[Maria do Rosário Pedreira]

Recentemente, li um interessante artigo na revista Lire, da autoria do escritor Frédéric Beigbeder, intitulado «Editor, um mal necessário». Contava ele que as editoras em todo o mundo se têm afadigado a publicar as versões originais (antes da intervenção do editor) de alguns autores consagrados assim que eles morrem, procurando quiçá relançá-las e fazer mais barulho e dinheiro à volta delas. E constata que, por exemplo no caso de Raymond Carver, o editor foi esse mal necessário que conduziu a um texto mais perfeito, aproveitando o melhor no génio de Carver e desperdiçando o que nem era assim tão bom no autor norte-americano. Beigbeder está, porém, preocupado com o futuro dos editores e observa que os que estão no activo lêem cada vez menos e passam cada vez mais horas em reuniões. Também eu me preocupo com o mesmo e, embora teime em ler – mesmo que por vezes apenas na diagonal – tudo o que enviam, a verdade é que o excesso de reuniões, muitas das quais pouco têm que ver directamente com o que faço, me rouba um tempo imenso à leitura. Neste momento, a minha secretária tem uma pilha de originais em crescimento contínuo que não sei quando vou poder começar a desbastar. E todas as semanas me marcam mais uma reunião. Será apenas outro mal necessário?