O amigo Jarbas, numa espécie de constatação filosófica, questionava: quem já ouviu candidato ao governo ou ao parlamento, em campanha eleitoral, prometer olhar com bons olhos para a classe média? Eles só dizem que vão cuidar do pobre. E arrematava: e o que se vê? E respondia: a classe média pagando cada vez mais tributos e por todo tipo de descalabro administrativo promovido por governantes demagogos e hipócritas.
     Dona Maria, em pleno horário nobre, ao Jornal Nacional, enfatizava: claro que as coisas mudaram. Antes, os pobres é que roubavam, hoje, são os ricos. Isto, logo depois de ter sido veiculado reportagem em que representantes da Justiça, cientes de que sua decisão não seria cumprida, mandavam a polícia executar mandado de prisão impraticável. Na realidade, isso nem é tão incomum. Quantos de nós não temos conhecimento de indivíduos que se viram obrigados a se esconderem ou fugirem para não serem presos em flagrante e se sujeitarem a uma desnecessária execração pública, por conta de atos ou questões que, por mais que quisessem, não poderiam resolver?
     Mas nem só de frases tonitruantes e de constatações estapafúrdias é feito nosso dia-a-dia. Vidas inteligentes, ainda bem, nos dão ânimo em período de entressafra política. Quem enxerga além do próprio umbigo, certamente se preocupa mais com o que os futuros inquilinos dos Palácios governamentais, os condôminos das Casas legislativas farão por nós depois de escolhidos, do que com o partido ao qual pertencem, seu prato preferido, os livros que leem (ou se os leem). Quem, há muito tempo, não espera que a mesmice leve um tombo ao subir as escadas palacianas e quebre, não só a cara, mas também o pescoço? Missão difícil porque ela é uma grande malabarista.
     Um auto aparte. Preclaros governantes, digníssimos parlamentares, cuidem de transformar em algo melhor a realidade dos que já demonstram desesperança e cansaço com tudo que está posto. Mexam-se, surpreendam a tantos quantos não mais creem que existam homens imbuídos de propósitos que resistam aos dias seguintes à posse eletiva.
     Voltando. Felizmente, alguns indivíduos não perderam o senso de beleza, o prazer de buscar a informação e de compartilhá-la, sem sofismas, às escâncaras.
     Lemos, recentemente, a obra “Humberto de Campos Evocações de uma vida”, da escritora maranhense Amparo Coêlho. Uma beleza. Logo às primeiras linhas, chegamos a uma conclusão: ainda que não valesse a pena pelo conteúdo, fato que não aconteceu, valeria o livro por uma frase lapidar, franciscana, humilde, escrita na Nota Preliminar: “não é fácil escrever sobre a vida de um homem que, escrevendo sobre si mesmo, escreveu tão perfeitamente sobre todos”. E lá foi ela, tentando e conseguindo contradizer-se.
     Também lemos “Isaías Coelho, o Esculápio do Sertão”, do engenheiro simplício-mendense José Mendes. Muito bom. O livro tem o poder de, não somente aos nascidos em Oeiras e, portanto, conterrâneos do grande médico, mas de todos os piauienses, elevar a autoestima. É verdade, querendo ou não, somos bons naquilo que fazemos. E podemos ser melhores, basta que nos proponhamos a executar nossos misteres com senso de justiça, honestidade e desprendimento. Isso vale, inclusive e, principalmente, para os políticos mafrensinos e - por que não? - brasileiros: alguns de vocês ainda têm salvação. Aproveitem o poder de forma eficiente e todos sairemos ganhando. 
                                           Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal e escritor piauiense
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