HÁ 13 ANOS : 60 ANOS.
Cunha E Silva Filho

                Certas datas de aniversario são importantes como o primeiro ano aniversario, ou a primeira das primaveras, segundo se dizia outrora, a data dos quinze anos, sobretudo das mocinhas que iam debutar em engalanadas festas familiares, dos cinquenta, dos sessenta. Paro aqui porque ainda espero as outras relativas e indeterminadas etapas, Completo 60 anos (estou falando do presente do tempo da escrita do passado, não confundam com a leitura do presente, do agora, do hoje, queridos leitores; Era um sábado porém o dia certo, 7 de dezembro caíra em dia da semana. Todavia, o que realmente vale, leitores, é a intenção, o valor simbólico demarcado.
                  Ou seguir um conselho de minha esposa. Se cheguei a esta idade deve ter sido por vontade divina, Descobriram, ademais, nesta nova fase de vida que a Arte, sem o viver, é incompleta. Já o disseram alguns autores brasileiros ou estrangeiros sobre a relação entre Arte e Vida. Vou, poi, completar a Arte com o viver e viver com alegria, emoção, plenitude, dignidade.
Meu velho e saudoso pai, Cunha e Silva (1905-1990), aos sessenta anos, se tornou poeta não obstante nele a poesia tivesse, segundo ele, brotado das “amarguras da vida.” Não vou me tornar poeta com certeza. Vou, porém, continuar meus estudos literários aliando o prazer do texto ao da análise e do julgamento estético,
                  No muno o que faz sentido poético, ficcional ou dramático é o risco constante do silêncio da letra diante da possibilidade de não alcançar a construção de uma nova obra da criação artística, cujo ponto final só se daria com a nossa passagem do domínio terreno à dimensão do espírito. Claro que sentimos o fluir dos dias e dos anos, Entretanto, a temporalidade é pejada de subjetividade.

                 Eis por que, no nosso particular mundo interior, não nos percebemos, particularmente na esfera da afetividade, do sentimento do amor, por exemplo, numa idade existencialmente definida, demarcada, porque o sentimento do amor ou da paixão, como que obnubila, por momentos ou fases de vida avançada, o fato cronológico da idade. Poder-se-ia afirmar que a nossa velhice está nos outros e não em nós, vítimas que com frequência somos dos rótulos, das discriminações, notadamente entre os mais novos.
                 Uma vez, a minha mãe, uma mulher bonita, me falou que não sentia idosa, sentia-se sempre plenamente remoçada. Meu pai, por sinal, também nunca deixou escapar qualquer resquício de sentimento negativo com a vida de idoso, mesmo chegado aos oitenta anos. Por que essa atitude tão otimista e tão edificante? Porque ela amava a vida, tinha esperança,
Gilberto Freyre (1900-1987), notável sociólogo brasileiro, certa vez, não me lembro bem se em revista m ou entrevista, ou outro veículo de comunicação, a ideia – não sei ao certo se da concepção dele - de um tempo triádico, tempo que para eles somaria o passado, o presente e o futuro, uma espécie de fusão de temporalidades, na qual a sensação resultante seria a de um eterno presente que eu interpretaria como sendo uma forma de não nos apegarmos tão-somente ao passado e de não nos preocuparmos apenas com as apreensões do futuro. Um viver sem as maras rígidas entre passado, presente e futuro, um presente como se fora um todo temporalmente levando em conta.
               Num texto límpido e fascinante do psiquiatra Augusto Cury, num abertura a um capítulo de seu livro Pais brilhantes Professores fascinantes, o autor apresenta o seguinte pensamento: “Se o tempo envelheceu o seu corpo mas não envelheceu a sua emoção, você será sempre feliz”
               Esta emoção não quero perder porquanto não entendo a vida sem a emoção, não entendo a vida sem o choro, as lágrimas vertidas, a sensibilidade, o sentimento da saudade, daquela anoranza e das outras duas assinaladas pelo ensaísta galego Ramón Piñeiro López estudadas no ensaio Pra unha filosofia da saudade, da obra coletiva A saudade (Reconquista, 11 Viggo, Galáxia, 1963 p.11-39): a nostalgia e a arela,
               Estas formas de saudades podem se encontrar nos antigos poetas galegos – berço da saudade, consoante alguns estudiosos, no sentimento da saudade portuguesa, no sentimento do amor em toda a sua variabilidade no campo das afetividades, no sentimento da amizade
Isso não é pieguismo ou sentimentalismo ultrapassado, porém demonstração inequívoca de que alguém se toca diante de fatos e acontecimentos que nos fazem vibrar de alegria, chorar de emoção ou chorar pela dor alheia.

               Por isso, as duas grandes principais formas do teatro, a arte da comédia e a arte da tragédia têm seus fundamentos derivados do riso, do ridículo e da catarse (do grego: purgação purificação), conceito formulado por Aristóteles na Arte poética (IV século a. C.) que lida com os efeitos da culpa e da angústia dos sentimentos e paixões humanos diante de acontecimentos trágicos da peça teatral na qual a queda do protagonista desperta, junto aos espectadores, reações de sentimentos de comiseração e medo ante a cena apresentada.
              Reunindo há 13 anos aqueles bons e fiéis amigos no playground de meu prédio, desejo aqui lhes agradecer pela presença de cada um e pelo carinho das amizades que consegui estreitar pelo tempo afora e circunstâncias diversas. Espero que se sintam à vontade como diriam os ingleses. Obrigado a todos em meu nome e de minha família. Tenho dito.