planetário. 
     Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal e escritor piauiense ([email protected])