IVANILDO DI DEUS E A CULTURA LUZILANDENSE
Por Elmar Carvalho Em: 01/11/2011, às 17H27
ELMAR CARVALHO
Por e-mail, recebo a notícia de que Ivanildo Di Deus é o coordenador do Festival Literário de Luzilândia, com o apoio de entidade governamentais e não-governamentais. Ele é uma liderança intelectual em Luzilândia, sua terra natal. Conheci-o em 1988, aproximadamente, quando presidi a União Brasileira de Escritores do Piauí. Nessa época a UBE-PI mantinha uma reunião semanal, na quarta-feira à tarde, que era bem frequentada pelos escritores. Já era um hábito, quase vício, para vários intelectuais. Entre outros, eram assíduos: Francisco Miguel de Moura, Hardi Filho, Adrião Neto, José Pereira Bezerra, Bezerra Filho, Rodovalho, Rubervam Du Nascimento, o saudoso Jamerson Lemos, Amauri Pamplona, Melquisedeque de Castro Viana, Osvaldo Monteiro Filho, fora outros que compareciam de forma mais espaçada, inclusive poetisas e escritoras.
Começou a frequentar nossas reuniões um poeta de nome Benvindo, que, apesar de bem-vindo às reuniões, misteriosamente desapareceu, assim como havia aparecido, sem deixar rastros nem notícias. Rodovalho, usando estapafúrdia justificativa, como uma espécie de censor surgido das brumas da Santa Inquisição, tocou fogo em vários livros da biblioteca da UBE-PI, na gestão do amigo Melquisedeque, que foi pego de surpresa com a notícia da medieval e trevosa fogueira rodovalhiana. Apesar disso, sempre tive simpatia pelo poeta. Certa vez ao encontrá-lo, na frente da velha sede da Justiça Federal no Piauí, disparei-lhe este improviso, feito de versos de pés, se não quebrados, ao menos zambetas: “Do céu / desce o orvalho. / Para o céu sobe / os versos de Rodovalho”. O poeta sorriu, feliz com a homenagem versificada. Entretanto, não mais o vi desde então, e dele não mais tive notícias, nem boas, nem ruins.
Ivanildo de Deus tornou-se um dos mais ativos participantes de nossas reuniões. Fazia curso superior na UESPI e já havia lançado livro. Líder carismático, idealista e dinâmico, ainda bem jovem, passou a promover anualmente eventos lítero-culturais em Luzilândia, geralmente sem auxílio governamental, contando apenas com a ajuda e o apoio de outros jovens, de pessoas da comunidade e do padre Jonas, sobre quem escreveu uma biografia. Entre os jovens que lhe apoiavam, recordo os nomes de Cláudio Vasconcelos, hoje professor, Sebastião Emídio, fotógrafo, Chagas Vale, músico, bonequeiro e compositor respeitado, Cléber de Deus, professor da UFPI e cientista político.
Ivanildo de Deus continua a poetar, mas se tornou também professor universitário e historiador. Recordo que, em tradicional bar de Luzilândia, o Ivanildo, o Rubervam e eu construímos um poema a três mãos (ou seis, se contarmos a que segurava o papel, e não apenas a caneta). Infelizmente, esse poema, que só era para ser publicado algumas décadas depois, terminou sendo extraviado. Ivanildo continua, de vez em quando, a promover eventos culturais e literários em sua cidade. Por esse seu dinamismo e “diabruras”, o cognominei, por pura brincadeira, de Ivanildo de los Diablos; na verdade ele é do bem, e portanto faz jus ao nome que lhe foi posto – de Deus.
Agora, ele vai comemorar 25 anos de atividades culturais. Não sei se as libações acontecerão no cocuruto do morro, no alpendre de sua vivenda, de onde se descortina uma magnífica paisagem nativa. No entorno da casa, em vez das costumeiras plantas ornamentais de jardins domésticos e praças públicas, ele preferiu conservar as plantas da região, algumas típicas da caatinga, já que é ele um cabra da peste, ou seja, um sertanejo. E sertanejo, no dizer de Euclides da Cunha, é antes de tudo um forte. Ali, em nossa juventude, degustamos alguns copos de cerveja, por ocasião dos vários eventos que ele realizou em diferentes anos, dos quais fui quase sempre indefectível convidado, para gáudio meu.