Folhetim digital da Amazon
Em: 22/09/2012, às 19H20
No século XIX, os folhetins, romances publicados em capítulos nos jornais, ajudaram a popularizar a imprensa e a literatura. Leitores ávidos pela continuação das histórias contribuíram para o aumento das tiragens e autores tornaram-se acessíveis ao grande público. Pois vem aí o folhetim digital. Junto com seus novos modelos do Kindle, a Amazon fez um anúncio que passou despercebido. A empresa disponibilizou para download gratuito os romances “Oliver Twist”e “As aventuras do Sr. Pickwick”, de Charles Dickens, em capítulos, tal como publicados originalmente.
O gesto serve para sinalizar a estratégia de investir nesse tipo de literatura. A gigante dos livros está em busca de autores que queiram investir nos romances seriados, pois acredita que o formato cabe como luva aos dias de hoje. Por dois motivos: a leitura torna-se mais ágil e as ferramentas tecnológicas permitem que leitores participem da história conforme ela vai sendo escrita e publicada, deixando seus comentários. Tal como nos folhetins de outrora, em que os leitores acabavam influenciando o rumo das histórias, escrevendo cartas para os escritores, a ideia é que os autores que se dispuserem a escrever romances digitais recebam um feedback do público por meio dos fóruns de discussão da Amazon.
Existe um terceiro motivo, embora não tenha sido explicitado pela maior livraria virtual do planeta: o formato fideliza o leitor, que mal pode esperar pelos próximos capítulos. No século XIX, a fórmula “continua amanhã” ou “continua em um próximo número” saciava paulatinamente a curiosidade do público, ajudando a impulsionar a venda de jornais e a atrair um novo tipo de leitor, além dos assinantes da alta burguesia. Balzac foi um dos primeiros autores a se aventurar no gênero, que conheceu seu auge com Alexandre Dumas. Em apenas três semanas, o romance fragmentado “Le capitaine Paul” (“O capitão Paulo”) , escrito pelo último, aumentou as vendas do jornal “Le Siècle” ( “O século”) em cinco mil exemplares.
Considerado pela “Forbes”como um escritor de “currículo invejável” e autor de best-sellers como “Alternadad” (“Pai alternativo, em tradução livre), um romance autobiográfico sobre seus esforços para se transformar num pai bacana, e “Stretch” (“Esticando”), livro em que relata de forma bem-humorada sua transformação em um “judeu professor de ioga”, Neal Pollack é um dos autores que já aderiu ao folhetim digital. Seu próximo romance, “Donward-Facing death” (“Encarando a morte”), uma história policial, será publicado em capítulos pela Amazon. Por US$ 1,99, o leitor poderá comprar o livro e ir recebendo os fragmentos conforme eles forem sendo lançados, sem custo adicional. Quando o livro estiver pronto, a Amazon o lançará também nos formatos ebook e impresso. “Eu mal posso esperar para saber como a história vai terminar”, afirma Pollack. Outros sete autores já aderiram ao projeto.
Também na época dos folhetins, os capítulos eram transformados em livro após terem sido concluídos. No Brasil, a Casa de J. Villeneuve, de propriedade do “Jornal do Commercio”, editou diversos deles. Um ano após o início de sua publicação naquele periódico, “O conde de Monte Cristo” foi lançado em dez volumes por aquela editora, em 1846. Como os escritores desse gênero recebiam por linha, invariavelmente a estratégia era esticar a história. Quem quiser ler hoje “O conde de Monte Cristo”, por exemplo, terá que encarar as 1.664 páginas da edição da Zahar. No site da Amazon, as regras para os autores que querem lançar obras seriadas não mencionam o modelo de remumeração, mas espera-se que não seja baseado em número de palavras. No mais, é torcer para que o folhetim digital promova a inclusão de novos leitores tal como o fez seu predecessor impresso.