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[Maria do Rosário Pedreira]

Há mais ou menos duas semanas, a LeYa Brasil iniciou a publicação de uma colecção de autores portugueses, na maioria desconhecidos do lado de lá do mar, aproveitando a circunstância do Ano de Portugal no Brasil para apresentar a nova literatura portuguesa aos leitores brasileiros. Cinco escritores – João Ricardo Pedro, Nuno Camarneiro, Patrícia Portela, Patrícia Reis e Sandro William Junqueira (a ordem é alfabética) – partiram então para o Rio de Janeiro, onde, além de lançarem os respectivos romances na Livraria da Travessa (popularizada há uns anos, se não erro, por causa de uma telenovela), participaram na primeira edição de um festival literário (FLUPP) que se realiza em favelas – cabendo, desta feita, a distinção ao Morro dos Prazeres, no bairro carioca de Santa Teresa. Trata-se de uma das favelas que foram pacificadas com a intervenção da Polícia – que restituiu aos seus habitantes a ordem perdida com o tráfico de droga e a violência daí decorrente – e que agora se tornou palco de leituras de poesia, apresentações de livros e debates vários. Além dos portugueses, importa assinalar a presença dos gigantes locais Ferreira Gullar ou João Ubaldo Ribeiro e de alguns autores estrangeiros como o alemão Thomas Brussig ou o palestino Najwan Drawish. Espectáculos diversos compuseram um programa que se pretendia, segundo os organizadores, «interdisciplinar». Ora que boa ideia esta, a de levar a cultura aos mais desfavorecidos, sem ser através do gesto caridoso de oferecer livros às crianças pobres e aos presos. Será que, com a crise, não faria sentido montar uma coisa do tipo aqui em Portugal?