[Flávio Bittencourt]

Flávio Moreira da Costa reapresentou o conto popular O amigo da onça

Você, comadre Onça, não é o bicho mais valente e destemido que existe do mundo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"Tuesday, November 27, 2007

Dia internacional do amigo da onça

 
"Amigo da onça"
Ó onça
Tu deves ser a única
Que queres os amigos bem longe
És injusta, ingrata
Tu não vês que um amigo
É o melhor que o mundo dá
Mesmo quando pede dinheiro e não paga
Promete fazer e não faz
Promete defender e não cumpre
Jura a pés juntos e jura falso?
Porque pior que os teus amigos
É não ter amigos
Um amigo é sempre alguém
Único e especial
Mesmo quando faz mal
Sem ele é o vazio e o frio
Ó onça!
LC

 
 

ADVERTÊNCIA DA COLUNA "Recontando":

APESAR DE AS ILUSTRAÇÕES A SEGUIR REPRODUZIDAS

SEREM DE FÁBULAS DE ESOPO, A ESTÓRIA DO AMIGO DA ONÇA

NÃO É DAQUELE FABULISTA GREGO, NEM UMA CRIAÇÃO POPULAR

POR ESOPO RECOLHIDA, estando aí por três razões:

1) banalmente, FORAM ENCONTRADAS;

2) nelas, os animais falam;

3) alguns dos animais retratados são sábios

(11 de março de 2011).

 

 

 

 

"(...) As fábulas são pequenas histórias de animais, que transmitem ensinamentos para a vida dos humanos. É por isso que as suas 'personagens' (os animais) possuem o dom da fala, são sábios ou ignorantes, bondosos ou maus, desprendidos ou invejosos, solidários ou indiferentes, sagazes ou estúpidos. E desses curtos enredos retira o fabulista os caminhos 'moralizados' que coloca à disposição da espécie humana. (...)".
 
(ALGUÉM CUJO APELIDO-NO-BLOG É "CAVALEIRO DA TORRE",

 

 

 

O Rato do Campo e o Rato da Cidade
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O Cão na Manjedoura
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A Raposa e as Uvas
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A Rã e o Boi
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A Raposa e a Cegonha

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O Leão Doente
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Gravuras publicadas por McLoughlin Bros., New York
Ilustrador desconhecido
Data - cerca de 1880

 (http://torredahistoriaiberica.blogspot.com/2010/12/as-fabulas-de-esopo.html)

 

 

 

 

 

caça dizimou espécie

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

(http://tvecologica.wordpress.com/2008/10/21/projeto-visa-preservacao-da-onca-pintada/)

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

(http://decaranomuro.blogspot.com/)

 

 

 

 

 

 

"(...)  Nunca vi em minha vida animal de mais perigosa valentia. (...)"

(O LOBO, FALANDO COM A SUA COMADRE ONÇA, REFERINDO-SE AO HOMEM, no trecho da narrativa tradicional, maravilhosa, adiante transcrita na íntegra)

 

 

 

 

 

11.3.2011 - Onça, você é menos valente e destemida do que o homem - O homem faz um estrago tão grande na natureza que pode acabar com você, comadre Onça!  F. A. L. Bittencourt ([email protected])

  

 

 

"Folclore Brasileiro (O Amigo da Onça)rapopular brasileira também tem seu riso próprio, suas boas histórias e seus personagens marcantes. É o caso do Amigo da Onça, que virou a marca registrada do desenhista dehumor Péricles Maranhão na revista Cruzeiro dos anos de 1950. E acabou consagrando-se como uma expressão de uso corrente na nossa língua. Uma das melhores versões desta literatura de origem oral foi registrada por Lindolfo Gomes em 1931, em Contos Populares Brasileiros

A Onça, que é bicho valente – mas nem sempre atilado, como se pensa -, estava quietinha no seu canto quando lhe apareceu o compadre Lobo e lhe foi dizendo:

- Saiba de uma coisa, comadre Onça: você – com perdão da palavra – não é, como supõe, o bicho mais valente e destemido que existe no mundo, nem também o Leão, com toda a sua prosa de rei dos animais.

- Como assim! – gritou a Onça, enfurecida. – Então, como é isso, grande pedaço de idiota? Haverá bicho mais valente e poderoso do que eu?

O Lobo, adoçando a voz, respondeu:

- Ó comadre, me perdoe. Estou arrependido de dizer tal coisa… Mas a minha intenção foi preveni-la contra um “bicho” terrível que apareceu nesta paragem. Uma pessoa prevenida vale por duas.

- Sim, não deixa você de ter alguma razão – acudiu a Onça mais acomodada. Mas sempre quero saber o nome desse bicho. Como se chama?

- Esse bicho, compadre, chama-se “homem”, conforme me disse o amigo papagaio. Nunca vi em minha vida animal de mais perigosa valentia. Ele sim, e ninguém mais, é o que me parece ser mesmo o verdadeiro rei dos animais. Basta dizer que, de longe, o vi matar, com dois espirros, nada menos do que um leão e uma hiena. Ih! Compadre, com o estrondo dos espirros parecia que tudo ia pelos ares. Deus nos livre!

- Oh! Compadre, não me diga!

- É como lhe conto. E o que mais admira é ser o “bicho-homem” de pequeno porte. Parece até fraco, e é muito mal servido de unhas e dentes. Deve ser um “bicho” misterioso e encantado.

- Pois bem, compadre, estou curiosa, e desejo que, sem demora, me conduza ao lugar onde se encontra tão estranho animal.

- Ah, compadre, peça-me tudo, menos isso. Pelos estragos que, de longe, vi o homem fazer, com seus malditos espirros, nunca me atreveria a tal aventura…

- Pois queira ou não queira, tem de mostrar-me o “bicho”, ou então, agora mesmo perderá a vida.

- lá por isso não seja – disse o Lobo amedrontado. – Iremos. Mas havemos de tomar todas as precauções. Eu – com a sua licença – posso correr mais do que a comadre.

Assim, levaremos uma embira daquelas que não arrebentam nunca. Amarro uma das pontas no pescoço da comadre e a outra em minha cintura. Em caso de perigo, se for preciso fugir, a comadre e eu corremos…

- Fugir! Veja lá o que diz! Você já viu, “seu” podrela, alguma vez onça fugir?

- Não me expliquei bem. Eu é que fugirei. A comadre será apenas arrastada por mim. Isso não é fugir. Está certo?

- Está bem. Faremos como propõe.

E partiram. A Onça com a embira atada ao pescoço, e o Lobo, muito respeitoso e tímido, a puxá-la.

Quando chegaram ao destino, o “bicho-homem”, surpreendido ao avistá-los, tirou da cinta a garrucha e, atarantado, bateu fogo, isto é, espirrou. uma, duas vezes, que foi mesmo um estrondo de todos os diabos.

O Lobo então mais que depressa disparou numa corrida desabalada, redobrando quanto podia as forças para arrastar a Onça pela forte embira “que tinha atado no pescoço dela”.

De repente, já muito distante, o Lobo sentiu que a Onça estava mais pesada. Parou então e contemplou a companheira estendida no chão, com os dentes arreganhados, sem o mais leve movimento.

O Lobo, sem perceber que a Onça havia morrido enforcada no laço da embira – antes pensando que estivesse apenas cansada -. disse-lhe, tremendo como varas verdes:

- He lá, comadre! Não ri não que o negócio é sério!

 

Fonte:
COSTA, Flávio Moreira da (organizador). Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal. 5.ed. RJ: Ediouro, 2001".

(http://singrandohorizontes.wordpress.com/2009/06/14/folclore-brasileiro-o-amigo-da-onca/)

 

 

 

 

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LAÍS DUARTE ESCREVE SOBRE

A AMIGA DA ONÇA

Revista Brasileiros, Edição nº 13 (AGO. / 2008), Seção "Profissão"

 

"Amiga da onça

Pesquisadora brasileira dedica sua vida a conscientizar os caçadores e a cuidar para que a onça-pintada do Pantanal não seja extinta

por Laís Duarte

 

Trabalho cuidadoso: Após dopar e colocar uma coleira com GPS no animal, Sandra espera que ele volte da anestesia e reconheça o novo acessório.

SANDRA CAVALCANTI

 

Povo pantaneiro acorda antes do sol. Com as curicacas cantando na janela, às 5 horas da madrugada, Sandra Cavalcanti já está de pé, com os longos cabelos loiros trançados, cavalos arreados e equipe a postos. Gosta de ver o dia clarear no mato. Escolha própria, feita por prazer. Os oito cachorros onceiros da comitiva apuram o faro nas trilhas encharcadas. No caminho, começam a latir, "barruar", como se diz no linguajar local. É o sinal de que "levantaram" a onça-pintada, isto é, acuaram o felino e o obrigaram a subir em uma árvore. Os pesquisadores se aproximam olhando para cima, pois sabem os riscos de ter um gato de mais de 120 quilos sobre suas cabeças. É preciso agilidade para preparar o dardo com anestésico e a pontaria.

Aos poucos, a onça perde as forças e cai desacordada. Sandra, então, colhe sangue, mede o tamanho das presas, das patas. Deitado no chão, o animal recebe um nome e um colar. Passa a desfilar pela maior planície alagável do planeta com um radiotransmissor e um GPS (aparelho de localização) presos ao pescoço. Em silêncio, a cientista espera que o bicho volte da anestesia, reconheça o novo adereço e siga seu rumo no verde da vegetação. Numa dessas caçadas, a onça saltou para o chão. Mesmo sedada, não se intimidou com os cachorros, que partiram para cima do felino. Sem pensar, Sandra reagiu. Teve medo que eles machucassem o animal já grogue por causa do remédio. Um a um, ela levantou os cães e jogou-os para os peões detrás das árvores. "Eu tirei todos os cachorros de perto dela, precisava defender o bicho. Depois, tomei uma bronca do caçador que me acompanhava", relata.

Na adrenalina das caçadas científicas, a pesquisadora já perdeu um cachorro para a onça, outro morreu "soleado", cansado de andar sob o sol quente, segundo definição dos sul-matogrossenses. Muitos acumulam cicatrizes, "acidentes de trabalho", provas das garras afiadas do rival. Ela mantém intacta a pele alva, talvez por isso afirme com convicção não temer a fera. "Tenho mais medo de ficar parada no semáforo em São Paulo. A onça eu sei que só vai me atacar se estiver acuada ou em cima de uma carcaça." A intimidade com a Panthera onca, ou onça-pintada, como é popularmente conhecida, dura anos a fio. O animal ameaçado de extinção se exibe com freqüência para Sandra: são mais de 40 capturas e recapturas.

Enquanto a onça bebe água
Nascida em São Paulo, a amiga da onça é a mais velha de duas irmãs. O pai era pernambucano, com vocação para a aventura - teve barcos, jipes, ultraleves. A mãe, descendente de espanhóis. Foi dela que a menina da cidade grande herdou a paixão pelo mato. "Minha mãe dirigia um fusca laranja. Nos finais de semana colocava minha irmã, Silvia, e eu, no carro, e pegava a estrada. Íamos acampar em praias desertas", lembra com saudades. Sandra sempre achou que, para morar no mato, era preciso conhecer plantas. E para conhecer plantas era preciso cursar agronomia.

Na faculdade, a adolescente estudava ovelhas, suínos e, no vai-e-vem das páginas dos livros, interessou-se pelos jacarés. Predisposta a abraçar o novo, fez estágio na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e deparou-se ali com o talento para a ciência. "Jacarés adultos eram capturados com laços. Os filhotes, com a mão, mas os médios eram difíceis de pegar. Bolar armadilhas especiais era um desafio num ambiente em que eu me sentia em casa." E era para casa, o mato, que ela voltava quando sobrava tempo. Em uma viagem a Foz do Iguaçu, aos pés das cataratas, Sandra descobriu em um homem o próprio caminho. Era Peter Crawshaw, sujeito risonho que, apesar do nome e dos olhos azuis, é bem brasileiro. Em mais de 30 anos de estudos, Crawshaw tornou-se referência na conservação das onças no Brasil. A experiência dele encantou a estudante, que por lá ficou atuando como assistente.

Quando Peter viajava, Sandra entrava sozinha na floresta para checar as armadilhas. Provou estar à vontade com lobos-do-mato, sussuaranas, jaguatiricas e foi contratada. O chefe virou amigo e hoje confessa que reconheceu na ajudante a seriedade necessária para a pesquisa no Parque Nacional do Iguaçu. "Nunca me esqueço quando ela pegou o seu primeiro berne, na cabeça, e como conversava com ele, descrevendo o que sentia quando ele se mexia", diverte-se Crawshaw. Sandra só deixou o parque e o amigo ao engatar um namoro com um médico "importado". O pretendente enviou do estrangeiro uma passagem e um pedido de casamento. Ela seguiu, então, para os Estados Unidos. A temporada em terras americanas, no estado de Utah, rendeu-lhe um mestrado. A brasileira analisou ataques de coiotes ao rebanho de ovelhas, mas a onça não lhe saía da cabeça. "Por que a onça? É um predador fascinante, místico, forte. No passado, nós já fomos presas desses animais", esclarece.

No rastro da onça
Anos depois, já de volta ao Brasil, com diploma e sem marido, Sandra sonhava pôr em prática aqui a teoria aprendida lá fora. Membro do Instituto Pró-Carnívoros, ONG que atua na conservação dos predadores, ela criou um projeto para preservação das pintadas no sul do Pantanal. Trabalharia com a espécie preferida e, de quebra, reuniria dados para o doutorado. Mas sua estréia no Pantanal não foi das melhores. No momento de conhecer os peões da fazenda sede da pesquisa, a exímia amazona perdeu a linha. "Minha égua pisou em um jacaré, assustou-se, empinou e eu caí na água. Fiquei lá, no chão, na frente de todos. Foi meu batismo", relembra. Ali, Sandra deu de cara com as maiores barreiras para o projeto: o preconceito e o machismo. O Pantanal é terra de homens, e homens para lá de conservadores. Tão duro quanto capturar a onça era achar um peão disposto a receber ordens de uma mulher. "Eu ouvia eles dizerem 'não vai dar certo essa mulher aqui'."

Em 2000, as águas de março já haviam fechado a estação das cheias quando o primeiro animal foi capturado e passou a ter os passos monitorados pelos sinais do transmissor. Os dados sobre a vida, alimentação e reprodução revelavam os hábitos da espécie e engrossavam o volume de informações essenciais para a tese. Já com o estudo encaminhado ela voltou à universidade nos Estados Unidos. Foram meses provando aos acadêmicos americanos que era possível preservar a onça-pintada e manter a pecuária na mesma propriedade. No retorno ao Brasil e ao campo, veio o revés: Sandra procurou o felino, mas o bip indicava que ele estava morto. Pela localização do GPS a pesquisadora chegou ao colar, escondido sob a relva. Desesperada, saiu pelo mato e encontrou a cabeça do bicho enterrada em um canto qualquer dos 45 mil hectares da fazenda, ainda com a bala cravada sob a pele. Quem abateu a pintada não imaginava estar cutucando onça com vara curta - nesse caso, a própria Sandra.

Com ordem do dono das terras, o administrador reuniu os peões. Sandra controlou as lágrimas, as pernas bambas, o coração aflito e enfrentou os homens. "Na hora em que mostrei o colar e o crânio do animal eles viram que eu não estava de brincadeira. Entenderam que eu sabia andar nas matas, que era uma cientista séria." Alguns empregados pediram de volta a confiança dela, outros se calaram frente à comprovação do crime. No fim, todos se deixaram seduzir pelos conhecimentos da "moça loira da onça". Após a lida na roça, gostavam de ouvi-la explicar como funcionava o equipamento e como ela sabia onde estavam os bichos encoleirados. Viram que problemas com o manejo do gado, cobras ou doenças matam mais do que a fera no Pantanal.

O pulo da gata
A boiada se espalha pelos pastos encharcados há mais de dois séculos. A caça à onça-pintada é ainda mais antiga, mas, mesmo proibida por lei, nunca caiu em desuso pelos confins do Brasil. A desculpa de muitos fazendeiros para "desonçar" as terras é que o predador causa prejuízo ao se alimentar dos bois. Segundo Sandra, o conflito vai além da questão econômica. Para os pantaneiros, matar a espécie mais temida da floresta dá status. É prova da "macheza do cabra". "Catequizar" os caçadores nos santos dogmas da conservação, transformando-os em capturadores, é outra bandeira que a cientista carrega no lombo do cavalo. Ela aproveita a experiência deles para dar de cara com o bicho. Em vez de matar, eles atiram o dardo com anestésico, miram a favor da ciência e contra a extinção. "Os caçadores caçam com ou sem a gente. Comigo no campo, eles têm a oportunidade de ver o outro lado", justifica ela.

O Pantanal deu a Sandra paixões muito além da onça. Num lugar inóspito para mulheres, ela conheceu Antônio Porfírio, o Paraná, um peão que deixou a família aos 13 anos para cruzar o País. Foi atração à primeira vista. Por zelo e timidez, a cientista permitiu-se namorar escondido, como uma adolescente. Durante dois anos, a relação bucólica permaneceu secreta. "Eu achei que seria corriqueiro, que estava com o Tarzan e isso não daria em nada", diverte-se. Ledo engano. O caso tornou-se sério e a saída foi assumir o romance. Sandra confessa que teve receio de como a família e os amigos receberiam a notícia de que a doutora respeitada no Brasil e no exterior estava com um peão. "No Natal, fomos a São Paulo. Eu avisei a todos que ele era uma pessoa simples. Mas para minha surpresa, ele comeu até com guardanapo no colo."

Hoje, Sandra reconhece que aprende com o marido o que a academia não ensina: as lições da escola da vida. "Eu já namorei um alpinista que escalou o Everest, um doutor formado na Universidade de Cambrigde, mas me casei com um peão que é o meu maior companheiro", derrete-se. E foi na companhia dele que ela embarcou pela última vez para Utah. Era tempo de defender o doutorado concluído na árdua labuta da roça. Desde então, orgulha-se de contar que, sem falar inglês, o legítimo cowboy das terras quentes do Pantanal adotou como ofício a construção de casas, na neve. E ainda assumiu jornada dupla quando a esposa, aos 38 anos, deu à luz o primeiro filho. Na hora do parto, a mãe durona, caçadora de onças, pediu arrego. "Ela me ligou chorando, com medo de não conseguir dividir-se entre as pintadas e o bebê", diz a irmã Silvia.

Lambendo a cria
O menino nasceu forte em solo estrangeiro e, nessa condição, foi batizado para manter laços com a própria origem: Nick Cavalcanti Porfírio. Junto com os pais veio ao Brasil para começar vida nova. Sandra e Paraná agora iniciam o estudo para preservação das onças-pintadas em uma área de mais de 100 mil hectares, a 240 quilômetros de Cuiabá, pela Panthera, uma ONG americana. O filho, com dois anos incompletos, mal fala, mas conhece de perto tatus, quatis e, claro, onça. Sandra sonha ensinar às futuras gerações que é possível produzir sem destruir. Espera dar a Nick o mesmo que a mamãe onça dá aos filhotes: liberdade para traçar caminhos. "Quero que ele escolha a profissão que quiser, desde que a ame tanto quanto eu amo as onças-pintadas."

O casal e seu rebento seguem unidos no prazer de admirar o equilíbrio entre a cheia e a seca no Pantanal na caminhonete adaptada com um buraco no teto para facilitar a escuta dos bichos. "Me pergunto se sou maluca de levar um bebê para um lugar a três horas da cidade mais próxima. Mas maluco é quem não vive o próprio sonho. Minha família diz que eu poderia ganhar mais dinheiro como consultora em São Paulo, mas eu vivo uma aventura diária." Sandra adora o que faz e dá muito valor à liberdade de fazer só aquilo que gosta. Quer continuar com onças ao alcance dos olhos e ouvidos abertos para o canto das curicacas na janela. Sempre antes do amanhecer".