Guru neoliberal diz que Brasil se saiu bem na crise
Cientista político Francis Fukuyama, pai da teoria do "fim da história", diz que a América Latina se saiu melhor do que os Estados Unidos diante da crise internacional e elogiou o combate às desigualdades; quanto à presidente Dilma Rousseff, Fukuyama disse que ela tem conseguido navegar bem entre estas pressões da sociedade brasileira
¶247 – O cientista político Francis Fukuyama, conhecido por publicar um ensaio sobre o chamado "fim da história", em 1989, está investigando seus marcos zeros. Aos 60 anos, ele se prepara para concluir o segundo número da obra "As Origens da Ordem Política", publicada nos Estados Unidos em 2011. Em entrevista à Folha, o pesquisador sênior da Universidade de Stanford (EUA) diz que América Latina se saiu melhor que os EUA no combate à crise. "As crises de endividamento da América Latina no início dos anos 1980 deixaram um legado de reformas. As políticas monetária e fiscal são gerenciadas hoje com muito mais competência." "A região também se beneficiou com avanços importantes no combate das desigualdades, a começar pela redução do coeficiente Gini [que mede a desigualdade] que aconteceu aí no Brasil." Quanto a presidente Dilma Rousseff, disse que ela tem feito um bom trabalho. "Eu me preocupo com as pressões políticas no Brasil para usar instituições governamentais para manter o nível de emprego. Isso tem levado ao medo de aumento da inflação no país. Mas, de maneira geral, ela tem conseguido navegar bem entre estas pressões", disse. Leia outros trechos: "Todas as instituições políticas tendem a decair com o tempo, inclusive a China contemporânea. Os padrões da decadência são muito semelhantes entre China, Império Otomano ou o Antigo Regime na França." "A decadência política é um problema constante, que todos os regimes enfrentam. As fontes desse problema são duas. A primeira é que instituições são difíceis de serem mudadas. As pessoas querem mantê-las a todo custo, mesmo que as condições externas mudem. A segunda é que, em qualquer sociedade, os ricos e poderosos vão acumular poder com o tempo e usarão seu acesso privilegiado ao sistema político para protegerem a si mesmos." "Nos EUA, tivemos um grau elevado de polarização política que impediu que algumas decisões importantes fossem tomadas." "Há problemas básicos no desenho e na construção da União Europeia, em sua composição e equilíbrio, que levaram diretamente à atual crise. Acho que os problemas são resolvíveis e a atual situação geral não é ruim."