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Luiz Filho de Oliveira

 

Das minhas leituras de jornais e de revistas, se for pra lembrar o nome de algum artista de palavra fixa na página e de língua solta no texto, os que me-vêm à mente são os de Rubem Braga e de Millôr Fernandes. Veio primeiro o primeiro, via Caderno de Domingo no jornal O Dia, de Teresina, pela década de 1980; o segundo, segundo me-lembro, vinha revista Veja, semanalmente (e vejam só: hoje, ela está sacaneando o Milton!). Desses dois, eu tenho lembranças que me-teclam a tela de caracteres bem humanos: lirismo e arbítrio livres. Como devo à minha irmã, Rosário, por ter feito essas assinaturas sagradas: escrituras de toda semana, era tiro e festa (não posso dizer que não caí, mas, é claro, tal queda foi pra cima!).

 

Pois bem, do velho Braga, deixo para falar depois, como já o-fiz em outras páginas, essas postagens na pastagem árida da rede de computadores.  Deixa Cachoeiro desaguar esse outro Braga, que cantou em prosa de bom brasileiro o que versava seu lirismo, crônico de cotidiano. Ah, meu velho, como essas tuas linhas coseram minhalma! E eu nem precisava estar vestido em traje de gala para receber Rubem à minha mesa, à sala de jantar da Literatura; sua fala cheirava à comida, típico dos grandes literatos. Como eu esperava por aquele Caderno, com o seu Tempo de Poesia, o espaço, por mim, mais festejado. Que fome, aquela! Porisso que eu servi a Rubem um poema em meu livro Onde Humano, lembrando nossas agendas e também Raul Bopp, esse cabra Norato. É, isso é papo pra mais de quilômetro; dá inclusive pra conversar desconversando o assunto que me-trouxe aqui.

 

Masporém chega de conversa chata na hora da comida, menino; venho a este texto pra saudar Millôr Fernandes, o Guru do Méier; sobretudo & sobretodos, por conta de uma poesia tão irreverente quanto criativa; palavras desconcertantes à “poética funcionário público”. Bofeta, Millôr, esses que te-acreditam incompreensível profeta do anarquismo literal. Eles não sabem o quanto Millôr tem de método, é pra mais de metro! O não-livro de autores anteriores é pouca coisa frente ao sim-livro milloriano-luz; como cê neologisma ludando a palavra, meu antecamarada. Comigo também aconteceu de gostar de textos seus, pois, desde meu início em poesia, a irreverência na escritura era o que mais valia (sim, porque a poesia é capital!) para mim. Escuro que a minha poesia não faz frente à sua, nesse quesito, mas meu caminho ainda rabisco arabescamente. Não o-imito, minto-o muito.

 

Pena que não estou usando o meu “computador primitivo”, o velho amigo lápis, com seu processador de texto e seu deletador originais; hoje, digito este texto com esta máquina ainda um tanto estranha pra um quarentão como eu. Digo isso, porque, antes de ver aquela charge maravilhosa (que estou usando como ilustração desta postagem), eu também pensava assim: meu lápis é o meu primeiro computador, pois com ele fazia o mesmo que esses processadores de antes faziam. E quão alegre foi minha reação ao ver o seu desenho. Coisas de Guru mesmo. Porisso, é que não posso deixar em branco esta página, em que cê pede um poema a quem quer que seja poeta de ocasião, de acontecimentos. Sou-o; assim, suo-o. Paratanto, pego carona no teu texto e faço o que, Mestre, nos-manda no poema de alguns anos e tantos. Lembra? Então, vou puxar seu cérebro (claro que não puxaria outras coisas!) por meio e início (nunca findo) de um meu poema com objetivo de mais o-imortalizar, porque eu fiz as contas: cê é mais vivo do que muita gente junta.

 

Poeminha sem objetivo

 

Me elogia, vai!

Escreve um troço, aí!

Não dói, não; faz de conta

Que eu morri.

 

            Millôr Fernandes

 

Poeseu com Objetiva (A distância é de mil Tons!)

 

 – Millôr é o mió; posta-o!

É só o mii-da-pipoca!

Ê, fulerage da peste!

É o que vejo nessa joça.

            Luiz Filho de Oliveira