ROGEL SAMUEL

A famosa Elegia de Camões que começa com 'Poeta Simónides, falando' tem para nós especial importância, pois é lá que se vê pela primeira vez a beleza digamos ecológica.
Qual beleza? A beleza desses versos:

 


Oh, lavradores bem-aventurados!
Se conhecessem seu contentamento,
como vivem no campo sossegados!

É um trecho da Elegia, um comentário. Depois
de relatar as suas agonias e experiências más como marinheiro, como amante e soldado, o grande poeta suspira pelo bucólico paraíso do campo:

Oh, lavradores bem-aventurados!
Se conhecessem seu contentamento,
como vivem no campo sossegados!

 


E começa o encantamento da terra: ' Dá-lhes a justa terra o mantimento ' - das águas: ' dá-lhes a fonte clara a água pura ' - das casas
se suas casas d'ouro não se esmaltam,
esmalta-se-lhe o campo de mil flores,
onde os cabritos seus, comendo, saltam.

É tudo o que o poeta nunca teve: a paz do campo.
Ali amostra o campo várias cores,
vêm-se os ramos pender co fruto ameno,

A mansidão de um lar, que parece nunca Camões teve:

Ditoso seja aquele que alcançou
poder viver na doce companhia
das mansas ovelhinhas que criou!

O poeta chega a fazer a apologia da simplicidade:
Vive um com suas árvores contente,
sem lhe quebrar o sono sossegado
o cuidado do ouro reluzente.

Camões sabe ser terno, e fazer no verso simples o imortal cantar de uma felicidade de calma, de paz:
Ali amostra o campo várias cores,
vêm-se os ramos pender co fruto ameno,
ali se afina o canto dos pastores:

O que é a sua meditação de um simples repousar, do ' descanso honesto '.
Enfim, por estas partes caminhou
a sã justiça para o Céu sereno.


Os lavradores ' Não vêm o mar irado, a noite escura, /
por ir buscar a pedra do Oriente; / não temem o furor da guerra dura.'