Fliporto 2012:  riscos e desafios do escritor

 [Dílson Lages – da Fliporto 2012]

OLINDA-PE – Mesa redonda formada pelos escritores Bráulio Tavares, o argentino Hernán Casciari e o editor Carlos Carrenho discutiu os desafios do escritor hoje, durante a Fliporto-2012, que aconteceu de 15 a 18 de novembro em Olinda-PE.

Descrevendo o contexto em que se faz literatura hoje, Bráulio Tavares, que é escritor profissional, conta que, algumas décadas atrás, os escritores “ganhavam a vida” como jornalista, professor ou publicitário. Vivendo sob instabilidade econômica, tornava-se complexo ao autor ganhar dinheiro com livro, uma vez que a inflação consumia os ganhos dos direitos autorais.

Para Bráulio, a partir de 1994, essa realidade se modificou. No bojo dessas mudanças, ocorreu também a americanização da literatura e ganhar dinheiro com literatura se mostrou possível ao  escritor. Atualmente, porém, segundo Tavares, o meio eletrônico ameaça o escritor. “Ele volta à antiga condição: deve escrever desde que tenha outra profissão”, argumenta, justificando que, se tiver outra ocupação, o literato não fica refém das modas.

O cenário é paradoxal. “Estamos voltando a uma época em que muitos escritores vão desistir de ser escritores”, diz. Ao mesmo tempo, “a chegada do mercado digital libertou escritores que não tinham a intenção de se profissionalizar, mas que foram obrigados a isso”. Apesar das mudanças no mercado editorial, para Bráulio,  o propósito do escritor permanece o mesmo: “As mudanças, já em vigor, serão feitas no nível das pessoas. O objetivo do escritor é contribuir para mudar o mundo”.

A AMEAÇA DO LIVRO DIGITAL – Questionado sobre o papel do livro digital, o  argentino Hernán Casciari diz que é necessário entender o assunto como um benefício econômico. “Com o livro digital, poderemos ler livros dos EUA, gastando pouco dinheiro”, defende. “Somos de uma geração que tem saudade do livro tradicional, já a minha filha de 8 anos não terá essa saudade”, completa o argentino. Para Casciari, o formato do livro em papel impresso ainda vai perdurar. “Esses formatos não se excluem e vão conviver bem”, defende.

Hernán vê com “bons olhos” as mudanças no mercado editorial. Ele não crê, porém, em profundas mudanças culturais que afetem o papel do escritor. “Livro é uma coisa; texto, outra. Nós escritores produzimos textos que podem vir em suportes diferentes”, explica, ao enfatizar: “O texto vai passando por encarnações sucessivas e vai se transformando. O que acho interessante é essas tecnologias possibilitarem novas formas de escrever o texto”.

LIVREIROS RESISTIRÃO ÀS MUDANÇAS? – Ao longo das explanações da mesa-redonda, vendedor de livros interrompeu as falas para questionar indiretamente sobre a sua função no novo mercado editorial. O editor Carlo Carrenho, perspicaz, respondeu com precisão: “O vendedor não vai acabar. Sempre precisaremos de alguém que leve o produto ao consumidor. O que teremos é ele vendendo outro produto”.