Assistindo ontem à abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, vejo na TV e no jornal as duas faces da Humanidade: a paz e a guerra. A morte, sempre ela a nos atormentar a vida já em si tão cheia de percalços, de imprevistos e desassossegos.Vou repetir o que uma vez afirmara Rui Barbosa: “a morte nos cerca de todos os lados.” Creio que o grande brasileiro o disse numa obra em que fazia o elogio a José Bonifácio. 
                        Ao mesmo tempo em que avisto a figura séria e carrancuda do Premier Putin sentado no espaço especial com assentos reservados a chefes de Estado e a altas personalidades mundiais naquela estádio monumental lindamente chamado de Ninho de Pássaro, espaço iluminado, um convite sem dúvida à alegria, me vejo olhando na tela os bombardeios desferidos pela Rússia contra a Geórgia e em defesa da Ossétia do Sul, cuja capital é Tskhinvali ,região separatista da Geórgia As hostilidades principiaram desde abril deste ano, seguidas de incursões aéreas de aviões russos sobre território georgiano. Há interferências da OTAN. Em território da Ossétia do Sul há cidadãos russos. 
                     Para olhos mais avisados o conflito gerado entre Geórgia, Rússia e Ossétia tem embutida uma razão geo-econômica: a região da Ossétia é importante rota de de transporte de petróleo e gás natural na fronteira russa. Essa região , em 1992, se declarou independente após a derrocada da União Soviética. Os Estados Unidos e o Reino Unido, sempre bem unidos, barraram na ONU qualquer pretensão a favor da Ossétia do Sul. Uma outra região separatista, a Abkhásia já está tomando posições de alerta na fronteira com a Geórgia. Nesse meio tempo já se conta com um saldo de 1400 mortos. 
                   A morte ronda de parte a parte. Lá, em Pequim, o espetáculo dos atletas prossegue a despeito dos ideais de paz e de comunhão entre os povos proclamados humanitariamente pelo barão Pierre de Cubertin. Seria muito triste, portanto, que atletas dos países envolvidos tivessem que deixar de realizar sua competição e parte de seus sonhos de vida para entrarem em campos de batalha, ou seja, numa mudança abrupta de papéis que nada têm com as impurezas da guerra e do derramamento de sangue.
                 Em sã consciência, não acredito que se dependessem dos atletas e do seu desejo de competir nas Olimpíadas exista um só fiapo de vontade de espírito de destruição. Os pacíficos, os bons de coração jamais pensariam em guerra. O corpo do atleta, o preparo de seus físicos, o seu treinamento, a sua vontade de brilhar é sempre - será sempre -, em defesa do fair play, de brilhar pela vitória, mas pela vitória de corpos que sejam vivos, saudáveis, uma vez que a sua arma é a do seu valor, da sua agilidade, do seu talento, e talento de atleta é o da alegria, do orgulho positivo de regressar à sua pátria com a vitória da paz.