[Maria do Rosário Pedreira]

O inglês domina sobre qualquer outra língua, é um facto, e por vezes encontro pessoas portuguesas que já só sabem dizer determinadas coisas em inglês. Nas empresas, quando se consulta um organograma, os cargos vêm todos com as siglas inglesas – e creio que as novas tecnologias, por causa dos gigantes Microsoft e afins, viciaram gerações inteiras na utilização da língua inglesa por tudo e por nada. Alguns vocábulos portugueses praticamente desapareceram do emprego corrente – lembro-me, por exemplo, de «quantia», que hoje passou a ser «soma» (por causa de «sum», naturalmente) e de «exemplar» (de um livro ou disco), que foi substituído por «cópia» (de «copy», claro), lendo-se frequentemente na imprensa que um livro vendeu milhões de cópias. Em todo o caso, para defender a minha dama, eu insisto em escrever e dizer muita coisa que sinto fugir dos dicionários – e estranhei por isso que, nas capas de dois romances nórdicos (um norueguês, outro islandês) recentemente publicados, os nomes dos prémios recebidos – que eram dos respectivos países – estivessem em inglês. Claro que não nasci ontem e sei que cá na terra não se encontra facilmente quem fale essas línguas e, portanto, calcule que a tradução foi feita a partir da versão inglesa. Mas porque não simplesmente «Prémio Literário da Crítica Norueguesa» em vez de «Norwegian Critics Literary Prize» ou «Prémio Literário da Islândia» em lugar de «Icelandic Literary Prize»?