Cunha e Silva Filho

             Toda escrita, muitas vezes, é circunstancial na extensão e na qualidade. Depois da batalha raivosa (o termo é, agora, muito usado), numa batalha de trocas de farpas e xingamentos entre esquerdistas e bolsonaristas, ou melhor, entre lulistas e anti-lulistas senti-me extenuado e com vontade de dar um longa pausa sem escrever nada, porquanto julgava que nada valia a pena.
              As refregas foram feias e os resultados, para o meu caso específico, desfavoráveis no campo da amizade. Encontro-me, agora, como um outsider na discussão política, com um forte sentimento de enfado da coisa política, de melhoras para nós, brasileiros, cansado que estamos de imposturas, desídias, crimes financeiros contra o Erário Público. de perceber os mesmos métodos congressistas da valha política matreira e de seus personagens pícaros, malandros, bruzundangueiros e malazartianos, todos malandros. velhos e novos, (estes últimos de novos só têm a idade) de vana verba.
             O rescaldo que consegui para mim foi de perda de amizades de pessoas a quem estimava, de gente que não entendeu que eu jamais seria prosélito do Sr. Jair Bolsonaro por muitas razões de seus mal ajambrados projetos (se tanto assim podemos dizer que foram projetos) de governo num país em ruína econômica e financeira, à frene o desemprego, o fechamento de fábricas, de lojas, de negócios, até no campo cultural, o fechamento de livrarias, até de sebos.
            A última tristeza, no caso das livrarias, foi o fechamento da Saraiva, no Shopping da Tijuca. O Shopping -  confesso a Vocês - ficou sem graça para mim  com a a ausência dela. Eu já me acostumara, ao entrar no Shopping, a me dirigir logo por um dos corredores, à loja da Saraiva na qual comprei bons livros de literatura, de línguas, de crítica literária.
            Voltando à questão dos malefícios, ou malfeitos, no jargão hilário da ex-presidente -Dilma Rousself, dos governos mencionados e dos descalabro de muitos outros males que se tornaram crônicos e insolúveis (violência inédita em toda a história do país, criminalidade altíssima e um altíssimo nível de corrupção e sua contraparte, a impunidade que, da mesma forma, se espraiou como metástase pelo território brasileiro, necessitando para este último caso, da instauração de investigações sob a denominação de LavaJato e levada à premente arrojada e contínua ação da Polícia Federal. De todos esse males e outro, repito, somos vítimas e ainda estamos sendo vítimas ao longo de, pelo menos, umas duas décadas.
            A eleição foi ganha pelo atual Presidente que não era nem tampouco é ou será da minha simpatia. Contraditoriamente, por causa de alguns artigos que escrevi em jornal no Piauí e, posteriormente, em blogs e sites, contra os governos do Lula, Dilma e do Temer, observei que muitos desafetos adquiri tanto pelos escritos jornalísticos como pelo que postei nos mencionados blogs.
           O que me salvou de maiores inimigos foi a publicação de textos não necessariamente vinculados à questão politica, quer dizer, foram textos, por assim dizer, puramente literários, crônicas, pequenos ensaios, entrevistas, traduções, versões, alguns artigos mais antigos originalmente publicados em jornais do Piauí, ensaios mais longos, alguns em inglês e francês postados num site americano e numa revista romena, a publicação quase na íntegra de três livros meus, Breve introdução ao curso de letras: uma orientação (2009), As ideias no tempo (2010) e Apenas memórias (2016)
            Este sentimento algo romântico de spleen extemporâneo do século XXI tem de alguma forma me afastado de minha produção nova que deveria ter sido continuada(só o foi muito esparsamente) após o vendaval das eleições travadas entre votantes que se tornaram inimigos e irmãos divididos da pátria amada Brasil. Contudo, não me darei por vencido, tentarei retomar o elo perdido, encontrar o méthodos dos meus interesses maiores pelas questões que mais me agradam: as relacionadas à literatura e a temas nacionais e internacionais, estes mais do que aqueles, sempre torcidos (usando esse verbo no sentido em que foi empregado em relação a um tendência de um escritor piauiense de talento para a ficção, mas desviado, pelas vicissitudes da vida, para os temas da política brasileira.
            Na produção literária, ou não, há que se fazer certas renúncias pessoais a fim de não se perder o bonde da história. Restaurar todo esse tempo perdido leva algum tempo, necessita de paciência e reformulação de planos de estudos e de metas para serem colimadas.
O escritor que ficou no meio do caminho, ou seja, desistiu de escrever fez um opção que poderá ser correta, ou não. Haverá sempre aqueles dois caminhos a trilhar, um dos quais deve ser escolhido, como no poema famoso de Robert Frost (1874-1963), de título “The road not taken”(1916), a não ser que, por infelicidade, surjam mais outras alternativas, uma imposta pelo destino e provocada por doença (caso de poeta piauiense Da Costa e Silva (1885-1950) e do ficcionista piauiense O.G. Rego de Carvalho (1930-2013).
        Ou por motivo de foro íntimo (caso de Hemingway (1898-1961)). Ou mesmo por desistência deliberada (caso de Radauan Nasser) e podia-se citar também o caso de um escritor famoso norte-americano que confessou ter escrito tudo o que pretendia (caso De Philip Roth (1933-2018).
As fase de interrupção de novos textos em nossa especialidade de estudos avançados está ligada a fatores igualmente de ordem pessoal, de doença, de falta de clima e sobretudo de falta de determinação do próprio autor de se deixar  vencer pelos desfoques nos seus estudos, na sua continuada preparação e realimentação de novos saberes no âmbito de sua área principal de desempenho literário.
          Por outro lado, há que se fazer aí um mea culpa, visto que a literatura e quaisquer outros saberes devem se orientar por um ordem lógica e impessoal, não permitindo uma interferência da vida individual do escritor na sua produção enquanto possibilidades físicas e de lucidez estiverem dentro de parâmetros da normalidade criativa.
         O mais elevado compromisso de quem escreve é o de não desistência desses propósitos ainda que impedimentos tentem abortar suas pretensões e acalentados sonhos de mais realizações. Para isso, são sempre válidos a disciplina nos estudos, as pesquisas e a determinação de não desistir nunca de seus desejo muitas vezes traçados na juventude, continuados na maturidade e concluídos nos anos mais avançados de sua existência limitada. Até onde houver fontes de saberes de aquisição de conhecimentos e de disposição ao trabalho posto que reconhecendo o ato desgastante (conforme, certa feita, reconhecia a ficcionista Raquel de Queirós (1910-2003) da escrita, deve o autor prosseguir nos seus objetivos.