Iran Fersil
Em: 24/09/2009, às 19H03
Iran Fersil
Rogel Samuel
Morreu hoje, às 15 horas, no Rio de Janeiro, o poeta amasonense IRANÁRIS FERREIRA DA SILVA (Manaus 4 de abril 1912 - 24 de setembro 2009), o Iran Fersil. Ele foi jornalista no Rio (A noite) e professor de matemática na Escola Técnica de Manaus.
Ele tinha 97 anos e meio e era casado há 75 anos com sua esposa, Eulice Esteves da Silva hoje com 93. Morreu dormindo, de parada cardíaca. Deixou os filhos Maíra Esteves, Nicolino Marinho D'Antona, Renata D'Antona e duas netas, a conhecida escritora Eulícia Esteves (Coordenadora de Música Popular da Funarte) e Isabela Esteves Albrecht, arquiteta, que mora em Paris.
Iranáris era meu amigo há 50 anos. Sua produção poética é muito grande, mas toda publicada nos jornais de Manaus. Ele nunca publicou um só livro. Ele dizia que sua mãe era uma índia Baré.
Era do nosso Grêmio Gregório de Matos. Leia:
POUCO SONHO E MUITO AMOR
Diz-me baixinho, amor; diz, segredando,
palavras de afeto e de carinho,
para que eu vá dormindo de mansinho,
depois desperter mais e mais te amando.
Vem em meus olhos, lado a lado, andando,
para que eu não me sinta tão sozinho;
vem, sem receio, que eu serei bonzinho,
porque sem ti me quedarei chorando.
E nosso par será mui venturoso:
símbolo de amor, de gozo e de ventura
que tanta inveja então há de causar.
Serás feliz, querida, eu bem ditoso,
no lindo sonho cheio de ternura
que de tão belo não devia findar!
VOLTA!
Você voltou! Por que você voltou?
Melhor seria sempre ser ausente.
Pois que mudada está, mui diferente,
não parecendo aquela que me amou.
Perdeu, mesmo, o jeito de inocente
que, noutros tempos, tanto me encantou...
Sorriso, fala... em fim tudo mudou...
Como possível foi, tão de repente?
Volta! Já não desejo ter agora
o mesmo amor que tive outrora,
que fêz minhalma desvairada, louca.
Vai! Segue, em paz, seus floridos caminhos!...
Que outros possam colher os seus carinhos,
que de o fazer minha vontade é pouca!
MINHA VIDA
É minha vida um grã vergel talhado
por fortes ventos das desilusões;
os flóreos ramos com que hei sonhado
brotam flôres de decepções.
Nos seus canteiros, já não há trinado
a passarada, tão belas canções...
somente anum, em canto magoado,
toca de perto os nossos corações.
Minhalma errante, passa, preocupada,
colhendo, aqui, ali, pétalas caídas
que já não têm um pouco de perfume...
Assim, meu coração, de caminhada,
está deserto de amizades tidas,
guardando um resto de feral ciúme...
A MORENA E A ROSA
Dei-lhe uma rosa perfumada e bela
colhida há pouco num dos meus jardins
tenho açucenas cravos e jasmins
mas nenhum’outra se compara a ela.
Nem todas flôres têm felizes fins
mas minha rosa que destino o dela:
iluminando o peito da donzela
dando realce a todos os seus quindins.
No lindo quadro se nos afigura
uma bela e meiga, outra linda e pura
que enfim nos deixa a alma duvidosa
pois entre a flor e a escultural pequena
não sei se a rosa que enfeita a morena
ou se a morena que realça a rosa.