[Washington Ramos]                      

     Está em alta a importunação sexual tanto de homem para mulher como também o contrário. Se não me engano, já é crime. Nos últimos dias, inclusive, ocorreu um rumoroso caso de uma dentista da cidade de S. Paulo, que, segundo denúncias que chegaram a ser divulgadas no Fantástico, importunava sexualmente seus funcionários, apalpando-os, e ela mesma chegava a tirar a própria roupa e mostrar os peitos. Dois dos importunados entraram na justiça contra ela. Vamos aguardar o desenrolar desse caso.

     Mas será que não existe também a importunação erótica? Presumo que essa expressão é mais objetiva do que importunação sexual. Aquilo que é sexual nem sempre leva ao desejo. Já o que é erótico...

     Estou escrevendo isto porque hoje fui vítima involuntária de uma importunação erótica. Vinha eu tranquilamente do centro para minha casa no Acarape, pedalando em minha Ônix VB quando vi o que não devia ter visto. Não me lembro em que eu vinha pensando, mas com certeza não era em mulher, nem em sexo, nem em erotismo. Ouso arriscar que eu era a inocência em pessoa. Eu ia trafegando na rua Davi Caldas, já cruzando a Jônatas Batista, e meus olhos viram uma linda mulher só de camisola fechando um carro luxuoso e voltando em sentido oposto ao meu, caminhando bem rápido na calçada. Os seios balançavam, os mamilos pareciam querer furar a fina camisola, a qual, grudada ao corpo, formava um triângulo naquele lugar. Não vi marca de calcinha. Meu coração disparou, o susto foi grande. Mas não dei mancada. Aparentemente, não dei o menor sinal da agitação que ia em meu íntimo. Sequer virei meu rosto de lado em sua direção quando ela emparelhou comigo. Também não disse nada para aquela mulher. Não sou de assediar mulheres.

     Agora que eu fiquei perturbado, fiquei, sim! Não vou negar. Senti-me eroticamente importunado. Era uma mulher branca de cabelo bem pretinho, levantado atrás e para cima, destacando a alvura da nuca, o que me lembrou o conto A grande mosca no copo de leite, de Moreira Campos, justamente por causa do triângulo que sua camisola formou. A face era linda, mas não demonstrava arrogância nem aperreio, apesar de estar caminhando bem ligeira.

     Ficam, então, questões que um homem tem que enfrentar no dia a dia. Como proceder em casos como esse? Apesar de amar uma mulher, um homem está totalmente imune a desejar outras mulheres, sobretudo quando uma se apresenta seminua e num momento inteiramente inesperado? É possível evitar um desejo que não dura mais do que uns dois ou três segundos? Um homem deve se sentir culpado por esse desejo? Como um desejo de tão pouco tempo mexe como um turbilhão dentro da gente?